A realidade devia ser proibida, de Maria Clara Drummond
Eva é uma jovem da elite paulistana: foi criada pela mãe perfeccionista, frequenta baladas com DJs franceses e está escrevendo seu mestrado sobre Goethe. A história pareceria bem pretenciosa, não fosse a consciência que a personagem tem sobre a realidade que está inserida e as críticas que tece ao longo do romance, que dão ao livro força suficiente para ser difícil de largar a leitura.
Em um dos vários eventos badalados que frequenta, Eva conhece Davi, o estereótipo do cineasta cool, hipster e… casado. Entre conversas cheias de joguinhos com o pretendente, os flertes com outros caras, as viagens com suas amigas e as tentativas de terminar sua tese, conhecemos profundamente uma personagem que muitas vezes só queria fugir da felicidade forçada que a cerca.
O livro A realidade devia ser proibida destrincha as relações sociais da elite, os jogos de aparências e poder, as fotos que mostram mais que a realidade. As pressões desse universo ficam nítidas em uma personagem cheia de inseguranças, que questiona a sociedade em que vive, mas não deixa de seguir algumas convenções; que mantém a elegância em eventos sociais, enquanto o leitor conhece sua angústia interior e sabe que, assim como muita gente, Eva não está bem.
Maria Clara Drummond explicita cada detalhe de uma geração que poucos conseguem definir ou entender. São muitos os recursos utilizados pela autora para mostrar a comunicação que usamos todos os dias: a falta de pontuação que separe narração, diálogo ou mensagem de texto; o título com conjugação ~errada~ e o uso desse ~ irônico, tão típico das conversas de WhatsApp.
O romance é dinâmico, feito para se entregar ao seu ritmo e ler de uma vez só. É um retrato fiel da famigerada geração Y, interessante principalmente para quem conhece um pouco desse mundo glamouroso de São Paulo, que gira em torno da Oscar Freire, do Itaim Bibi e outros bairros nobres.
Originally published at www.siteladom.com.br on December 25, 2015.