Mulher preta, porque te amo?

Luiza Braga
Lado (B)lack
Published in
3 min readJan 20, 2017

Me amas pela meu sorriso largo, gordo, de quem entende a importância de rir. Mas será que ama o ser que existe por trás dele?

#Acessibilidade Fotografia de uma mulher negra sobre um fundo laranja. Ela está de perfil com um turbante com de detalhes roxos, usa grandes brincos triangulares dourados, um colar com o mesmo design e um top creme

No mundo do "mais amor por favor", lacração e empoderamento, é fácil cair na tentação de pensar que talvez mulheres negras estejam agora gozando do ideal de beleza, companheirismo e amor que lhes foi privado durante a recente história do mundo. Mas do lado de cá o recado é claro, não necessariamente é assim que a banda toca. Os espaços de aceitação e liberdade ainda são poucos, restritos e mesmo ao ultrapassar essas barreiras nos deparamos com a realidade, que é: Ainda somos corpos a serem consumidos.

O mundo te ama, olha esse cabelo, esse corpo, que diva, que mulherão da porra!

Por trás da miragem lacradora que temos em algumas mídias e espaços sociais, ignora-se o fato de que estamos preparando mulheres fortes para uma sociedade fraca. Fraca demais para perceber a grandiosidade da personalidade que nelas vive, para nota-las em sua fragilidade, sua complexidade e apreciar tudo isso.

Confrontados com esse aspecto humano da mulher preta tendemos a temê-lo, ou pior, simplesmente ignorá-lo. Porque não acolher essas mulheres em sua infinitude? Ir além da sexualização de seus corpos, da objetificação de seus cuidados, da firmeza das suas palavras e até mesmo das lágrimas que derrubam. Entender as experiências no interior de cada mulher negra é reconhecê-la enquanto humana, pauta prima da nossa luta.

Perceber e receber o outro faz parte do processo de amar.

#Acessibilidade Duas mulheres negras, sentadas uma ao lado da outra, encostadas uma na outra sorrindo, com seus braços entrelaçados.

Mulheres negras levam um mundo belo consigo, mas também carregam as marcas da luta pela sua sobrevivência no mundo, pela sobrevivência dos seus irmãos e das suas comunidades. Dos tempos de escravidão até hoje, resistimos na exigência pelos aspectos mais básicos da nossa humanidade, vida e história. E apesar disso, a sociedade não parece estar preparada para receber essas mulheres em sua plenitude. Amar sua luta, suas visões, reconhecer sua coragem ao apontar o que é preciso para ser livre, admirar o esbanjar da liberdade conquistada.

Parece que ainda não estamos dispostos a ficar ao lado da mulher negra

Não é preciso ir longe para ver como o mundo trata tais mulheres, veja suas manas militantes, quantas tem condições de trabalhos dignas de suas formações e seu esforço pessoal? Quantas tem relacionamentos estáveis, saudáveis, onde se goza do mínimo de equidade? Interações de companheirismo e apoio?

Não é fácil. É um caminho cheio de olhares vazios. Talvez o pior de ser um "personagem" estereotipado da sociedade seja a concepção de que não há necessidade de se aprofundar o olhar sob esse indivíduo. Basta uma ideia pré-concebida de quem ela é, ou deveria ser.

#Acessibilidade: Imagem em preto e branco de uma mulher negra sobre um fundo preto. No seu cabelo tem uma colagem colorida que vai se fundindo no preto representando o universo e a infinitude da mulher preta

Mais do que um like no look fabuloso do face, mais do que o aplauso pela texto lacrador.

Ame a mulher preta, conheça a mulher preta.

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Luiza Braga
Lado (B)lack

Ela é uma maníaca na pista. Designer, Cantora, Podcaster Produtora Cultural, Intelectual de calçada e Pres. do Conselho Municipal de Cultura de Londrina