A vida é muito curta pra você ficar na geladeira de alguém
Meus pêsames pelas minas, pelas monas, por você, por mim e por quem mais estiver na geladeira. É, a geladeira, aquele lugar duvidoso de inércia e distanciamento para onde vão os atores sem rumo e para onde também vai você, que se vê envolvida com alguém que só te enrola e que não se decide se fode ou se sai de cima. Até porque, sejamos sinceras, não há problema algum se a intenção é só foder — desde que isso esteja claro para ambas as partes. O problema é a gente ficar na geladeira.
Quem sabe o que é ficar na geladeira bem reconhece os sintomas que acompanham esse limbo sentimental: vez ou outra, a boca vacilante deixa escapar meias declarações, o coração acelera quando uma nova mensagem é recebida e os seus braços estão constantemente abertos, mas parece que a pessoa não percebe, não liga, não dá u-m-a f-o-d-a para qualquer um desses gestos. E quando você aceita a derrota e se convence de que não vale à pena insistir, o “serumaninho” volta, te dá uma pontinha de esperança e te faz acreditar que talvez agora seja pra valer.
Disso tudo, as idas e vindas nem são o que mais te surpreendem. Ruim mesmo é a sensação que fica de estar se doando mais do que o outro, de ser aquele estepe a quem só recorrem quando precisam, da disponibilidade em aceitá-lo a qualquer momento, da ansiedade que isso te gera ou, numa linguagem mais direta, de estar fazendo o famoso “papel de trouxa”.
Lamento, leitora ou leitor, se de alguma forma rolou uma identificação com o que foi descrito no parágrafo acima, mas talvez a boa notícia seja a de que não, você não é “trouxa” por demonstrar o seu gostar. Certa vez, durante uma entrevista para a MTV, o Renato Russo fez a seguinte constatação enquanto falava de suas frustrações amorosas: “Sabe, eu tenho paranóia de não dizer para uma pessoa o que eu sinto por ela e essa pessoa, por algum motivo, sair da minha vida.” Embora dizer que gosta de alguém não seja garantia alguma de que a pessoa vá ficar ao seu lado, Renato tinha lá a sua razão: se arriscar faz parte do jogo, e se entregar aos nossos sentimentos é um ato político em tempos de liquidez. A gente não manda no que os outros sentem (ainda bem!), mas ao menos a nossa parte temos que fazer.
Se formos pensar pelo lado do sujeito indeciso (aquele que não sabe se fode ou sai de cima), “fazer a nossa parte” também diz respeito a ser sincero com aqueles com quem nos envolvemos, inclusive para dizer quando NÃO estamos tão a fim ou não partilhamos do mesmo nível de interesse. Só é preciso que haja a mínima decência de fazê-lo cara a cara. Retribuir o carinho com frieza ou levar dias para retornar o “bom dia” do WhatsApp não é a forma mais honesta, madura ou correta de se fazer isso.
Voltando a você, a pessoa na geladeira em questão: a vida passa muito depressa pra gente desperdiçar tempo e energia ficando em cima dum maldito muro. Vai lá, manda a real pro boy ou pra mina, e pergunta qual vai ser. Não fique fazendo mil suposições, isso é pior. Pelo sim ou pelo não, às vezes faz bem tomar uma dose extra de coragem e decidir se mais vale continuar nessa ou pular fora — assim, feito band-aid num machucado, que a gente ensaia e adia, mas sabe que o melhor é tirar de uma só vez para não doer.
E quer um spoiler? No final, sempre dói menos do que a gente espera.
Originally published at www.siteladom.com.br on March 23, 2017.