Liderança em Design: aprendizados e desafios.

Sylvia Madeira
Ladies That UX PT
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5 min readAug 3, 2023

Há um ano e meio atuo como líder de um time de Design. Na época em que fui promovida, a alegria de receber esse reconhecimento e a empolgação pelos novos desafios dividiram espaço com vários receios e inseguranças.

Um pouco de contexto…

Depois de trabalhar como UX Researcher em um time especializado em pesquisa, fui promovida para coordenar essa frente na empresa. O cenário era complexo: um novo escopo de trabalho, novas habilidades exigidas, a empresa em um crescimento acelerado.

Como consequência, no primeiro mês como líder, precisei aumentar a equipe e passar pelo meu primeiro processo de contratação. Muitos outros desafios vieram com a nova função. De lá pra cá, tive muitos aprendizados. A ideia deste texto é dividir um pouco do que senti e vivi nesse curto — porém intenso — período a frente de um time de Design.

Aprendizados

Sobre insegurança (as minhas e as do time)

É natural que ao assumir um novo cargo as inseguranças apareçam. Sobretudo porque, na maioria das vezes, não nos sentimos 100% prontos. Mas quando lideramos um time, além da gestão das próprias emoções e medos, é necessário gerenciar as expectativas e inseguranças de várias pessoas.

A melhor forma que encontrei de fazer isso foi priorizar sempre a transparência, dar espaço à expressão sincera dos sentimentos do time, oferecendo um ambiente seguro para o diálogo livre e aberto. E, sempre que possível, oferecer informações e ferramentas que servissem para acalmar os ânimos.

As pessoas vão embora

Com o mercado aquecido (antes da chegada da onda dos layoffs), eu sabia que meu time era abordado com frequência. Isso causava um grande receio de perder pessoas boas no caminho. E essa preocupação durou até o primeiro pedido de demissão chegar e eu perceber que isso, inevitavelmente, acontece. Aprendi que independente do meu esforço, as pessoas irão embora. E no fim, a gente acaba se alegrando em ver que tivemos alguma participação no processo de evolução delas. Tudo vira um misto de sentimentos: tristeza pela partida, mas alegria pela conquista e crescimento das pessoas.

Passei, então, a me preocupar com o que posso controlar:

  • Oferecer um ambiente de trabalho agradável
  • Proporcionar desafios compatíveis com os objetivos do time
  • Evitar sobrecarga
  • Promover oportunidades de desenvolvimento e aprendizado
  • Estar disponível sempre que possível

Ou seja, fazer o meu melhor para que todos se sintam acolhidos, realizados e felizes. E, por fim, adotei uma medida para conter danos: buscar manter o conhecimento e os projetos compartilhados (para evitar que informações importantes se percam).

É claro que essas medidas não impedem que o coração ainda aperte quando penso que pessoas talentosas e incríveis podem partir, mas hoje sei que isso faz parte do jogo!

Aprender a delegar — Maior autonomia do time

Eu tinha uma tendência de me sobrecarregar para “poupar” o time. Demorei certo tempo até perceber que eu só seria uma boa líder se tivesse tempo disponível para me dedicar a isso. Assim, fui encontrando um equilíbrio entre assumir os perrengues e delegar atividades que promoveriam autonomia e fizessem as pessoas se sentirem confiantes. Isso foi essencial para criar um espírito de colaboração e não me tornar um gargalo no processo. Essa mudança permitiu que eu fosse abrindo espaço na agenda para pensar em melhorias e não viver só no automático, resolvendo problemas do dia a dia.

Falar “eu não sei” e não ter sempre todas as respostas

Existe uma crença bem forte que, ao estar à frente de um time, você precisa saber tudo. Hoje, me sinto confortável em responder perguntas com “Não sei, mas vou procurar saber”. Além disso, procuro contratar pessoas que possam cobrir habilidades e conhecimentos que eu não tenho.

Trocar comparação por inspiração

Eu tenho a sorte de trabalhar com pares com muita experiência. No início, eu tinha a tendência de olhar para isso com olhos de impostora, pensando que claramente eu não tinha todo o conhecimento e repertório para estar ali. Essa foi uma das viradas de chave mais difíceis de concretizar. Hoje eu uso isso a meu favor: peço ajuda, ouço muito, peço opiniões e me inspiro e aprendo muito com tudo que essa galera faz.

Muitas vezes você vai achar que seu trabalho é invisível

Bem diferente de um trabalho técnico, com entregáveis, o trabalho de um líder contempla uma série de coisas que não são palpáveis. É claro que existem métricas que ajudam a mensurar o impacto desse tipo de trabalho, mas muitas coisas ninguém verá.

Todos os problemas que você filtra para não preocupar a equipe, o esforço para melhorar pontos de dor do time, a gestão de expectativas e outras várias atividades que cercam a gestão, são abstratas. Além disso, nem sempre seus superiores conseguirão ter a dimensão correta de tudo que acontece.

Um dia ouvi que talvez eu ficasse o dia inteiro em reunião resolvendo mil problemas e que acabaria o expediente pensando que não fiz nada. De fato, isso aconteceu. Mas hoje procuro manter em mente todas as coisas que resolvi e tudo que posso, mensuro. Isso me ajuda a manter um sentimento de realização e evitar o pensamento que porque não gera uma entrega, não é um trabalho.

Desafios para o futuro

Por fim, gostaria de listar alguns desafios que ainda pretendo mergulhar:.

  • Tornar o conhecimento gerado cada vez mais descentralizado e acessível
  • Aprender mais sobre como o design impacta os negócios
  • Reservar mais tempo para pensar e planejar ações de melhoria
  • Aprender mais sobre integração de times remotos, no contexto de consultoria e que trabalham individualmente em projetos.
  • Pensar em como é possível aumentar a maturidade de Design e Research, tornando-os pilares fundamentais e estratégicos para a organização.
  • Aprofundar conhecimentos sobre gestão de conflitos e empatia assertiva

Ah, e se seus desafios são parecidos com os meus ou se você já enfrentou algum dessa lista, sinta-se à vontade para me chamar para conversar!

Obrigada por ler até aqui!

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Sylvia Madeira
Ladies That UX PT

UX Researcher | Apaixonada por Design, curiosa e eterna aprendiz.