4 coisas que podem mudar em você quando começar a viajar sozinha

Nathalia Marques
Lado M
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4 min readMay 6, 2018

O tremor se espalhou por todo o meu corpo durante a passagem pela imigração. Eu estava sozinha em outro país. Não havia nenhum conhecido para me ajudar. Era eu comigo mesma. Quando o cara da imigração entregou meu passaporte, subitamente minha pressão caiu. “E agora?”, pensei. “Agora você vai arrancar essa corrente do medo e seguir em frente”, retruquei. Foi assim que comecei a viajar sozinha.

Não esqueço a cena. Acho que jamais vou esquecer, pois foi um dos meus primeiros voos solos por este mundo. Hoje já coleciono vários. Peguei amor pela coisa, sabe? Mas sei exatamente o que passei antes de tomar a atitude de viajar sozinha e o que descobri, e descubro até hoje, por ser uma mulher viajando só por este mundo.

Há muitas coisas ruins? Não vou mentir, algumas vezes sim. Só que neste texto não vou falar sobre isso. Não neste momento. Agora quero compartilhar o que aprendi sobre viajar sozinha e que pode incentivar outras mulheres a fazerem o mesmo (se assim desejarem e tiverem condições, é claro).

Você arranca a corrente do medo de viajar sozinha

Infelizmente, nós, mulheres, vivemos cercadas pelo medo. Este é muitas vezes real e não é culpa nossa. Vivemos em um país com altas taxas de violência contra a mulher. Diante disso, o medo se torna uma defesa.

Só que ele também se torna uma corrente, pois delimita a ocupação dos espaços públicos. É aí que mora o perigo, pois deixamos de ocupar muitos espaços porque estamos sozinhas. Com isso, o medo vira uma corrente. Só que, felizmente, essa corrente não tem cadeado, você consegue se soltar.

Para isso, é necessário enfrentá-lo, pois somente assim entendemos que muitas vezes o amedrontamento que sentimentos é aprofundado por discursos com tom elevado nas redes sociais e na imprensa convencional.

Viajando sozinha aprendemos a tirar essa corrente. Entendemos que o cenário que transborda e reforça o medo não condiz exatamente com a realidade. Não estou dizendo, em nenhum momento, que a violência contra a mulher não é real. Ela é real, sim.

O que estou querendo dizer é que muitas vezes somos expostas a muitas notícias que acabam entrando em nosso inconsciente e gerando um estado de medo que paralisa. Viajando sozinha você acaba percebendo isso, tirando a corrente e dominando o medo (ao invés de deixar que ele te domine).

“Somos vistas tantas vezes como o sexo fraco, as vítimas. Percebi que só podia partir [viajar] se apagasse essa história da minha mente e, em vez disso, pensar em mim como uma pessoa forte”. (Cheryl Strayed, autora do livro Wild)

Entende que precisa de um tempo só seu

Somos ensinadas que temos que cuidar do outro. Isso é inserido muito cedo em nós. Você lembra da sua primeira boneca? Como era brincar com ela? Você tinha que cuidar dela, né? De certa forma, isso demonstra muito sobre o papel que a sociedade ainda impõe nas mulheres e reflete, muitas vezes, no nosso comportamento adulto.

Acabamos anulado muito do que somos e queremos pelo outro. Felizmente, isso vem mudando muito. Contudo, ainda há mulheres que não perceberam a reprodução desse comportamento. Por isso, acho tão importante que as mulheres tenham um tempo só para elas. Viajando sozinha, por exemplo, você acaba percebendo o quanto é importante ter um tempo só seu, cuidar de si mesma e amar sua própria companhia.

Começa a conhecer melhor quem você é realmente

Quem é você? Por acaso, você realmente sabe definir o que realmente curte? É difícil responder, eu sei. Isso acontece porque estamos constantemente com outras pessoas e elas acabam nos influenciando. Viajando sozinha você acaba respondendo essas perguntas.

É você com você mesma. É você para decidir o que vai comer, o que vai fazer, que lugar quer conhecer. Obviamente, você pode acabar conhecendo pessoas pelo caminho (principalmente, se ficar hospedada em hostel). Contudo, a maior parte do tempo será você conhecendo melhor esse ser que existe aí dentro do seu corpo.

Aprende a escutar uma voz dentro de você (mais conhecida como intuição)

Ao viajar sozinha, você começa a prestar mais atenção em si mesma, nos seus sentimentos e, além disso, tem que se cuidar. Desta forma, de repente uma voz interior acaba mais aflorada. Ela é a intuição que nos direciona para o melhor caminho e isso acaba sendo extraordinário, pois possibilita que tenhamos muito mais autoconfiança.

intuições

são suas ancestrais

soprando nos seus ouvidos

segredos de sobrevivência”.

(Ryane Leão)

Basicamente, essas são algumas das coisas incríveis que acontecem quando começamos a viajar sozinhas. Há muitas outras coisas, é claro. Só que aí vai de cada pessoa. Já que há mudanças que são, essencialmente, pessoais e que seria impossível listar aqui. Todavia, acredito que essas são as que possuem um peso consideravelmente importante.

Leia também: Como é ser mulher e viajar sozinha pelo mundo afora?

Originally published at www.siteladom.com.br on May 6, 2018.

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Nathalia Marques
Lado M
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Jornalista que viaja, literalmente e metaforicamente, e escreve sobre as coisas