Educação Permanente, Continuada e UX Designer Junior
Nos meus primeiros seis meses trabalhando como UX researcher, pude notar semelhanças muito fortes com o processo de educação permanente. Mas, primeiro, quero que você entenda que educação permanente não quer dizer apenas um processo contínuo de aprendizado; é muito mais amplo.
No sistema de saúde público brasileiro, existe a Política Nacional de Educação Permanente que tem como ponto de partida que o aprendizado acontece a partir do próprio processo de trabalho. Os problemas são identificados e a ênfase na resolução se dá preferencialmente por meio de supervisão dialogada e oficinas de trabalho. É a partir do contexto do trabalho que o conhecimento vai se conformando, de forma dialogada dentro do time. Parece familiar, não?
Paulo Freire dizia que o processo de produção de saber é de produção de conhecimento e não de transferência de conhecimento. É uma via de mão dupla. Nessa lógica, na educação permanente o “aprendiz” constrói e reconstrói o conhecimento a partir do que faz na interação com o trabalho e com quem trabalha.
Por outro lado, a educação continuada pode ser definida como aquela mais técnica, aquilo que se aprende formalmente em um curso de forma aplicada. É um tipo de conhecimento essencial que compõe a caixa de ferramentas dos profissionais. Em UX research seria, por exemplo, saber técnicas de elaboração e condução de entrevistas, aplicação de metodologias quantitativas ou qualitativas.
Como UX researcher junior em transição de uma carreira sênior nas Ciências Sociais, posso dizer que comecei a atuar como UX com uma caixa de ferramentas bem munida; pude comprovar uma educação continuada sólida por meio dos diplomas e estrelinhas. Mas, com toda segurança, é por meio da educação permanente que consigo reconhecer meu progresso dentro da nova profissão. São nitidamente os desafios diários, erros, acertos, observação de outros profissionais que fazem meu conhecimento evoluir. Picasso brilhantemente disse, sobre o processo de aprendizado:
“Então, como você ensina algo novo a eles? Misturando o que sabem com o que não sabem. Então, quando eles veem vagamente em seu nevoeiro algo que reconhecem, eles pensam: ‘Ah, eu sei disso’. (tradução livre).
Nesse “misturar” se encontram os profissionais juniores e os mais experientes. Nas interações acontecem as trocas de conhecimento, o saber fazer vai se compondo e quando se dá conta, a bagagem de conhecimento do junior vai crescendo. Por isso, é perspicaz a empresa que não tem medo de contratar juniores; que tem a visão mais ampla do processo de aprendizado e entende que adquirir o conhecimento na e sobre a realidade específica da empresa é valioso demais e nenhuma educação continuada, curso B ou C é capaz de ensinar.