O dia em que falei com a Torrey Podmajersky, autora do livro “Strategic Writing for UX”
O dia que falei com a Torrey Podmajersky, autora do livro “Strategic Writing for UX: Drive Engagement, Conversion, and Retention with Every Word”. Aqui, conto como foi a conversa, as dicas recebidas e um pouco sobre minha experiência como UX Writer/Content Designer.
A seguir, vou falar sobre:
- Quem é a Torrey;
- Como agendei com ela;
- Um pouco sobre mim e como foi o momento;
- O que eu perguntei (e as respostas dela);
- Conclusões.
Primeiro, quem é a Torrey?
Para quem não conhece, a Torrey escreveu o livro “Redação Estratégica para UX: Gerando Engajamento, Conversão e Retenção com Cada Palavra”, que é amplamente considerado um material valioso para redatores e designers de “User Experience” (UX). O livro oferece insights e orientações práticas sobre como criar conteúdo centrado no usuário para produtos e serviços digitais. Ela também é UX Manager and Staff UX Writer no Google (ela manja muito).
Quando a conheci, pude perceber o quanto ela é gentil e acessível. Como inglês não é minha primeira língua, notei que ela falava pausadamente, evitava gírias e expressões idiomáticas, e buscava sempre me deixar à vontade. Senti como se ela aplicasse as estratégias que ela estuda e ensina na vida com quem ela se propõe a dar uma consultoria ou dica sobre UX.
Como agendei
A Torrey libera a agenda dela para mentorar por 30min pessoas da área que se interessam pelos conteúdos que ela ensina. Este é o link da agenda (disputadíssima haha) dela: https://calendly.com/torreypodmajersky/
Quando descobri o link (valeu, Alê Periard), e agendei, quase não acreditei. Inclusive, fui no Instagram dela perguntar se a consultoria era de graça (risos) de tão chocada que fiquei com a acessibilidade que ela oferece (sim, ela fofamente respondeu). Ela cede 30min do tempo dela e te ajuda a entender melhor pontos sobre a área, dicas, apoio, enfim.
O processo é assim: você escolhe o dia, já informa 3 perguntas ou tópicos que deseja conversar, informa seu perfil do linkedin e portfólio (se quiser). Aí é só aguardar o dia, treinar o inglês, para conversar com ela. — Vejam se o processo ainda é assim, porque pode mudar. Nossa conversa foi em maio de 2023 ;)
O que eu perguntei e o que a Torrey respondeu
Mais a frente, trago as respostas que ela deu.
Perguntas
- What is my level of seniority as a writer? I have 10 years of experience with content production, but only 3 years as a UX writer, so I have this question. — Qual é o meu nível de senioridade como User Experience Writer? Tenho 10 anos de experiência em produção de conteúdo, mas apenas 3 anos como redator de UX, então tenho essa pergunta.
- How can I get a job at a big company? — Como posso conseguir um emprego em uma grande empresa?
- What would you suggest for me to improve my skills as a UX Writer? — O que você sugere para eu aprimorar minhas habilidades como UX Writer?
- What do I need to have a good portfolio? — O que eu preciso ter em um bom portfólio?
Um pouco sobre mim e como foi
Eu estou pegando o costume de fazer entrevistas em inglês há um tempo e a falar sobre a minha área em outros idiomas, então hoje está um “pouco” mais fácil para mim discutir o meu processo de criação, sobre como realizar um Discovery e abordar tópicos de estratégia de conteúdo para plataformas digitais, experiência do usuário, tudo isso em inglês e espanhol.
Claro que não sou completamente fluente, mas para mim foi relativamente tranquilo. No entanto, dependendo do nervosismo, falar em inglês pode não ser tão tranquilo para mim. Apesar de ter estudado inglês por quase 8 anos (fazendo um curso), sempre senti que outras pessoas eram muito melhores do que eu (e tudo bem).
Na primeira vez que fiz uma entrevista em inglês, comecei pedindo desculpas e dizendo que meu inglês não era bom… A Head de Produto na época, em 2020, me disse que meu inglês era muito bom, e fiquei chocada. “Como assim, eu falo ‘bem’?”. Aliás, ela foi muito gentil e me deu várias dicas (mas é claro que nem todos são assim. Já fiz uma entrevista para uma grande empresa — censurei o nome rs — na Holanda, em que me senti tão mal, tão criticada, que chorei logo após desligar a chamada).
Mas as pessoas são diferentes. Fiquem tranquilos, a Torrey é um anjo na terra. Eu me senti como se estivesse em terapia rs. Então, não deixem de marcar um momento com ela. Se vocês acham que precisam estudar mais inglês, que ainda não está bom o suficiente, acreditem: vocês estão prontos. Só nós sabemos o quanto estudamos, passamos noites treinando, fazendo cursos, nos preparando, então sim, vocês sabem que conseguem.
