Uma mãe UX Writer: o que escrever para um produto e cuidar de um bebê têm em comum

Ludmila Rocha
Ladies That UX PT
Published in
4 min readMay 28, 2020
Foto: iStock

Muita gente não sabe, mas sou a mais nova mamãe do pedaço. Siiiim, a Mari chegou há 4,5 meses, mudando totalmente as nossas vidas (para melhor).

Agora, estou no finzinho da licença maternidade, começando a me organizar para voltar a trabalhar. Um misto de empolgação, alegria, medo e muita, mas muitaaaa saudade antecipada.

E nessa de retomar à rotina comecei a observar o que essas duas funções primordiais na minha vida atualmente – escrever e maternar – têm em comum. E, mais do que isso, o que eu posso levar do contexto de uma para o da outra.

Por incrível que pareça, encontrei vários pontos de interseção, que compartilho a seguir:

Foco no foco

Não adianta querer dar mama e brincar com o bebê ao mesmo tempo. Assim como também não adianta informar várias coisas, num único ponto do fluxo, para o usuário. O que é mais importante no momento? Uma tarefa por vez. Devagar e sempre.

Até porque…

Usuários são como bebês: estão descobrindo

Tudo para um bebê é novo. E como é lindo acompanhar essas descobertas. As coisas mais óbvias para nós, como passar um objeto de uma mão para a outra, são inteiramente novas e desafiadoras para eles.

Precisamos de paciência para mostrar como se faz. É necessário repetir uma ação várias vezes, até que eles aprendam.

Exatamente como acontece com os novos usuários de um produto. Eles não sabem o que fazer para chegar aonde precisam. Então, cabe a nós ensiná-lós. Mostrar o caminho com textos simples, diretos, usando, inclusive, as mesmas palavras quando nos referirmos a uma mesma coisa.

Bebês fazem cocô, clientes fazem merda

Sim. Vamos falar de cocô!

Quem tem filhos e nunca teve que lavar uma roupinha suja de cocô que atire a primeira pedra. É fisiológico, incontrolável nesse estágio de vida e até prazeroso (não queira presenciar um bebê irritado por estar com o intestino preso há dias).

Muitas vezes, estamos trocando a fralda e antes que posicionemos a outra, bummmm: cocô para todo lado!

E assim como os bebês fazem cocô, clientes fazem merda. Mas não literalmente, neste caso. Algumas vezes uma mensagem instrucional parece super clara, foi escrita, reescrita, testada à exaustão com uma parte da base, mas ainda assim o cliente passa batido por ela ou, simplesmente, não a compreende.

E nos dois casos, o do bebê e o do cliente, não podemos culpá-los. O bebê ainda não consegue controlar suas vontades e sentimentos. Assim como o cliente não tem a mínima obrigação de saber usar o produto que desenhamos, pensar como pensamos ou seguir o caminho que propomos.

A responsabilidade de minimizar as chances de erros (porque é impossível acabar totalmente com eles) é nossa. Seja trocando a fralda mais rápido, ou nos valendo de artifícios de Design para mentorear melhor o usuário.

Atenção! Seja com cores e/ou com um chocalho na mão (rimou)

E para ensinar, tanto bebês quanto usuários, precisamos chamar a atenção. Para isso, vale lembrar que podemos (e devemos) utilizar não só textos nas interações.

Temos uma gama de opções como imagens, vídeos, animações e cores diferentes para diferentes tipos de mensagens também: vermelho (alerta), verde (sucesso), etc.

No caso dos bebês é ainda mais fácil, basta balançar um chocalho :).

Bebês são fiéis a seus cuidadores. Clientes, a bons produtos

A figura favorita de um bebê costuma ser a sua mãe. Não só pelo laço biológico, mas pelo simples fato de ser a pessoa que (normalmente) passa mais tempo cuidando, alimentando e dando carinho a ele.

Isso faz com que o bebê a prefira, em detrimento a qualquer outra pessoa do mundo. Pois ela lhe proporciona CONFIANÇA, possibilita boas experiências e, consequentemente, boas memórias.

A mesma coisa acontece com clientes que têm uma boa experiência com um produto. Eles se sentem seguros, recompensados e não só tendem a permanecer na base, como se tornam promotores do produto/empresa em questão.

O que nos leva ao último ponto…

BUT, bebês e usuários se traumatizam com facilidade

É sabido que o que acontece ainda na primeira infância, de bom ou de ruim, pode nos marcar para todo o sempre. E que nossos pais, que (normalmente) mais nos amam, são também as pessoas com mais possibilidades de nos traumatizar.

Por que são ruins? Não necessariamente. Mas porque são (somos) imperfeitos e muitas vezes não sabem(os) lidar da melhor forma com algumas situações.

Acontece que esses traumas têm o potencial de afastar os envolvidos e de transformar sentimentos, vidas. Profundo, né? Éeee, ser pai/mãe é uma baita responsabilidade.

A mesma coisa acontece com os usuários, que se traumatizados por uma experiência de uso ruim tendem a nunca mais voltar a usar um produto.

E cada usuário, assim como cada criança, tem um nível de sensibilidade/tolerância às experiências negativas vivenciadas.

Por isso, precisamos: Primeiro – aproveitar todos os pontos de contato com os usuários para fortalecer nosso relacionamento/vínculo e deixar boas lembranças. Associação positiva é a alma do negócio.

Segundo – conhecer ao máximo nossos usuários para entender até onde conseguimos baratear/simplificar o nosso produto, em termos de desenvolvimento e de usabilidade, sem causar uma má impressão ou, pior que isso, traumas.

Acho que este é o nosso maior desafio, tanto como pais/cuidadores, quanto como desenvolvedores de produtos. Como simplificar as nossas vidas, as dos bebês e as dos usuários, sem entregar algo ruim? É uma linha tênue.

E assim seguimos: pais, mães, designers, POs, desenvolvedores… Em busca do maior custo-benefício possível. Em casa e no trabalho. Equilíbrio. No fim, é tudo uma questão de equilíbrio.

E você, já é mãe/pai? Percebe mais alguma similaridade entre essas duas funções? Me conta nos comentários!

Um beijo.

--

--