Audrey Hepburn vai além de Bonequinha de Luxo

Victória Pimentel
Lado M
7 min readJun 22, 2015

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Certos atores e atrizes, por interpretarem personagens memoráveis, ficam associados a certos elementos que remetem — como em um ciclo — a estes papéis. Por exemplo, se pensarmos em Marilyn Monroe, de imediato nos vem à cabeça a imagem de um vestido branco, plissado e esvoaçante, usado pela loira no filme O Pecado Mora ao Lado (1955). Já, quando pensamos em Audrey Hepburn, as palavras “bonequinha de luxo” piscam inevitavelmente em nossa cabeça como um letreiro colorido, ao mesmo tempo em que visualizamos a atriz vestindo um tubinho preto, adornado por um colar de pérolas, óculos de sol Ray-Ban e um copo de café nas mãos.

É curioso, no entanto, pensar que Holly Golight, a garota de programa de Bonequinha de Luxo (1961) — ou, em outras palavras, o papel mais célebre da atriz belga — não lhe rendeu nenhum prêmio de grande destaque. Na realidade, o único Oscar que Audrey ganhou — com exceção do Prêmio Huminatário Jean Hersholt, dedicado à atriz em 1992 — foi pela atuação em A Princesa e o Plebeu (1953), como Ann, a princesinha fugitiva que se apaixona pelo jornalista charmosão, interpretado por Gregory Peck. Outras nomeações e prêmios arrebatados pela atriz, inclusive, foram em razão de papéis em filmes ainda menos populares. Vale lembrar que fazem parte da filmografia da atriz, ao lado de Bonequinha de Luxo e A Princesa e o Plebeu, mais 27 filmes, realizados para o cinema ou para a TV, o que mostra que a carreira de Audrey Hepburn vai muito além de um look eternizado por uma bonequinha irreverente. Conheça, então, outras seis produções glorificadas com a atuação da atriz, tão lembrada por sua vivacidade e elegância:

Sabrina

Audrey, o vestido Givenchy e William Holden, em Sabrina (Reprodução)

Muitas vezes, quando certo filme ganha um remake, este acaba se tornando mais conhecido do que o longa original. Com Sabrina (1954) foi assim. O filme ganhou uma nova versão em 1995, com Julia Ormond, Greg Kinnear e o galã Harrison Ford nos papéis principais. Enquanto isso, a primeira versão traz Audrey Hepburn no papel de Sabrina Fairchild e William Holden e Humphrey Bogart como os irmãos David e Linus Larrabee. Na história, Sabrina é a filha do chofer dos Larabee, uma família riquissíma de Long Island. Linus é o irmão sério, workaholic, dedicado aos negócios da família. Já, David, é o irmão namoradeiro, que tem como único interesse a sua própria diversão, e por quem Sabrina é apaixonada. Interessado pelas jovens ricas e frequentadoras de suas famosas festas, David não tem olhos para Sabrina, até que a moça volta de uma temporada em Paris, onde se dedicou a um curso de culinária (no remake, Sabrina vai para a Cidade Luz para fazer um curso de fotografia!). A moça retorna madura e elegante, quase irreconhecível, finalmente chamando a atenção de David. Aos poucos, no entanto, Sabrina percebe que seu coração já não pertence mais ao jovem sedutor. Apesar da trama clichê, a história é contada com muito humor. É também neste filme que Audrey eterniza um dos modelos mais famosos da moda e do cinema: o vestido de baile branco bordado desenhado pelo estilista francês Givenchy.

Guerra e Paz

Audrey e o então marido Mel Ferrer, como o Príncipe Andrei, na adaptação de Guerra e Paz.

O romance Guerra e Paz foi escrito pelo russo Leon Tolstói no século 19. Famoso pelo enorme número de páginas, o livro, como a maioria das grandes obras da literatura, também ganhou uma adaptação para o cinema, em 1956. Dirigido pelo diretor americano King Vidor, o longa traz Audrey Hepburn, Henry Fonda e Mel Ferrer nos papéis dos protagonistas Natasha Rostov e os amigos Pierre Bezukhov e o príncipe Andrei Bolkonsky. Um fato singular sobre a produção é que, na época em que foi gravada, Audrey era casada com seu companheiro de cena Mel Ferrer. Guerra e Paz tem o enredo situado na Rússia de 1812, durante o chamado Período Napoleônico. É neste contexto, às vésperas de uma possível invasão do imperador francês, que a jovem Natasha se vê em um triângulo amoroso junto de Pierre, que acaba de romper com sua esposa, a infiel Helene (Anita Ekberg), e do recém-viúvo Andrei. O filme foi nomeado aos Oscars de Melhor Direção, Melhor Cinematografia, com Jack Cardiff, e Melhor Figurino, de Maria de Matteis. Além disso, foi indicado a cinco categorias do Globo de Ouro — entre elas a de Melhor Atriz, com Audrey — , garantindo apenas, porém, o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro.

