Ladies That UX Florianópolis: atuando na maturidade de UX da cidade
A origem do programa de voluntariado que chegou a 47 voluntárias em menos de 2 anos
Contexto
A Ladies That UX é uma iniciativa global feita pela comunidade e para a comunidade. Informal e amigável, tem o objetivo de melhorar e aumentar a participação feminina no mercado de UX e tecnologia por meio da representatividade, apoio mútuo, encorajamento e inspiração.
A organização é dividida por capítulos que representam suas cidades. Hoje, está presente em mais de 80 cidades pelo mundo, espalhadas pela Europa, Ásia, África e Américas. Cada cidade conta com sua própria dinâmica e agenda de acordo com as necessidades do público na região, com o desenvolvimento e a maturidade em UX, mas em geral, meetups, painéis de discussão e encontros de bate-papo são as principais atividades. A ideia é proporcionar uma atmosfera descontraída e livre de preconceitos, para que as pessoas se sintam confortáveis e à vontade para compartilhar suas dúvidas e perspectivas.
Origem em Florianópolis
A LTUX Florianópolis foi o segundo capítulo brasileiro da organização, fundado no final de maio de 2019 através das chapter leaders Hannane Cherifi e Rafaela Cardoso. Na sequência, Flávia Tavares se juntou a nós e permaneceu até junho de 2020, passando o bastão para Amanda Silva, outra mulher dedicada e empenhada com a nossa causa.
Hoje, enquanto chapter leaders, temos como missão organizar o capítulo e, para isso, definimos estratégias de crescimento e aumento da relevância da comunidade na cidade, além da promoção de mulheres reais no mercado de trabalho. Essa função tem como pano de fundo um conhecimento amplo em áreas como publicidade, design, arquitetura, gestão de projetos e de mídias. Somado a isso, temos o ímpeto de difundir os valores da comunidade e influenciar positivamente cada mulher que conseguirmos alcançar.
Quando fizemos nosso primeiro evento, ainda que não tivéssemos nenhuma voluntária e a LTUX não fosse conhecida na cidade, as vagas foram preenchidas rapidamente. Este foi um ótimo feedback, porque revelou a urgência da existência da comunidade.
Primeiras voluntárias
Em novembro de 2019, depois de três eventos realizados, entendemos que seria o momento de aceitar voluntárias. Para ajudar na organização destes eventos, passamos a contar com Samanta Oliveira, que já tinha experiência na área. Todos os assuntos referentes à lotação, datas, coffee break e tudo relacionado, era ela quem lidava. Com a estruturação dos eventos consolidada, foi chegada a hora de pensar no pós-evento. Renata Feitosa chegou para editar nossos vídeos e nos auxiliar na divulgação do capítulo nas redes.
O capítulo amadureceu e identificamos a necessidade de ter uma reserva financeira para eventos e eventuais imprevistos. Foi quando Nailana Lopes entrou para o time, ficando encarregada de levantar orçamentos de produtos que poderíamos vender ao público para gerar caixa. Quando a Ana Carolina Lima chegou, ficou encarregada de fazer os textos das publicações de redes sociais e, logo em seguida, teve ajuda da Giulia Wendhausen para fazer a parte gráfica e organizar todos os conteúdos incríveis que estávamos ansiosas para compartilhar com as nossas ladies. Acreditamos que estes conteúdos sejam imprescindíveis para a nossa comunidade, visto que somos apenas 39% dos profissionais de UX no Brasil*.
Os três pilares da LTUX FLN
Até aquele momento nosso foco sempre foi nos eventos presenciais. Quando a pandemia bateu à nossa porta, tivemos que pensar de forma estratégica e estruturar melhor os nossos objetivos. Com a chegada da Amanda Silva no time de chapter leaders, passamos a nos planejar como uma empresa, com missão, visão e valores descritos abaixo:
■ Missão: Servir de elo entre o público feminino, empresas e conteúdo, promovendo a diversificação de profissionais de UX Design.
■ Visão: Tornar-se o ponto focal do mercado de Florianópolis nas buscas por profissionais mulheres de UX Design.
■ Valores: Comprometimento, valorização de profissionais locais, proatividade, sororidade.
