A autossabotagem que assombra

Amanda Lira
Ladies That UX PT
Published in
3 min readJun 24, 2020

Crises no meio da crise

Photo by Nathan Dumlao on Unsplash

Autoestima sempre foi algo muito delicado na minha vida. Desde adolescente a baixa autoestima e a autodepreciação me atrapalha, mas com o amadurecimento aprendi a controlar e contornar da melhor maneira, evitando que as outras pessoas percebam. E no que diz respeito à aparência física, no momento estou muito bem, há dias com altos e baixos, mas normal de qualquer mulher de 25 anos.

A questão que ainda não aprendi a lidar é a autoestima intelectual, a autossabotagem e a falta de crença em mim mesma. Claro que assim como a autoestima física, tem altos e baixos, mas é algo que interfere muito mais na minha vida, principalmente quando entra no ambiente profissional.

Há pouco mais de um ano eu decidi deixar para trás a fase de redatora de agência que abracei desde antes de terminar a faculdade de jornalismo, e mergulhar de cabeça no design de usabilidade, criar conteúdo para o usuário, me permitir voltar aos bancos de faculdade e livros técnicos. Foi uma enxurrada de informações e, ao mesmo que eu ficava deslumbrada com cada descoberta, minha cabeça parecia estar entrando embaixo de um tanque de água, aumentando a pressão gradativamente, prestes a explodir.

O início foi um misto de sentimentos, falta de confiança e medo. Quando consegui minha primeira oportunidade como uma UX Writer oficialmente, reconquistei minha confiança, troquei experiências com profissionais incríveis e o que aprendia na teoria, tinha a chance de colocar em prática. Mesmo depois que a pandemia surgiu e o caos tomou conta do mundo inteiro, estava confiante de que mesmo perdendo o emprego, me manteria firme e forte, estudando e preparada para mais desafios.

Acontece que a mente é uma máquina extremamente traiçoeira e, quando você acha que uma fase nunca mais voltará, é surpreendida e quando percebe já está no limbo da dúvida e da autossabotagem novamente.

Ver nas redes sociais pessoas próximas a mim estabilizadas em suas carreiras, fazendo projetos comunitários, criando conteúdos para auxiliar outros recém chegados na área, colegas de curso que desenvolvem projetos incríveis. Diversos “não” ou “infelizmente não deu match conosco”, a falta de coragem de sair da cama, os livros acumulando no canto do quarto. Tudo isso me trouxe de volta para a fase de que nada vai evoluir, que é melhor eu desistir de tentar e aceitar qualquer coisa mais ou menos que surgir e ter pelo menos alguma ocupação.

Os dias ruins começam a ser mais frequentes do que os bons. A falta de ânimo, tristeza e frustração é facilmente confundível com preguiça. Mas só quem não consegue ter forças nem de terminar um capítulo de qualquer livro, ou de levantar para preparar o próprio café, sabe como é.

Mas o que eu quero com esse texto? Desanimar ainda mais quem está na mesma situação? Não.

Eu quero que, assim como eu gostaria de ler nesse momento, as pessoas que também perderam o emprego e que tem baixa autoestima intelectual, que duvidam da sua própria capacidade e que sentem dificuldades cada dia maiores de fazer atividades simples por não ver sentido nenhum nelas, se sintam abraçadas e saibam que é um momento ruim. Sim, sabemos que o mundo está caótico, a cada dia uma notícia que tira ainda mais o ânimo e a vontade de recomeçar cai para zero. Mas saiba que além de você e de mim, outras dezenas (talvez milhares?) de mulheres também estão assim, por mais que as fotos das redes sociais digam o contrário ou as postagens naquela rede profissional e competitiva sejam positivas e de incentivo.

Todas somos capazes e acho que falar sobre esses momentos difíceis também é importante. Ninguém está conseguindo ser produtiva todos os dias da semana, surtar e querer ficar na cama assistindo qualquer coisa na TV enquanto toma um chá também faz parte do processo. Eu ainda meço muito a minha vida pela régua alheia, comparo minha jornada com outras e me pergunto porque também não fui capaz de tais feitos na vida. Mas é errado e eu sei plenamente disso. E se você faz a mesma coisa, fica aqui meu recado de que estamos no mesmo barco, vamos conseguir sair dessa, mas não são dias de sol e músicas felizes sempre, um dia nublado e cinza também faz bem.

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