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As mulheres na tecnologia: a luta continua

Natália Sanches
Lado M
Published in
3 min readMar 24, 2020

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Engana-se quem associa a área de tecnologia a apenas homens bem sucedidos e cheios de ideias inovadoras. No entanto, como toda história contada por um ponto de vista, o protagonismo das mulheres foi totalmente apagado pela sombra dos homens da época. Data-se o século XVIII como o período em que Ada Lovelace programou pela primeira vez e se tornou um dos principais nomes da computação científica do mundo. De lá pra cá, as mulheres sempre estiveram presentes na área tecnológica, chegando em um número impressionante de 70% das matrículas do curso de Ciência da Computação serem de mulheres no IME — USP no ano de 1974.

Entretanto, infelizmente, cada vez que mulheres avançam em seus direitos e vontades, há toda uma estratégia para elas regredirem se são vistas como ameaças. Hoje, no auge da tecnologia no mundo, apenas 20% das profissionais de TI são mulheres, segundo o IBGE. Divulgada na mídia como uma área “masculina”, quando pesquisa-se “liderança TI” no Google Imagens, homens aparecem na totalidade.

Viviane Galindo, Performance de Mídia da Nextar, uma empresa de tecnologia, conta que essa “estratégia” é cultural e faz parte de um pensamento patriarcal de que as áreas de exatas não serão bem efetuadas nas mãos das mulheres já que, culturalmente, elas são ótimas com o público. As áreas de Humanas, como Direito ou Licenciatura e áreas biológicas como Enfermagem ou Nutrição têm, em sua maioria, mulheres matriculadas, mas não por uma questão de gênero e sim pelo incentivo social que recebem na hora da escolha profissional. “Tudo começa quando somos crianças e insistem em dizer que as mulheres são de humanas e os homens de exatas, que números não são coisas de mulher, etc. Todo mundo pode exercer e se aventurar no que se sentir mais confortável”

Viviane Galindo ainda conta que é apaixonada pelos robôs e inteligência artificial desde criança e que esta vontade de aprender tecnologia resultou na sua formação em Engenharia Eletrônica. Na área há aproximadamente 3 anos, a profissional ressalta a discrepância de tratamento se houver uma competitividade entre um homem e uma mulher por uma vaga: “Somos desacreditadas o tempo inteiro(…), sempre precisamos provar mais(…), e ainda procurar aprovação masculina”.

Por outro lado, há mulheres resistindo a esse cenário. No início do ano de 2018, a Forbes, uma renomada revista de negócios e economia, publicou uma lista com 6 mulheres super poderosas no ramo da tecnologia. Entre elas estão:

  • Sheryl Sandberg, chefe operacional do Facebook
  • Susan Wojcicki: atual diretora-executiva do YouTube
  • Ginni Rometty: a primeira diretora-executiva da IBM.

Ginni ainda completa: “Uma das coisas mais importantes para qualquer líder é nunca deixar ninguém definir quem você é. Você define quem é. Eu nunca penso em mim como uma mulher CEO desta empresa. Eu penso em mim como administradora de uma grande instituição”.

O reconhecimento aparece aos poucos, mas ele não chega na questão salarial. Segundo o jornal Estado de Minas, empresas de TI pagam 15,8% a mais aos homens. A desculpa das empresas de tecnologia não é diferente da de outras áreas, o que impede tal igualdade é a questão da maternidade. Muitas mulheres interrompem a carreira para engravidar e, por causa disso, “atrapalham” o andamento da empresa. Essa justificativa é absurda em muitos sentidos, primeiro que a maternidade é uma construção social e não é certo que absolutamente todas as mulheres desejam ser mães, em seguida, a mulher não deveria ter que escolher entre maternidade e carreira e sim, viver em equilíbrio nestas duas instâncias para se sentir completa.

Quando questionada sobre qual deveria ser o diferencial de uma líder, Viviane responde: “Para mim o diferencial para se tornar uma líder é saber ouvir, acolher e incentivar o melhor da sua equipe. Incentivar o desenvolvimento pessoal de cada um, deixando-os explorar as áreas que se sentem à vontade e tem interesse em crescer.” Todas estas características não levam em consideração o gênero dos profissionais.

No século XXI, é preciso apoiar as mulheres na tecnologia, pois elas estão nos bastidores, nos holofotes e consumindo tais produtos na área. É preciso desconstruir os papeis sociais que são impostos na infância e incentivar as meninas a elas serem o que quiserem.

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Natália Sanches
Lado M
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é Natit. Professora especializada em Estudos Brasileiros, paulistana de nascença, mas catarinense de coração. 17 tatuagens e cabelo curtinho. Gosta de tulipas.