“Aos dezessete anos” fala sobre a importância de estarmos bem com o passado
Quando não compreendido, o passado pode ser um fantasma em nosso caminho. Não podemos vê-lo, mas podemos senti-lo em nossas ações do presente. Por isso, é sempre bom estar em paz com esse fantasma. É justamente sobre isso que fala o livro Aos dezessete anos, de Ava Dellaira, publicado pela editora Seguinte.
A história tem como protagonistas Marilyn e Angie. Duas mulheres, mãe e filha. Entre as duas, o silêncio de um passado mal resolvido que impacta diretamente no presente. Marilyn é uma mulher branca e pobre que durante sua adolescência teve que lidar com uma mãe abusiva. Nesta mesma época, ela vê seu destino mudar ao se apaixonar pelo pai de Angie, um adolescente negro.
A história de amor, antes mesmo de começar efetivamente, tem um final trágico. O pai de Angie morre antes dela nascer. Marilyn, sem saber lidar com a dor, cria Angie longe dessa história e do seu passado.
Para a menina, o reflexo disso é altamente prejudicial por diversas razões. Uma delas é que Angie é uma menina negra e, longe dos parentes do seu pais, ela acaba crescendo sem referências de negritude.
Apesar de Marilyn tentar ao máximo ajudar a menina a lidar com o racismo, percebemos que a falta de uma figura negra — e, principalmente, a falta de informações sobre o pai — acaba prejudicando Angie, que, aos dezessete anos, não consegue seguir em frente com sua vida.
No entanto, de forma muito delicada, a autora do livro nos apresenta os dois lados dos acontecimentos. Ao longo das páginas, as histórias de Marlyn e Angie vão floreando para que não haja julgamentos. Elas vão cruzando até se tornarem uma só.
Nessa teia de acontecimentos, Ava Dellaira, autora do livro, aborda questões importantíssimas como racismo e pressão estética. Contudo, com toda certeza, a mensagem central do livro é sobre a importância de lidarmos com nossas feridas.
Algo que deve ser pontuado é que, diferente do que a capa e o título apresenta, Aos dezessete anos não é um livro só para adolescentes, mas sim para todos que precisam perceber a importância de estar em paz com o passado.
“Acho que é uma boa ideia ficar em bons termos com a pessoa que consumávamos ser, quer a consideremos boa companhia ou não. Caso contrário, ela aparece sem avisar e nos pega de surpresa, batendo na porta da mente às quatro da manhã de uma noite ruim exigindo saber quem a abandonou, quem a traiu, quem vai ressarci-la”.
Originally published at www.siteladom.com.br on June 4, 2018.