Era uma vez…

o dia que me apaixonei pelo UX…!

Luisa Brandt
Ladies That UX PT
6 min readAug 30, 2019

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Ilustração por Luisa Brandt.

Desde que me entendo por gente sou uma grande entusiasta ao aprendizado, "vira e mexe" estou num curso, numa oficina, num workshop, numa palestra em pleno sábado de sol. E foi assim que numa dessas "mexidas" da vida encontrei o UX e me apaixonei (ai, ai…!)

Esse texto não é uma "auto-rasgação" de seda sobre minhas histórias, não sou dessas! Mas para introduzir o conteúdo que prosseguirá nas próximas linhas e contextualiza-los ao longo desse artigo nada linear, resolvi começar pelo "Era uma vez" — sempre funciona.

Era uma vez, uma estudante universitária do curso de licenciatura em Artes Plásticas em fase de projeto de monografia (também conhecido como TCC — trabalho de conclusão de curso). O ano era 2006, a cidade era Brasília, e a estudante era eu: autora que vos fala, porém, num corpo de 23 anos e cheia de sonhos! Naquela época eu era apaixonada por projetos de arte-educação (aliás foi por meio destes que iniciei minha carreira profissional) e não "me via" fazendo outra coisa diferente daquele tema como TCC para poder pegar o diploma e honrar minha futura profissão.

Naquele então meu objetivo era desmistificar o espaço redundante da sala de aula formatada num espaço quadrado, com mesas e cadeiras para os alunos se sentarem (em Brasília chamamos esse conjunto de mesas e cadeiras de "carteiras"), um lugar destinado ao professor(a) e o queridinho (by the way, o grande culpado pelo nascimento da suada pesquisa ): O Quadro Negro!

Após a adrenalina daquele momento apocalíptico (vulgo: "eu consegui entregar a minha primeira tese!"), peguei meu diploma, me formei e lá se foram 13 anos. Com o passar do tempo também se foram boa parte do meu romantismo de outrora com a carreira, a profissão e a missão de ser "alguém" promissor.

De fato, a vida de estudante é maravilhosa, mas nem sempre te leva ao mundo real, e, portanto, devido às circunstâncias da vida real que assola os adultos — sim, nesse momento do texto já estamos situados no presente, ano 2019 — que um belo dia num almoço com uma grande amiga, fui apresentada ao UX (user experience) — desculpe desapontar aos que pensaram que UX fosse uma pessoa!

Durante nossa conversa, entre desabafos e garfadas, confessei à Rachel meu interesse pela redação. Comentei sobre vagas de trabalho que já havia visto que me levavam à magnífica curiosidade do meu "eu": aquela pessoa que gosta dos cursos e palestras, lembram? É… vejam vocês como o mundo deu uma baita volta e me trouxe a uma situação nada esperada; e foi nesse instante que minha amiga disse: Luisa, pesquise sobre UX Writing!

Pesquisei sobre o tema ao chegar em casa e catabummmm senti que tudo na minha vida fazia um sentido maior: meu TCC, O Quadro Negro e o UX Writing — tomei várias xícaras de café para digerir aquela catarse que estava acontecendo, "googlei" todos os conteúdos possíveis, fiquei a mil e é claro, dividi o assunto com as pessoas mais próximas, pois eu precisava de aliados!

Logo após algumas leituras sobre o Writing fui instigada a conhecer o UX de maneira mais completa para então depois esmiuçar o UI (user interface) e o Writing ("a escrita do UX"), de fato. Li artigos no Medium, comprei cursos da Udemy (UX & Designing Thinking: Experiência do Usuário nos Negócios, por Leandro Rezende), fui a palestras e tumdumpshhhhhessa onomatopeia de som de pratos de bateria foi usada para ilustrar que: deu Match!

Gráfico Ilustrado por Luisa Brandt.

Procurei minha antiga pesquisa sobre o quadro negro, cujo título era O Quadro Negro: a poética em sala de aula; reli meu próprio trabalho e fui instigada a refletir o espaço da sala de aula mais uma vez. Eis "UX da questão": desde aquele TCC eu já estava tentando resolver um problemão pois havia tido experiências enquanto estagiária e aquilo me provocava muito. Criei uma "equação" para o problema e foi ela que enredou toda a tese: A Sala de aula existe. A sala de aula está para o professor que está para os seus alunos. Os alunos estão para o professor e para o quadro negro. O quadro negro está para o professor que está para ele também e para a sala de aula com os alunos. A sala de aula existe. O quadro negro a delimita. E após traçar o desafio, desenhei o gráfico acima para representar a sala, seus elementos e suas vias de intersecção e iniciei a decupar a jornada:

Por meio de gráficos as situações que ocorrem dentro ou fora da sala de aula serão ilustradas e interpretadas neste trabalho à luz das reflexões acerca de teorias construtivistas de Lev Semionovitch Vygotsky (1896–1934)e do signo lingüístico de Charles Sanders Peirce (1839–1914) (…) O quadro negro é analisado como a superfície em que se inscrevem as palavras e as imagens que resultam em significações, as quais se completam com a presença do professor que é o mentor (suporte significativo) em sala de aula — responsável pela articulação das ideias e pensamentos dos alunos e que intermedia o entendimento do aluno interceptado pelo conteúdo analisado no quadro negro.

A prática pedagógica na sala de aula de Artes Visuais deve relacionar os elementos que nela existem ao hábito de observar e interpretar tudo o que se vê (ou se imagina). Por esse motivo, o quadro negro sendo o objeto com o qual o aluno tem o primeiro contato visual (ou imaginativo), é tão importante nesta aula pois é por meio deste que o aluno interage com o seu próprio pensamento, seja por meio das imagens ou por meio das palavras que surgem no quadro durante a aula, tanto as elaboradas pelo professor quanto as elaboradas por ele e / ou seus colegas.

Ilustração por Luisa Brandt.

Visto isso, ou melhor, revisto isso, percebi que a lógica do UX é totalmente plausível ao meu interesse por esmiuçar problemas, desde as premissas, passando pela ideação de personas descobertas desde suas storytellings, entendendo o usuário em suas entrelinhas e blueprints, captando quem são os stakeholders, rabiscando frames resolutivos… enxergando além do raio-x pra relatar um bom future press release, oferecendo uma lightning talk a fim de corroborar dúvidas, lançar-se nas métricas, e por aí vai…

Percebi que meu desejo daquela época de estudante não era tão inocente assim: é real a necessidade de mudança no ambiente da sala de aula — e seus elementos chave — para o avanço no aprendizado desde quando escrevi o TCC até os dias de hoje. O aluno que entende seu lugar de fala dentro de um espaço educativo, que compreende O Quadro Negro como suporte interligado ao professor, e que, por sua vez, entende este como mentor de comunicação daquele ambiente; só tende a crescer em conhecimento.

É real a necessidade de entender o problema dos usuários, entender o problema a ser resolvido. A minha paixão se deu no instante que descobri no UX o alicerce pros meus pensamentos mais intrínsecos, pros meus tantos porquês, minhas tantas tardes de sol assistindo palestras em busca de respostas… A minha experiência acadêmica deixou de ser uma mera recordação de uma luta voraz por um diploma, agora o "fio da meada" se destilou e está em minhas mãos, e eu quero resolver os problemas que me forem apresentados, nem que eu precise escrever várias teses sobre isso e compará-las depois…

A vida é um eterno problema condensado em ciclos…e se apaixonar duas vezes pelo mesmo caos pode valer bastante a pena!

E foi assim que se deu meu caso de amor…

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