Não percam a oportunidade de conhecer pessoas importantes e inspiradoras por causa dessa limitação. Para mim, conversar com ela foi o auge da confirmação de que estou no caminho certo, porque, no fundo, sempre achamos que não somos bons o suficiente.
Eu estava falando em inglês com uma das pessoas que mais admiro na área, e ela me entendia (a gente riu, fez piadas, eu me emocionei). Foi um momento muito delicado e especial para mim, e tenho um carinho imenso por essa conversa. Foi crucial para mim, pois há três anos eu queria migrar para ser UX Writer. Hoje, tenho vários cases em grandes empresas e até projetos internacionais.
Aconselho a todos vocês a não se boicotarem e marcarem um momento com ela. Aliás, perguntei a ela se ela conversa com muitos brasileiros, e ela disse que são muito poucos (acredita?). Portanto, espero que este texto faça você acreditar um pouco mais em si mesmo e conhecer a Torrey (e não apenas isso, mas também não recusar entrevistas apenas porque são em inglês, espanhol ou outro idioma… Se você acha que não é bom o suficiente, tenho certeza de que é excelente no que faz).
Vamos às perguntas
1. What is my level of seniority as a writer? I have 10 years of experience with content production, but only 3 years as a UX writer, so I have this question.
— Qual é o meu nível de senioridade como User Experience Writer? Tenho 10 anos de experiência em produção de conteúdo, mas apenas 3 anos como redator de UX, então tenho essa pergunta.
Sobre essa pergunta, contei minha experiência para ela e mencionei que tenho 10 anos de experiência em produção de conteúdo, especificamente em plataformas digitais e comunicações transacionais. Ao longo do tempo, migrei para o UX Writing. Então, perguntei a ela em que nível me enquadro, considerando que tenho só cerca de 3 anos de experiência em UX mesmo. Seria pleno, sênior, júnior? Sempre tive dúvidas sobre isso.
A resposta da Torrey foi que não é necessariamente a empresa que determina sua categoria, pois às vezes eles te colocam em um nível inferior ao que você realmente pertence.
Às vezes, você é contratado em um nível, mas executa seu trabalho de forma muito habilidosa. Isso depende de como você lida com a resolução dos problemas da empresa e da sua área. Por exemplo, se você conhece confortavelmente as etapas necessárias para criar um protótipo, garantir sua adequação ao usuário e saber como medir seu impacto na empresa. É o que vai além de apenas realizar a demanda.
Você também precisa considerar se trará benefícios para a empresa e para os setores envolvidos.
Ter uma visão mais ampla do que está fazendo, segurança nas ferramentas de trabalho e adotar uma postura mais consultiva são importantes.
Se você realiza essas atividades de forma confortável, pode se enquadrar em um perfil mais sênior.
A Torrey explicou que essa avaliação é algo subjetivo. Se eu tiver as características e mentalidade que ela mencionou, posso me posicionar como sênior.
2. How can I get a job at a big company? — Como posso conseguir um emprego em uma grande empresa?
Essa pergunta me fez refletir sobre alguns preconceitos que eu tinha em relação aos processos seletivos de grandes empresas.
Eu sempre pensei que se não recebesse uma resposta em um mês, significava que meu currículo era ruim ou que não estavam dando a devida atenção aos candidatos. Mas não é bem assim.
Segundo a Torrey, devo continuar enviando meu currículo, mesmo que demore seis meses para obter uma resposta. Não devo interpretar isso como um “não”, mas sim entender que essas grandes empresas, como a Amazon, Microsoft e Google, por exemplo, possuem processos seletivos muito longos. Se essas empresas levam tanto tempo, outras empresas também podem ter processos semelhantes, embora em uma escala menor. Ela me contou que essas grandes empresas recebem um grande volume de currículos diariamente.
O segundo conselho é se sentir confortável com o idioma inglês, principalmente porque os principais países que oferecem vagas na nossa área são países de língua inglesa. O inglês é uma língua global e bem difundida. No entanto, eu vejo esse conselho como se sentir confortável no idioma em que você deseja atuar. Por exemplo, se a empresa grande em questão fala espanhol, estude bastante e se esforce para se sentir confortável nesse idioma.
Fluência na língua em que atua é especialmente importante porque um designer de conteúdo trabalha com conteúdo e precisa demonstrar proficiência nessa língua.
