Migrar é preciso?

Dicas e guias para quem tem interesse ou está migrando para design

Carolina Koury
Ladies That UX PT
7 min readJul 14, 2022

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Parede colorida com a frase "this must be the place" em luzes de neon
Foto de Tim Mossholder

Como qualquer disciplina, o Design evolui, se adapta e cria caminhos que antes nem imaginávamos serem possíveis. Hoje, quando olhamos a vasta gama de trilhas de carreira e atuação, vemos que cada vez mais existem espaços sendo ocupados pela visão de experiência. Por outro lado, se você está chegando agora, provavelmente anda se afogando nessa sopa de letrinhas!

Com o mercado de Design aquecido e cada vez mais relevante, muitos profissionais de outras áreas começaram a ter contato e também se interessaram em se tornar designers. Seja pelo olhar empático, inovação ou pela possibilidade de fazer pesquisa, cada vez mais acompanhamos cursos, livros e encontros com promessas incríveis e definitivas de conhecimento para quem está migrando. Muita coisa legal foi construída com esse movimento, e na mesma proporção, desinformação e superficialidade sobre o real papel e rotina de um profissional de Design.

Diante desse cenário, decidi escrever esse artigo esperando que ajude você a responder algumas perguntas:

  • A carreira de design é para mim?
  • Por onde começo a estudar?
  • O que esperar da rotina/ atuação no dia a dia?
  • O que uma empresa busca com Design?

Vale lembrar que o intuito desse artigo é construir conhecimentos iniciais sobre o tema ou proporcionar debates. Marcar encontros com quem já está na área, estudar sobre Design e entender sobre a atuação é um exercício de construção, dedicação e consistência. Não existem atalhos para se tornar um profissional completo :)

Design é para mim?

"Aprenda a enxergar. Perceba que tudo se conecta a todo o resto." Leonardo da Vinci

Polêmica pergunta cuja resposta só pode ser dada por você!

Desde a pré-história desenhamos e esquematizamos. Seja para guardar conhecimentos ou até mesmo para criar uma estratégia diante de um grande desafio. O Design nasce da vontade humana de solucionar ou se adaptar a problemas de maneira simples, iterativa e inovadora. A essa abordagem de pensamento, se deu o nome de Design Thinking.

A metodologia mais difundida atualmente para aplicação do Design Thinking é o duplo diamante (em inglês Double Diamond). Esse nome se dá pelo seu desenho formado por losangos, que tornam visual o movimento de divergência e convergência pelo qual passamos durante o processo.

Imagem mostra 2 losangos, mostrando a divergência e convergência do processo. No primeiro losango temos o "fazendo as coisas certas" no segundo "fazendo da forma certa"
Double Diamond Design Process Framework (latest version, Jan 2018) por Dan Nessler

Pesquisar, definir, idear e prototipar. São essas as fases que todo designer (independentemente da sua especialidade) passa quando caminha de ponta a ponta no processo — entendendo empaticamente o que seu usuário precisa e realizando testes no seu contexto. O processo é fixo? Não! Quanto mais você se insere nesse fluxo, mais entende que aplicamos o que é necessário ao contexto e não o forçamos para caber em um processo pouco resiliente.

Se você chegou até aqui, já deu pra pegar algumas pistas né? Fazer Design é sobre entender o outro, pensar estratégias, se manter estudando constantemente sobre ferramentas e modelos de trabalho, negociar, entender implementação, riscos, benefícios, testar (e testar, e testar….), iterar e por aí vai. Você não vai fazer "só" uma coisa, seu papel é abraçar o caos e a pluraridade para conectar pontas e buscar padrões, e deles, fazer nascer artefatos que gerem valor e significado na vida das pessoas.

E aí, curtiu? :)

Gostei hein! Como começar?

Temos mais um Designer? Seja bem-vinde! Sempre maravilhoso receber gente nova na nossa casa!

Vamos lá! Existe muito conteúdo relacionado a Design e não indico que você saia consumindo absolutamente tudo no primeiro dia. Como comentei acima, é preciso que você entenda primeiro a base para guiar seus próximos passos e definir — aos poucos — o que você precisa. Deixo abaixo alguns direcionamentos e materiais. Importante também pontuar que criei uma ordem nas perguntas para que você tenha uma trilha. Essa é a minha sugestão, sinta-se livre para criar o caminho que faz mais sentido para você:

  • Meu conhecimento prévio conta?

Sim! Mesmo pessoas com formação em Design se interessam e desenvolvem em áreas e assuntos diferentes. Por ter uma visão interdisciplinar e abrangente, o exercício da profissão permite trazer contribuição de bagagem das mais diferentes especialidades. Inclusive, é possível se tornar designer em uma empresa que atua na área que você já tem conhecimento. Por exemplo: uma advogada que migra para Design pode trabalhar em uma startup de facilitação de burocracia. Nesse caso, o conhecimento dela conta muito para entender caminhos que alguém que tenha outra formação talvez não consiga enxergar.

  • Preciso ter ou ser alguma coisa (criativo, bom de desenho, aprender uma ferramenta…) para entrar no mercado?

Criatividade é como um músculo e, durante nosso desenvolvimento, somos pouco incentivados a desenvolvê-la. Por isso, exercite para ter cada vez mais! Qualquer outra ferramenta pode ser aprendida facilmente por meio de cursos e mentorias.

Cada tipo de empresa, oportunidade ou especialidade tem requisitos diferentes. Por isso, é necessário estudar vagas antigas de lugares que você almeja trabalhar, conversar com designers que estão atuando, ler sobre o dia a dia para entender qual será seu planejamento e assim montar sua "caixa ideal de ferramentas".

