A Heroína da Alvorada fecha com sucesso a saga Rebelde do Deserto
Os rebeldes estão destruídos e não há mais chance contra o poderio do sultão. Amani, a rebelde conhecida como Bandida de Olhos Azuis, agora terá que liderar um grupo desfalcado, salvar seus amigos e talvez seu país. Mas como fazer isso quando seu governante fecha a capital numa cúpula de fogo, prendendo-a ali dentro?
A Heroína da Alvorada, último volume da saga Rebelde do Deserto, publicada pela Editora Seguinte, é um livro repleto de mensagens. Questões como o poder do povo, a liberdade e a autodeterminação são bem trabalhadas na trama, com personagens imperfeitos e realistas. É incrível como mensagens tão fortes e tão atuais podem ser passadas pelas páginas de uma obra de fantasia. É ao povo que cabe decidir o futuro do país, de se decidir enquanto nação, de se levantar contra um soberano inapto. E isso tudo é visto ali.
Amani, principalmente, é um show de construção. Ela começou como uma garota da Vila da Poeira, que somente queria sair de sua cidade no fim do mundo, e, mesmo depois de ter passado por tanta coisa e ter até mesmo se tornado conselheira do príncipe rebelde, ela ainda se questiona quanto ao seu valor e sua importância. Frases como “O que eu, uma zé ninguém da Vila da Poeira, poderia dizer a uma general ou ao sultão? Eu não sou ninguém!” são repetidas até o momento em que ela para e percebe o quanto cresceu. Ela não era somente uma garota; era uma guerreira, uma sobrevivente, uma demji, uma conselheira real. Ela era alguém. Isso é algo que todas nós passamos em determinado momento de nossas vidas, em que duvidamos da nossa real capacidade — quando, na verdade, ao olharmos para trás, vemos um caminho de crescimento maior do que até mesmo imaginávamos.
O relacionamento dela com Jin, o forasteiro, é algo muito interessante. Diferente de muitos livros de fantasia — em que a protagonista, por ser uma mulher, acaba num relacionamento romântico e isso meio que se torna a trama central -, A Heroína da Alvorada mostra como um relacionamento pode ser difícil, ainda mais quando se está no meio de uma guerra. O casal nem sempre concorda, nem sempre se pega aos beijos. O romance não é nem de longe o foco, mas os momentos que surgem tornam tudo ainda mais realista. É algo que foi construído com o convívio, com os desafios, o que o torna muito forte e tangível.
Os personagens de A Heroína da Alvorada
Uma das minhas partes prediletas em A Heroína da Alvorada foram as mulheres. Todas elas, desde a tia da protagonista até a filha do sultão, eram mulheres fortes, moldadas para lutar por aquilo que acreditavam, inteligentes e poderosas. São poucos os personagens masculinos que possuem tamanha força quanto elas, especialmente quando são subestimadas.
Além disso, temos uma diversidade de personagens. A começar pela própria Amani, uma menina do deserto e, portanto, de pele escura (características ainda raramente encontradas em protagonistas), passando por Jin, com seu estilo meio oriental e repleto de tatuagens (outro fenótipo bastante difícil de se ver), além de Sam, que nem mesmo é de Miraji, e até mesmo Ahmed, o príncipe rebelde que é o mais próximo do perfeito de todos os personagens. Ele acredita verdadeiramente na bondade das pessoas e no poder do povo na hora de decidir seu destino, e quer fazer desse pensamento a linha do seu governo, diferente de seu pai. Apesar de toda sua história de fundo, ainda mais tendo como progenitor o sultão, ele é uma das criaturas mais gentis da trama e se comporta de maneira praticamente pia.
Vale a pena ler A Heroína da Alvorada?
A leitura é fluída e dinâmica, sempre está acontecendo algo ou se está descobrindo algo. A criatividade da autora em mesclar fantasia e lendas à realidade do mundo que criou é maravilhosa e, a cada história de deuses e seres fantásticos que são pincelados, a amplitude do universo que ela criou vem à tona.
Por fim, é uma saga que traz uma brisa fresca ao gênero fantástico. Cenários diferentes do tradicional europeu branco de florestas de carvalhos, personagens diferentes da princesa que precisa ser salva da torre e com criaturas bem distintas da fadinha com pó de pirlimpimpim. Foi com dor no coração que fechei as páginas da obra.
Leia também a resenha de A Rebelde do Deserto e A Traidora do Trono .
Originally published at www.siteladom.com.br on May 14, 2018.