Aborto: devemos legalizá-lo ou não?

Clara Dantas
Lado M
Published in
3 min readJul 28, 2018

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Um tempo atrás, passei a me questionar acerca de um dos assuntos mais recorrentes em discussões polêmicas, seja em pautas feministas ou em religiosas: a legalização do aborto.

Percebi a necessidade de colocar-me contra ou a favor, apesar de meu desconforto inicial. Afinal, quem é que gosta de parar para pensar em questões tão delicadas?

Como fui aluna de um colégio tradicional católico, cresci ouvindo que:

– Abortar é errado, quem não está pronta para ser mãe deve tomar as devidas precauções (não transar antes do casamento pode ser considerada uma delas);

– Independentemente das circunstâncias, se você engravidou, é sua responsabilidade, então arque com as consequências;

– Tirar a vida de um ser inocente é um ato de extrema monstruosidade e, portanto, garantia de passagem só de ida ao famigerado inferno.

Já fui católica e espírita kardecista, mas hoje em dia não sigo dogmas. Adquiri crenças e uma determinada visão de mundo, mas preferi seguir um rumo mais pessoal no que diz respeito à fé e à espiritualidade. Resumidamente, acredito sim em Deus, mas repudio religiões. E mesmo quando eu me considerava cristã, não tinha o interesse de impor ao Estado as minhas convicções. Nunca fui fanática.

É aí que está: a legalização do aborto é uma questão de saúde pública, não de religião.

Se eu deixasse minha fé influenciar em questões que dizem respeito à sociedade como um todo, estaria me igualando à bancada religiosa fundamentalista do congresso nacional, que cotidianamente luta contra os direitos alcançados pela comunidade LGBT, por exemplo (e isso me inclui).

Bem, antes de tudo, devemos ter a consciência de que:

  • Ninguém deseja fazer um aborto. Descriminalizá-lo não o torna menos traumático.
  • Mulheres que estão determinadas a dar fim à gravidez, vão fazer o aborto de qualquer forma, seja clandestinamente ou não.
  • Legalizar o aborto não significa banalizá-lo, mas sim, regulamentá-lo. Ou seja, seriam implantadas políticas públicas para providenciar profissionais da saúde e clínicas especializadas no procedimento.
  • Legalizado ou não, o aborto continua oferecendo riscos à saúde da mulher. Não é porque não serão presas que as mulheres vão passar a abortar precipitadamente.
  • Vale ressaltar, ainda, que ser a favor da legalização do aborto não significa apoiar o aborto em si.

Por ser lésbica, não há como eu engravidar sem que isso esteja nos meus planos — a não ser, é claro, em caso de estupro. De toda forma, sejamos sinceros: ninguém quer manter o fruto de um abuso. Um lembrete físico da violência sofrida. Só depois de passar por uma experiência tão perturbadora é que eu poderia decidir o que fazer.

É isso que estão tentando negar às mulheres: poder de escolha. Livre arbítrio. É em torno disso que gira toda a problemática, toda a controvérsia. Que tal ampliarmos nossas preocupações para além de nossos próprios umbigos, começando a pensar coletivamente?

Sou a favor da legalização do aborto e de qualquer outra manifestação do poder feminino de tomar decisões.

Nota da autora: este texto foi uma “atualização” do meu posicionamento.

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