A Origem dos Outros: racismo e literatura

Toni Morrison, ganhadora do Nobel de Literatura, reflete sobre questões raciais em seis ensaios no livro “A origem dos outros”

Giovanna Romano
Lado M
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3 min readJan 17, 2020

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A escritora estadunidense Toni Morrison foi convidada para proferir uma série de discursos na Universidade de Harvard, nos EUA, no ano de 2016. A junção dessas palestras deram vida ao livro A origem dos outros (2019). Morrison, em sua obra, procura entender os padrões de pensamento racial da atualidade e analisa-os a partir de questões políticas, históricas e literárias.

Morrison é, sem dúvida, um dos principais nomes da literatura mundial, e o seu livro se faz necessário para os dias de hoje — principalmente no contexto de ódio e intolerância que nos encontramos. A própria autora reconhece a literatura como uma arma fundamental para combater a desigualdade.

Para embasar a tese exposta no livro, a autora examina outros autores, como Harriet Beecher Stowe, Ernest Hemingway, William Faulkner e Camara Laya. Morrison também se coloca como exemplo no livro, citando algumas de suas obras mais famosas, como Amada (1987) e Paraíso (1997).

Uma vez a negritude aceita como social, política e medicamente definida, como essa definição afeta as pessoas negras? — A origem dos outros

A autora mostra que a literatura tem um importante papel na construção da história racial do país. Morrison expõe excertos sobre diversos pontos de vista, que revelam que a literatura pode exercer tal papel de forma positiva ou negativa, moldando as noções de uma sociedade.

A origem dos outros aborda questões de outras épocas, mas que ainda dizem respeito ao mundo globalizado. São nos contrastes literários que é possível observar a realidade por diversos ângulos: desde o século XIX, quando a escravidão era romantizada; até a realidade do racismo científico.

Os textos que compõem a obra são: “Romantizando a escravidão”, “Ser ou tornar-se o estrangeiro”, “O fetiche da cor”, “Configurações de negritude”, “Narra o outro” e “O lar do estrangeiro”. O prefácio é assinado pelo autor e jornalista estadunidense Ta-Nehisi Coates.

Sobre a autora

Créditos: Divulgação

A norte-americana Toni Morison foi a primeira mulher negra vencedora do Nobel de Literatura no ano de 1993. Chloe Anthony Wofford — nome real da autora — nasceu em 1931 em Ohio, Estados Unidos. Em seus romances, Toni sempre retratou a experiência de mulheres negras no país.

O primeiro livro da escritora foi O olho mais azul, publicado em 1970. Mas foi com a publicação de “Amada” (1987) que Toni recebeu um dos prêmios mais importantes para a literatura: o Pulitzer de melhor ficção. A autora escreveu ensaios, literatura infantil, peças e até um libreto de ópera.

Filha de um soldador e de uma dona de casa, Toni cursou Inglês entre 1949 e 1953 na Universidade de Howard. Após a universidade, a escritora iniciou o mestrado em literatura na Universidade Cornell, em Nova York. Sua tese foi sobre o suicídio nas obras de William Faulkner e de Virginia Woolf.

Por nove anos, Toni dedicou-se integralmente ao ensino. Ao término de um casamento que resultou em dois filhos, surgiu uma oportunidade de trabalhar na editora Random House. Foi quando ela se inseriu na indústria dos livros e, como editora, ela ajudou a tornar a literatura negra popular no país.

A escritora teve uma carreira memorável na literatura. Em 1993, ela foi premiada com o Nobel da Literatura por seus romances “caracterizados por uma força visionária e um influxo poético, [que dão] vida a um aspecto essencial da realidade americana”. Em agosto de 2019, aos 88 anos de idade, Toni morreu em Nova York por complicações de uma pneumonia.

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Giovanna Romano
Lado M
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jornalista, comunicadora, atriz, roteirista, cinéfila e feminista.