Entendemos que um possível caminho para chegar ao objetivo da nossa visão seria através do próprio processo de UX. Para incentivar, promover e manter mulheres neste mercado não bastava apenas focar nelas, seria necessário estudar todo o mercado da cidade. Afinal, como você incentiva uma pessoa a entrar na área se não existem vagas abertas para iniciantes? Como você promove mulheres na área se as empresas não dão espaço para crescimento? E, por fim, como manter mulheres na área se elas não tem uma rede de apoio e representatividade?
Pensando nisso, percebemos que nossos pontos de contato como capítulo eram três: público, palestrantes e empresas. Cada um desses pontos de contato precisava ter uma experiência ideal de acordo com as suas necessidades e as do capítulo.
Os times de voluntárias foram criados, portanto, para alcançar as experiências ideais de cada uma dessas vertentes:
■ Time de empresas: Mapear como podemos melhorar nosso contato com as empresas aqui de Florianópolis.
■ Time de palestrantes: Planejar e cuidar da experiência das nossas palestrantes em suas jornadas, desde o primeiro contato até a pós-participação.
■ Time de público: Conhecer mais a fundo nosso público para elaborar experiências que atendam suas necessidades.
Além disso, notamos que, fora os três pilares mencionados, havia um outro que os unia: comunicação. Esse se tornaria, então, o núcleo das três vertentes, uma vez que os conteúdos produzidos por todos os times são transmitidos através das nossas ferramentas de comunicação.
O que também contribuiu para a formação do time foi o entendimento sobre como o público consumidor de conteúdo e o público frequentador de eventos era distinto — principalmente por conta da pandemia. Mais de 20% do nosso público de redes sociais pertenciam a outras cidades.
A partir de agosto de 2020, já com 12 voluntárias, passamos a criar desafios mensais de UX com sincronia entre os times. Dessa forma, não só construiríamos meios de alcançar cada objetivo, mas ao mesmo tempo ofertaríamos a mulheres de diferentes senioridades e áreas uma oportunidade de ensinar e aprender UX na prática.
Fases de pesquisa
Nossas reuniões com todas as voluntárias eram mensais e, nelas, cada time deveria apresentar os resultados do desafio proposto no mês anterior. A primeira etapa se constituiu em pesquisar e definir o público alvo de cada time.
Cada time tinha liberdade para definir de que forma realizariam essas entregas mensais. Muitas dividiram a entrega em pequenas tarefas individuais, outras realizaram reuniões nos horários em comum. A única constante entre os grupos era a instrução sobre o tema, que ficava gravada para eventuais consultas, além da disponibilidade das chapter leaders para dúvidas.
A próxima etapa a ser realizada era a de montar um mapa de jornada do usuário baseado em hipótese. Tendo como base a pesquisa inicial que elas realizaram, foi instruído que identificassem atores, cenários, ações, sentimentos e oportunidades de um segmento desse público alvo. A princípio pedimos que todas utilizassem o mesmo modelo de jornada para que o foco fosse no conteúdo, já que ele seria (in)validado futuramente. O modelo utilizado foi baseado no curso de User Journey Mapping oferecido pela Product Arena e ministrado pela Paola Sales.
Com a pesquisa de público alvo realizada e uma primeira versão do mapa da jornada de usuário de cada ponto de contato, a próxima etapa era validar o conteúdo dessa jornada. Para isso, as voluntárias tiveram que montar um roteiro de entrevista com perguntas que, além de não induzirem a uma resposta enviesada, deveriam validar ou invalidar as ações e sentimentos de cada etapa. Nessa mesma entrega, outro objetivo era selecionar e entrevistar no mínimo 5 pessoas de cada perfil identificado.
É importante ressaltar que o perfil de voluntárias não era composto só por ladies que tinham experiência na área. A maioria estava em processo de migração de carreira e o objetivo disso era realmente fazer cada etapa sem se preocupar com erros. A cada entrega, o processo evoluía através da troca de experiências e feedbacks. Quando acontecia de recebermos novas voluntárias, as mesmas eram direcionadas para um dos quatro times. A partir deste momento, elas não apenas eram informadas sobre tudo que já tinha sido realizado até aquele ponto, como o que deveriam fazer dali pra frente.
Em novembro de 2020, neste momento já com 20 voluntárias, passamos para a etapa de validação do mapa de jornada de usuário criado. Além disso, as voluntárias também teriam que criar um mapa de empatia e a persona final.
