Estudos semânticos afirmam…

Pedro Maciel
Lado (B)lack
Published in
4 min readMar 4, 2017

666% das discussões humanas são semânticas. O dado foi divulgado pelo instituto CUDOPEDRO e confirma algo que há muito já se sabia: Os homo sapiens não costumam discordar tanto nas idéias, mas sim na forma de envelopá-las em palavras. E como hoje consumimos conceitos pela embalagem, se ela desagrada, a gente não compra.

Um desenho de um meme e sem graça e velho de bolacha × biscoito

Complica mais quando se usa a mesma embalagem pra tudo. Arte é um exemplo. É ousar. É beleza. É dor. É mijo e sangue numa tela. É vazio. É pichar. É pixar. É sujar. É destruir. É se cortar. Não é se cortar. Não é pixar. Não é destruir. Não pode ser feia. Não pode ser vazia.

É tipo assim: eu chamo de mexerica e você de bergamota. No fim morre os dois sem saber que chupavam a mesma merda.

Bergamota ou mexerica? O importante é ser docinha (e melhor desenhada, de preferencia)

Quer ver outro exemplo?

Poder.

Posso voar?
Leis da física: Não.

Posso matar pessoas?
Leis da física: Sim
Leis da sociedade: Não

Posso odiar gays?
Leis da física: Sim
Leis da sociedade: Sim
Ética e moral geral (de pessoas equilibradas): Não

Sou de aparência européia, posso usar turbante?
Leis da física: Sim
Leis da sociedade: Sim
Ética e moral geral: Sim
Alguns escassos grupos minoritários de negros: Não

PORRAAAAAA! O mundo tá chato… hoje em dia já não se pode mais nadaaaaaaaaaaa… saco :’(

Pra maioria das esferas de poder você pode. E a gente pode achar zuado também e fazer textão. ¯\_(ツ)_/¯

Droga, faltou um poder: o aquisitivo.

Antes quem só podia era você. Agora nóis pode um pouco tb.

Mas ainda não não podemos xingar branco.

Quem proíbe? O estado? As pessoas?

Não, as leis da física.

Sim! Isso mesmo! As leis da física!

O cientista de origem bantu Leicam Ordep, após experimentos feitos usando o Large Hadron Collider, localizado na Europa, o qual demorou 3 décadas pra ficar pronto, comprovou a existência de uma aura de subpartículas semânticas que protege tudo que for de natureza caucasiana.

O experimento inédito e muito ousado foi feito da seguinte forma: colocou-se na máquina 100 cobaias caucasianas de diversas etnias, todas européias. Em seguida apontou-se um canhão de insultos, que bombardeava-os a cerca de 3 por minuto.

Foto do experimento

Segue alguns exemplos disparados:

Aviso que se você for uma pessoa com coração sensível, são palavras fortes e que podem machucar. Fica por sua conta e risco.

Seu viking, bárbaro!

A pele dele tem cor de vômito de nenê!

Vai ow, seu lombrigão!

Olha o nariz dele, fino e grande, parece o do Pinocchio

Dono de escravos!

Urso polar da porra!

Cabelo de crina de cavalo!

Raça inferior! Não aguenta 15 minutos de sol!

Albino!

Volta pra sua terra, Olaf!

Olho azul pfff… parece olho de bicho!

Os medidores de ofensa, ligados ao cortex pré-frontal das cobaias até este presente momento não registram nem mesmo uma leve inclinação.

Vai ow, seu palmito do caralho!

Neste momento, por algum motivo misterioso, a agulha do medidor ensaia um pequeno twerk.

Tira esse turbante sua branca, isso é apropriação cultural!

Neste momento, por algum motivo muito do misterioso, as partículas semânticas protetoras de caucasianos se agrupam, formando uma pequena estrutura textual de tamanho notadamente grande e se movem em direção na direção do computador de um estagiário, o qual estava aberto em uma rede social de tons azulados.

O cientista tentou repetir o experimento com cobaias americanas. Por algum motivo algumas palavras conseguiam afetar algumas delas. O termo Honkey e Cracker foram alguns dos exemplos. Leicam Ordep no momento pesquisa a possível relação entre este fenômeno e o fato de os Estados Unidos terem eleito o primeiro presidente negro.

Obs: nenhuma cobaia caucasiana foi sacrificada durante o estudo. Após os experimentos, todas elas voltaram aos seus locais de branquitude e gozaram de uma vida digna e desprovida de preconceito racial.

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