A Rebelde do Deserto é o livro de fantasia que você precisa ler!

Gabrielle M.
Lado M

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Uma menina querendo fugir de sua cidade. Um forasteiro numa competição de tiro. Um deserto cheio de criaturas mágicas e perigosas. Um príncipe rebelde. Esses são alguns dos pontos trazidos pelo livro A Rebelde do Deserto, de Alwyn Hamilton, mas não os únicos. O livro, publicado pela Editora Seguinte, é muito mais.

Em A Rebelde do Deserto, a leitora é apresentada a uma protagonista não convencional. Amani é uma garota da cidade mais afastada da capital de seu país, Miraji. O Último Condado, onde ela vive, é um dos lugares que mais fabrica armas para o sultão, que comanda tudo com o auxílio de soldados estrangeiros. Enquanto isso, seu povo passa fome pelas ruas.

O machismo em Miraji

Em Miraji, as mulheres não tem voz alguma: seus bens pertencem aos homens que são como tutores em suas vidas. Elas não têm renda própria e servem unicamente pra a procriação. E pior: sofrem violência doméstica frequentemente. A própria Amani experimenta isso, já que é órfã de pai e mãe. Ela vive com seus tios odiosos, é pobre e mulher. Três coisas que em Miraji significam um destino impiedoso.

Quando seu pai chegava em casa bêbado, a menina corria para o deserto para aprender a atirar, e ficou tão boa nisso que a arma se tornou uma extensão de seu corpo. Seu maior sonho era sair daquele lugar onde crescera para ser independente e livre. Mas como todos os seus bens não lhe pertencem, ela decide disfarçar-se de garoto e participar de uma competição de tiro na calada da noite, numa tentativa de ganhar dinheiro. E lá ela conhece o forasteiro Jin, que a ajuda a escapa.

Uma das cenas mais interessantes é quando descobrem que Amani é uma mulher disfarçada de homem. A partir desse momento, ela se torna um nada: os homens, que até então ouviam suas ordens e sugestões, passam a simplesmente ignorá-la. E isso vem muito para o nosso dia-a-dia: vemos experimentos sociais aqui e acolá. Levante sua mão a mulher que já foi interrompida no seu discurso, que já foi ignorada pelos colegas homens, que nunca teve sua ideia atribuída a um companheiro do outro sexo. Aposto que são muitas.

Um livro envolvente

Em A Rebelde do Deserto conhecemos uma protagonista feminina muito forte e determinada, mas também humana. Diferente de alguns livros de fantasias, Amani bebe, é boca suja, boa atiradora, inquieta, destemida, muito sagaz, respondona e sonhadora. Ela quer ser livre e decidir o próprio destino. Quer ser ouvida ao invés de apenas fazer parte da decoração e principalmente, quer ser feliz. Para Amani, sair do Último Condado é uma necessidade latente. Ela é uma garota que apenas quer poder se virar sozinha e que se torna algo muito maior, descobrindo uma força além da que supunha ter a princípio.

Não apenas Amani é interessante, mas também todas as personagens que a cercam. Em A Rebelde do Deserto encontramos mulheres guerreiras, que são melhores com cimitarras que muitos homens. Temos forasteiros traidores cobertos de tatuagens, mães que fariam qualquer coisa para defender seus filhos, crias de deuses capazes de torcer e controlar a mente das pessoas. E se torna bacana a visão desses acontecimentos pelos olhos da protagonista, já que o livro está em primeira pessoa, narrado por Amani.

Um livro inovador

O próprio cenário de A Rebelde do Deserto é inovador. Muitos livros do gênero fantástico se passam em castelo europeus ou cidades nevadas, com dragões e elfos. Miraji não é nada disso. É um reino no deserto, remetendo muito ao Oriente, cheio de criaturas mágicas ligadas à natureza. Onde existe um sultão com várias mulheres e vários filhos, que não se importa em bater até a morte em uma de suas esposas — mesmo que ela seja a sua “favorita”.

Alwyn traz a realidade para uma fantasia, com temas muito interessantes como a submissão da mulher, a insatisfação popular, o desejo de mudança. Ela inclusive dá uma alfinetada sobre toda a questão de estrangeiros em terras que não lhe pertencem, como houve anos atrás com os Estados Unidos e o Oriente Médio — e que permanece até hoje.

Em A Rebelde do Deserto, temos uma diversidade de pessoas ao longo da leitura, de todos os jeitos e de todas as aparências. Além disso, acompanhamos o trajeto de Amani até ela descobrir onde realmente pertence e que existem pessoas como ela, com histórias semelhantes. Isso passa uma mensagem muito boa, não apenas sobre a mulher, mas toda a questão da representatividade e sororidade também!

A leitura agrada não apenas os fãs da fantasia, mas também aos de aventura e até mesmo romance. A força do povo, da amizade, da crença de que o mundo pode ser um lugar melhor e a força da mulher são temas muito presentes, e a fluidez do texto apenas acentua isso, fazendo com que o livro seja curto demais.

Leia também a resenha de A Traidora do Trono e A Heroína da Alvorada

Originally published at www.siteladom.com.br on October 2, 2017.

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