Apenas 32% das mulheres brasileiras estão satisfeitas com a própria vagina, mostra pesquisa

Lado M
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6 min readSep 23, 2020

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A vagina é uma região do corpo da mulher rodeada por estigmas e tabus. Para entender como as mulheres lidam com suas partes íntimas, a empresa Intimus fez a pesquisa “Os Estigmas da Vagina”, em parceria com a Nielsen Brasil e a Troiano Branding, . Foram entrevistadas 398 mulheres brasileiras de 16 a 34 anos, de diferentes classes sociais, para entender como se relacionam com seus corpos.

Para muitas das entrevistadas, falar sobre a vagina abertamente significa trazer luz a esse tema que ainda incomoda algumas pessoas e nem sempre é fácil de ser debatido.

“Os estigmas em torno da vagina e da região íntima são alimentados por conversas superficiais sobre o corpo das mulheres. Vimos que, em alguns casos, essa cadeia de silêncio ou de diálogos superficiais é alimentada por mulheres. As mães, nesse caso, ‘escondem’ algumas faces da vagina”, diz Monica Fernandes, Líder de Consumer Insights de Cuidados Adulto e Feminino da Kimberly Clark.

Descoberta da vagina: primeiro contato e apelidos

O processo de descoberta passa pela fase de educação sexual, diferente entre meninos e meninas. As entrevistadas que convivem ou conviveram com irmãos homens revelam abordagens distintas: os homens são ensinados a viver sua sexualidade de forma mais aberta, diferentemente das mulheres.

A mãe costuma ser a primeira fonte de informações, porém as conversas tendem a se limitar a temas mais funcionais, como riscos à saúde. Fora de casa é mais possível conversar sobre o tema de maneira mais leve com amigos, pesquisas na internet e na escola. Das entrevistadas, 57% tiveram educação sexual na escola.

Perguntadas sobre o nome que dão à região íntima, 50% das entrevistadas a nomeiam como “vagina”. Há ainda nomes relacionados a animais, que dão a ideia de “pequeno”, “frágil” e “inofensivo”; além de outros inventados ou no diminutivo, que indicam infantilização: “florzinha, “pepeca”, “pipiu” e “periquita” também aparecem.

“As flores são a representação visual mais comum trazida pelas mulheres, o que reforça esse imaginário de delicadeza e pureza que elas cultivam”, analisa Monica Fernandes.

Por outro lado, termos como “perseguida” trazem uma carga de obscenidade, sujeira, impureza e animais que não geram afeto.

“É como se esses nomes não expressassem o respeito que a vagina merece. O nome ‘vagina’, por outro lado, por ser mais ‘biológico’ de origem, parece ter um espaço reservado sem tombar para um lado ou para o outro”, segundo Monica Fernandes.

Quando o assunto é a diferença entre vulva e vagina, muitas ainda se confundem: 50% acharam que a imagem da vulva era uma vagina e outras 43%, ao se depararem com a vagina, acharam que era a vulva.

A famosa menstruação

A menstruação costuma ser o momento mais significativo na transição de menina para mulher, junto ao desenvolvimento do corpo, o crescimento dos cabelos e dos seios.

“Minha mãe nunca conversou sobre nada comigo. Quando eu menstruei, ela foi comigo na farmácia, disse que eu tinha que ter cuidado agora, que não deveria ficar perto dos meninos. Eu não entendia o porquê. Depois fui conversando com amigas, buscando informação na internet e aos poucos fui entendendo. Fui saindo do obscurantismo”, disse uma mulher da região Nordeste.

Algumas entrevistadas trouxeram uma visão positiva da menstruação, de que “ela limpa e equilibra o corpo. É um sinal de saúde e vitalidade”.

Das entrevistadas, 50% revelam ter interesse em ler sobre as partes íntimas do corpo e o período menstrual para entender melhor como funcionam. E, para 56%, conhecer melhor o corpo pode ajudar a entender mais o ciclo menstrual e aceitá-lo melhor. Já 54% do grupo de 16 a 23 anos, apesar de não gostarem de menstruar, veem vantagens no ciclo menstrual.