Iniciamos o ano de 2021 com o desafio de montar uma jornada do futuro para cada time. Muito se fala sobre o mapa da jornada do usuário atual, mas dificilmente os times de UX desenvolvem a jornada do futuro, ou seja, as experiências e sentimentos que queremos que essa persona tenha acesso. A jornada do futuro é uma abordagem utilizada quando queremos inovar experiências existentes ou criar novas, focando em novos segmentos de usuários ou novas ofertas de produtos e/ou serviços. Essa é a hora de ser criativa! Não só resolver dores que foram identificadas pela pesquisa, mas pensar em possibilidades de melhorar ainda mais as experiências mundanas dessa jornada.
Alguns exemplos de ideias incríveis da jornada do futuro: termos estandes de mentoria nos eventos presenciais (time de público); disponibilizarmos um espaço para concentração de palestrantes (time de palestrantes); treinarmos recrutadores e entregarmos conteúdo útil para definição de melhores vagas na cidade (time de empresas); e ainda oferecermos um dia para que uma lady especialista responda dúvidas sobre um tema específico no instagram (time de comunicação).
Entendendo onde estamos e para onde queremos direcionar nossas experiências de cada pilar, passamos a ter a necessidade de entender os processos do capítulo como um todo.
Nossos pontos de contato não fazem diferenciação entre os setores de uma empresa. Eles interagem com uma marca. A fim de que todos os times tivessem conhecimento da interseção de iniciativas, a criação de um Service Blueprint foi a estratégia tomada. O Blueprint permite visualizar as interações das múltiplas personas com a marca, na perspectiva dos usuários e da empresa, e o fluxo delas e como se relacionam. Para guiar a construção desse Service Blueprint colaborativo, convidamos a designer (amante de design de serviço) Mariana Medeiros.
Mariana montou um workshop e, em três horas de sessão, nossas voluntárias montaram um escopo desses processos e como cada persona interage entre os pontos de contato.
Hands on
Depois de muito pesquisar, compreender e planejar as experiências, quais serão os próximos passos a serem tomados?
Nossas voluntárias entenderão o que é um MVP e como elas podem definir as etapas de entrega da construção da experiência. Em paralelo, muito do que foi feito até hoje será revisitado, como a constante pesquisa e entrevistas com usuários, com a finalidade de colher feedbacks e evoluir/ajustar as entregas seguintes. Para dar um spoiler, podemos dizer que a etapa de product discovery será ministrada por Mariana Estivalet, Product Manager do iFood.
O futuro do capítulo
A fim de conseguir ofertar esse ciclo de aprendizado e prática de UX para novas voluntárias do capítulo, passamos a criar projetos paralelos, como o desenvolvimento do nosso site. Dessa forma, quem entra como voluntária pode tanto gerar auxílio para os times que já estão em fase de priorizar tarefas, quanto participar do marco zero de desenvolvimento de UX de um produto.
A construção do nosso site não será realizada por um time em especial, pois o consideramos um meio de comunicação das iniciativas de cada grupo. Por conta disso, voluntárias interessadas no projeto farão parte de um núcleo dedicado a isso, enquanto mantém as atividades nos próprios times.
Os stakeholders desse projeto somos nós, chapter leaders, e convidaremos diversas ladies maravilhosas para instruir os times nesse processo. Uma das etapas será ministrada pela Amanda Silva, uma das nossas chapter leaders, sobre gerenciamento de tarefas e priorização.
Outro projeto paralelo a ser realizado por aqui será a construção de um classificado de vagas. A ideia é que possamos divulgar vagas de acordo com nossos padrões de transparência (com descrição de atividades, nome da empresa, entre outros), além de gerar dados de interesse e tráfego para intensificarmos nosso relacionamento com empresas locais. Essas são só algumas das ideias para continuarmos compartilhando conhecimento e oportunidades de prática de UX.
O capítulo da Ladies That UX Florianópolis atualmente possui 47 voluntárias, ou seja, o maior time de voluntárias de todos os capítulos existentes até o momento. Queremos servir como inspiração para que outros capítulos estruturem seus times de voluntárias para irem além de apenas criar publicações em redes sociais. Criar um programa de voluntariado, ao nosso ver, é a melhor forma de promover ladies e alcançar, com o poder da rede, uma cidade com uma área de UX mais diversa e oportunidades justas.
Este artigo foi escrito por Amanda Silva, Hannane Cherifi e Rafaela Cardoso em março de 2021.
*Fonte: Panorama UX Design 2019.
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