Sites interessantes para saber mais sobre frameworks, dinâmicas e ferramentas: IDEO Toolkit, HI Toolbox, Service Design Tools, Project of How

  • O que é Design Thinking? Como funciona o processo de Design?

Livros e artigos
Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias — Tim Brown

Do Design Thinking ao design doing- Jon Kolko

Intuição, ação e criação: Graphic design thinking — Ellen Lupton

What Is Design Thinking, Really? (What Practitioners Say)- Nielsen Norman Group

The Service Startup — Tenny Pinheiro

Duplo Diamante: uma ferramenta essencial para o Design Thinking

Vídeos
Processo Criativo — Design Thinking

Design Thinking Learner’s Journey — https://www.nngroup.com/videos/design-thinking-learners-journey/

  • Quem ou quais são as referências interessantes para seguir?

Empresas / IniciativasIDEO, MJV, Ana Couto, Nielsen Norman Group, UX para Minas Pretas, Ladies that UX, PretUX

CursosMergo, Echos, Descola, Aprender Design, Hyper Island, Interaction Design Foundation

PodcastsDesignOps Lab, Design Matters, Design better

Pessoas — Edu Agni, Victor Zanini, Barbara Villar, Thayse Ferreira, Karen Santos

  • O que é um portfólio? Preciso ter um?

Portfólio é um conjunto dos trabalhos mais representativos que você realizou. A ideia de ter uma espaço como esse é que recrutadores possam entender um pouco da sua visão estratégica, profundidade de conhecimento do processo e experiências prévias. Se quiser seguir na carreira, é bem importante que você construa um, além do seu currículo, escolhendo sabiamente os trabalhos expostos.

Existem alguns sites que são muito usados para esse tipo de fim. Se não quiser fazer algo online, existe a possibilidade de fazer uma apresentação ou documento que te permita enviar quando for pedido. Caso você não tenha nenhum trabalho ainda, experimente construir projetos e revisar processos para aplicar conhecimentos e contribuir com o seu portfólio.

Sites e exemplos: Notion, Squarespace, Behance, Wix

Como é o dia a dia de Design?

Como estamos falando sobre uma visão generalista relacionada a cultura, metodologia e especialidade não vou conseguir criar aqui uma descrição perfeita sobre rotina. Contudo, para facilitar o entendimento e ajudar na gestão de expectativa, tentarei criar um quadro "neutro". Lembre-se desse adendo aqui para evitar uma interpretação ao pé da letra do que vem a seguir.

Como comentei no início desse artigo, o designer tem esse papel transformador, captando oportunidades e desenhando soluções. No seu dia a dia você vai:

  • Trocar constantemente com as mais diferentes pessoas da empresa e, dependendo do cenário, vai receber dúvidas, dores e expectativas relacionadas ao negócio;
  • Fazer buscas para entender o que todo mundo está falando sobre o que você está desenvolvendo, entendendo como outras empresas e pessoas resolveram ou criaram teses sobre a mesma oportunidade;
  • Estar sempre em contato com o usuário também! Seja direta (ex: entrevistas) ou indiretamente (ex: formulário de satisfação de serviço), será seu trabalho aprofundar visões e entender causas raízes. A sua busca será sempre de entender como criar entregáveis que consigam aliar o que você estudou ao que está sendo mapeado de problemas de experiência;
  • Usar ferramentas de mapeamento para aterrisar, definir e esquematizar conhecimentos obtidos;
  • Facilitar dinâmicas criativas para gerar ideias baseadas nas suas pesquisas;
  • Desenhar soluções mínimas viáveis e as testará com o seu usuário;
  • Entender o desempenho do que foi criado, buscando revisar o que está sendo usado e melhorando continuamente as entregas.

E o que o mercado está buscando?

Por muito tempo o papel do designer ficou restrito a uma realidade de execução. Com o passar do tempo e o aumento da complexidade dos produtos e serviços, o mercado começou a abrir espaço para cada vez mais talentos. Além de um ótimo conhecimento e de por a mão na massa, empresas também esperam que pensem e tenham olhar crítico sobre o que estão construindo. O valor do Design mora no processo e no embasamento do produto final. Por isso, quando falamos sobre portfólio, é tão importante mostrar como você fez para chegar lá e não apenas o resultado final.

Toda essa discussão remonta o debate sobre forma e função, que não é novidade no universo de Design: O pensamento que se restringe ao estético não necessariamente atende ao valor funcional. O que é extremamente funcional, mas não tem preocupação visual, acaba sendo pouco atrativo ao olhar humano. Não atrai e nem se diferencia. Qual o ideal? Equilíbrio! Pesquisar e entender onde investir energia baseado no que o seu usuário prioriza e precisa. O mesmo equilíbrio que precisamos no que construimos está também no processo de construção em si.

Em resumo, Design é uma área cheia de oportunidades para quem quer desenvolver soluções valorosas em parceria com as mais diferentes visões. Todo o conhecimento é importante, pois ele ajuda a embasar, diferenciar e a nos aproximar da solução ideal. Por isso, valorize sua história! Aprenda bases do processo de pensamento do Design e não pule etapas. Lembre que você está desenhando para o outro e não para si. E por fim, preze pelo olhar crítico, tenha dados e envolva interessados no seu processo. O que te faz diferente em lidar com o desafio é o caminho que você percorre e não apenas o prêmio da linha de chegada.

Bons estudos! Te vejo por ai nesse mundão de Design :)
Até mais!

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