Vagina toda depilada?

Apesar de, racionalmente, abraçarem a “liberdade” dos pelos e até questionarem os motivos da depilação, este hábito ainda aparece fortemente associado a limpeza, bem-estar e beleza.

Frequentes ou não, muitas optam pela depilação total. Para elas, os pelos não parecem ser necessários e chegam a ser irritantes, embora algumas citem os benefícios de manter os pelos para a saúde.

Em geral, a maioria remove completamente os pelos da área íntima e, do total, 66% usam lâmina para se depilarem. Já 32% revelaram que depilam a região uma vez por semana, enquanto 24% a cada 15 dias.

“A sensação de estar peluda causa desconforto, pois os pelos ficam roçando na calcinha e é desconfortável”, afirmou uma entrevistada do Sul do Brasil.

1 em cada 4 mulheres não costuma tocar a vagina

Das entrevistadas, 1 em cada 4 não costuma tocar na vagina. No entanto, as mulheres de faixa etária mais velha, entre 35 e 45 anos, afirmam fazê-lo com mais frequência do que as mais jovens, o que mostra que a maturidade traz mais intimidade com o próprio corpo.

Contudo, as mais velhas sentem mais dificuldade de considerar suas vaginas como “bonitas”. Apenas 26% do total concordam com essa afirmação. Por mais que a maioria fale da importância de reconhecer a diversidade do corpo feminino e da região íntima, o formato ou o aspecto da vagina ainda gera angústia e insegurança para muitas delas.

A pesquisa mostrou que, além de trabalhar na aceitação da vagina como ela é, algumas mulheres também precisam lidar com críticas externas, assédio e humilhação devido ao formato de suas vaginas: 68% relatam ter algo que não gostam na vagina. Os pelos aparecem liderando com 33%, seguidos da cor (18%), cheiro (18%), aparência (17%) e tamanho (15%).

Para Monica Fernandes, há um desejo de abraçar a diversidade de formas, cores, tamanhos e aspectos, mas a prática é outra. “O processo de desconstrução está em andamento. Além disso, o discurso social sobre a liberdade da vagina ainda não é totalmente vivenciado, o que mostra que é algo ainda muito forte a ser superado”.

Prazer para a vagina

Na pesquisa “Os Estigmas da Vagina”, ficou evidente que a descoberta do prazer envolve dois aspectos: o prazer com elas mesmas e com o outro. Nesse sentido, a masturbação é uma realidade para a maioria das mulheres entrevistadas e surge como um grande espaço de autoconhecimento e vivências lúdicas. Para muitas, é encarada como essencial para ter prazer com os outros.

“Eu poderia comparar a descoberta do prazer com comer sushi. Hoje é minha comida preferida, eu me divirto muito! Mas é um tipo de comida que a princípio não é tão fácil de gostar. Gera estranheza, até certo nojo. Assim como cada relacionamento que tive, aprendi a gostar mais”, diz uma entrevistada do Nordeste.

Um ponto interessante é em relação ao sexo oral na vagina. Do total de entrevistadas, 52% se sentem confortáveis em receber. Já 18% se sentem desconfortáveis.

Vagina e o empoderamento feminino

Apesar de a vagina ainda ser fonte de medos e ansiedades, é através do relacionamento com ela que parte das mulheres percorrem uma jornada de empoderamento. Além dos prazeres, o conhecimento abre portas para o cuidado adequado com a saúde da região vaginal, questionando estigmas e colocando-os em contato com as experiências de outras mulheres.

“A vagina expressa uma dualidade inerente ao feminino: fragilidade e força. Mostra ao mesmo tempo a fragilidade da mulher, com seus medos, vergonha e força, com prazer e conexão. E é por meio do conhecimento e autoconhecimento que as mulheres navegam entre essas duas polaridades, atingindo um estado de autoestima positiva, quando esses dois polos estão bem equilibrados”, afirma Monica Fernandes.

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