Nice to prattle with you
O que sua síndrome do impostor tem a ver com a forma como nos comunicamos?
Também não sei, mas escrevi algumas coisas que senti em relação a isso recentemente.
Dia desses conversando com outros designers num desses canais de UX/UI, maravilhosos para aprender e trocar com outras pessoas do mercado, me deparei com uma situação que, não só, testou a minha Síndrome do Impostor como também me fez parar pra pensar sobre algumas coisas.
Quero compartilhar com vocês, o causo foi o seguinte:
Estávamos conversando, eram pessoas de vários lugares do mundo e, como sabemos, o inglês é a língua universal. Eu estava me sentindo bem porque conseguia me expressar com facilidade, coisa que eu nem imaginava que seria possível, não fosse o meu trabalho atual que me ajudou muito a melhorar o inglês na prática.
A conversa parecia sincronizada e chegando ao fim, quando um dos colegas enviou a seguinte mensagem:
“Nice to prattle with you guys!”
Na hora fingi certa naturalidade e fui correndo dar um google pra ver o que aquela palavra significava, ao mesmo tempo, senti as pessoas da conversa um pouco perdidas também.
Enquanto me escondia por não saber reagir à frase, brigava com o impostor dentro da minha cabeça que dizia:
“Minha nossa! Não é possível que você não está entendendo o que ele disse. Precisa estudar mais, hein minha filha. Vai correr atrás de um dicionário, melhorar essa gramática..”
Milhares de pensamentos impostores passaram pela minha cabeça, num intervalo de 2 segundos (juro!), até que fui interrompida por um outro colega de conversa que disse:
“Had to Google prattle.”
Ufa! Isso significava que eu não era a única a dar google naquela palavra. Imediatamente, as outras pessoas da conversa começaram a se manifestar e, pasmem, ninguém sabia o que era a palavra “prattle”.
Naquele momento, me senti acolhida e ao mesmo tempo me dei conta do quanto estava sendo cruel comigo apenas por não saber o sentido de uma palavra, enquanto outras pessoas, com o inglês impecável, também não sabiam o que aquela palavra significava.
Todo esse caso me fez refletir sobre o quanto é difícil pra uma pessoa, com poucos anos de transição de carreira (que é o meu caso), não se ver imerso em questionamentos e duvidando das próprias capacidades e habilidades.
É um exercício diário não dar ouvidos ao impostor que mora da gente, e entender que tá tudo certo não saber de todas as coisas, tá tudo certo ser vulnerável e naturalizar que a gente não precisa saber de tudo. Um erro ou uma dúvida que possa surgir em algum momento, não pode deslegitimar todo o restante do nosso esforço de trabalho.
Além disso, refleti um pouco sobre inclusão e diversidade. Duas palavras que ouço e leio muito no ambiente do design de produto e busco o tempo inteiro, não só como designer, mas como pessoa, colocar em prática.
A inclusão e a noção de diversidade precisam estar presentes em todos os momentos da construção de um produto, isso vai desde evitar anglicismos quando conversamos com algum usuário, ou empregar jargões e expressões em uma conversa onde predomina a diversidade de pessoas.
Me fez refletir sobre o quanto a linguagem e a comunicação podem não democratizar o espaço de inclusão e transformar a conversa em uma situação desconfortável ou desinteressante pra que tá ali.
Ouvi, recentemente, o escritor e jornalista Sergio Rodrigues dizer que, tanto a comunicação, quantos a linguística mudam muito com o passar do tempo.
Os significados das palavras mudam de acordo com o contexto e cenários social, político e econômico em que estamos. Varia de acordo com a massa e os interesses de quem se expressa.
Ao final da conversa com esses colegas de profissão saí revigorada pela troca maravilhosa, e também reflexiva sobre como melhorar minha expressão e comunicação. Como me expressar de forma coerente e democrática dentro nos núcleos onde atuo.
E você? Acha que a comunicação pode ativar gatilhos impostores na sua mente? O que ainda precisa mudar dentro da nossa comunidade, de design, para que a diversidade e a inclusão não se percam em meio a jargões de um nicho muito restrito tem intimidade?
E para concluir, eu achei o sentido da palavra “prattle” esquisito dentro de uma conversa tão produtiva, mas, realmente eu não considerei o contexto e vivência da pessoa que a utilizou e, mais uma vez, entendo o quanto é importante uma comunicação um pouco mais democrática, onde todos os lados se entendam.