Outra coisa interessante que ela mencionou é entender a seleção dessas empresas como as “seleções de entrada em universidades americanas”. Assim como uma pessoa precisa escrever uma carta de apresentação convincente para ser admitida em uma universidade americana, falando de suas experiências pessoais, aprendizados correlatos, etc, é importante mostrar nas candidaturas às empresas o motivo pelo qual você merece ser contratado. É preciso mostrar sua experiência, habilidades e vivência no mercado que agregam valor à empresa.
Saiba se vender e mostre de forma criativa por que você merece estar naquela empresa. Relembre suas experiências anteriores e identifique as conexões entre elas e a nova empresa.
3. What would you suggest for me to improve my skills as a UX Writer? — O que você sugere para eu aprimorar minhas habilidades como UX Writer?
Aqui foi uma pergunta que me deixou bastante reflexiva. Foi uma pergunta que despertou emoções em mim e acho que foi a pergunta que mais me impactou durante essa conversa com ela.
Eu esperava que ela me desse dicas sobre os cursos mais populares do momento, se eu precisava fazer consultorias ou uma pós-graduação, ou se deveria focar em mais projetos.
No entanto, a resposta dela foi diferente. Ela me perguntou sobre o que eu realmente quero fazer e sobre o que eu gosto de fazer.
Essa pergunta me fez refletir, pois nunca tinha parado para pensar nisso antes. Sempre segui o fluxo dos cursos de tendências e até gostei do resultado nesse caminho de transição de carreira, mas nunca pensei sobre o que eu realmente quero aprender agora.
Durante a transição, pensei em me especializar em chatbots, em plataformas digitais, em CRM, ou em outras áreas porque era necessário. Mas nunca tinha parado para me ouvir dessa maneira. Foi um momento importante para refletir e dar mais importância às minhas próprias vontades.
Ou seja, o próximo passo? É o que você quiser estudar.
4. What do I need to have a good portfolio? — O que eu preciso ter em um bom portfólio?
Em resumo:
- Contar uma boa história e fazer isso de forma concisa e cativante;
- Falar todas as etapas que antecederam a conclusão do protótipo;
- Pedir para uma pessoa amiga de design gráfico ou product design para ajudar a deixar a apresentação visualmente mais bonita;
- Fazer teste e apresentar seu portfólio para pessoas próximas e pedir feedback.
A última pergunta era sobre o que eu preciso para ter um bom portfólio, e ela me falou algumas coisas que realmente não tinha considerado.
Eu pensava que ter protótipos bonitos e bem executados era suficiente, mas não é só isso. É importante contar como você chegou até ali, explicar todas as etapas do processo que você realizou ou testes que conduziu para chegar àquela conclusão.
Além disso, é fundamental saber contar essa história de uma forma envolvente, atraente e visualmente agradável.
Cada projeto precisa ter essa narrativa desde o início, explicando para quem é, por que é, qual é a métrica, qual é o problema a ser resolvido, em qual plataforma a solução será implementada, quais ferramentas foram utilizadas para compreender o problema e propor a solução, como foi testado, quais foram os resultados alcançados após a implementação. É importante organizar todas essas informações de maneira clara e concisa.
Além disso, ela mencionou a importância de contar com a ajuda de um amigo designer gráfico ou de um product designer para tornar o portfólio visualmente atraente. Muitas vezes, a apresentação do conteúdo não é tão agradável e isso pode não valorizar o seu trabalho.
Outro ponto que ela mencionou foi realizar um teste de percepção do portfólio, convidando pessoas da área ou alguém com algum conhecimento na área para avaliar se entenderam o fluxo e a apresentação, se algo está faltando ou se ficou confuso.
Faça um teste de percepção do conteúdo do portfólio para identificar o que precisa ser melhorado. Encare a tarefa de criar um portfólio como um projeto de design e siga os processos de desenvolvimento de uma solução de design.
Conclusão
Olha, esse momento com a Torrey me ajudou muito a ter mais tranquilidade ao percorrer esse caminho em busca de me tornar um especialista como designer de conteúdo. Também me ajudou muito a desacelerar e ter uma mente mais tranquila. Aprendi que preciso fazer o meu melhor no meu próprio ritmo.
Percebi que não devo evitar certos desafios apenas porque tenho medo de falar em outra língua. Sempre vou sentir um frio na barriga ao conversar com outras pessoas em reuniões, entrevistas, conversas casuais, e-mails ou interações em redes sociais em outro idioma. No entanto, não deixo de tentar.
Não podemos ficar presos sem tentar o que desejamos por medo. Sempre teremos a chance de encontrar pessoas queridas, sensíveis e empáticas como a Torrey, que oferecem um ambiente acolhedor.