Cinderela em Paris

Antes de se tornar atriz, Audrey tinha o sonho de ser bailarina. Ainda que tenha seguido por outro caminho, a moça teve a oportunidade de dançar nos vários musicais em que atuou. Um deles é o longa Cinderela em Paris (1957), em que Audrey canta e dança ao lado do renomado ator e dançarino Fred Astaire. No filme, Astaire é fotógrafo de moda da revista Quality Magazine. Em uma sessão de fotos em uma livraria de Nova York, o rosto da atendente Jo Stockton, personagem de Audrey, lhe chama a atenção — eis a modelo perfeita para estrelar a nova coleção da revista! Jo, no entanto, é uma vendedora tímida e muito mais interessada em filosofia do que em moda, e só aceita o trabalho como modelo porque este inclui uma viagem à Paris onde espera conhecer seu maior ídolo, o filósofo Emile Flostre (Michael Auclair). Muito antes de O Diabo Veste Prada (2006), Cinderela em Paris faz uma homenagem à moda. No longa, a atriz firma mais uma vez a duradoura parceria com Givenchy no figurino de seus filmes (vale lembrar que o tubinho preto de Bonequinha de Luxo também é criação do francês).

Abaixo, a canção Funny Face, cujo nome é também o título original do filme.

Uma Cruz à Beira do Abismo

Audrey como a noviça Gaby — ou Irmã Luke, como era chamada dentro do convento.

Se engana aquele que pensa que Audrey Hepburn deu vida apenas a belas mocinhas em filmes românticos. Ainda que o romance esteja, de fato, bastante presente nos principais filmes de sua carreira, a atriz foi além. No filme Uma Cruz à Beira do Abismo (1959), a versalitidade de Audrey se manifesta ao passo em que interpreta a noviça Gaby. Filha de um famoso cirurgião, a moça entra para o convento com o objetivo de atuar como enfermeira no Congo. O enredo do longa tem como foco a trajetória da personagem a partir de sua entrada no convento, destacando suas dificuldades em se adaptar às rigidíssimas regras do local, além de uma passagem um tanto conturbada como enfermeira assistente em um sanatório. Quando finalmente consegue realizar seu sonho de ir para o Congo, trabalha com o Doutor Fortunati, interpretado por Peter Finch. Após trilhar um caminho repleto tanto de realizações como de frustrações, só quando retorna para o convento, na Bélgica, que Gaby compreende mais sobre suas limitações e sobre o caminho que precisa seguir. Apesar de apenas ter garantido prêmios em pequenos festivais, o filme foi nomeado a 8 Oscars e 5 Globos de Ouro, com destaque para a atuação de Audrey e para a direção do austríaco Fred Zinnemann.

Um Caminho Para Dois

Entre momentos muito felizes e outros nem tanto, o casal faz um flashback de sua relação, passando por diversos momentos e épocas. A mudança é visível, principalmente, no figurino.

O longa inglês Um Caminho Para Dois (1967) até poderia ser mais um dos romances otimistas e quiméricos em que Audrey teve a oportunidade de atuar, se não fosse, na verdade, um filme bastante realista sobre um casal com o casamento em crise. A atriz dá vida a Joanna, casada com o arquiteto Mark Wallace, interpretado por Albert Finney. Esgotados por um casamento cansado e cheio de brigas, os dois se voltam ao passado para tentar descobrir como e por que tudo deu errado — e se o relacionamento, tão conturbado, ainda vale a pena. O filme, dirigido por Stanley Donen, tem o enredo alinear: mistura momentos do presente e do passado do casal. A partir dos flashbacks de cenas de viagens realizadas pelos dois, vemos como se conheceram e como se apaixonaram. Além disso, testemunhamos também a transformação do relacionamento do casal ao longo do casamento, e como, entre pequenos estresses, discordâncias e traições, a relação foi ficando cada vez mais difícil.

Um Clarão nas Trevas

Audrey como a cega e corajosa Suzy.

Audrey Hepburn sempre foi muito bonita. Tinha os traços delicados, era simpática e elegante e, por isso, personagens doces e graciosos sempre lhe caíram muito bem. Apesar de tudo isso, por mais adoráveis que fossem seus papéis, eles sempre possuíam um quê de força e espirituosidade que fazia com que estes se diferenciassem de tantas outras mocinhas indefesas do cinema. O suspense Um Clarão nas Trevas (1967), é a prova viva de que a atriz sempre soube misturar seu lado meigo com muito ímpeto e vivacidade. No longa, Audrey interpreta Suzy, recém-casada com o fotógrafo Sam (Efrem Zimbalist Jr.). Cega devido a um acidente, a jovem tenta lidar com sua nova condição. Quando Sam parte para uma viagem de trabalho, porém, Suzy recebe a visita inusitada de Mike (Richard Crenna), que diz ser um antigo amigo de seu marido. Mike, no entanto, juntamente de Roat (Alan Arkin) e Carlino (Jack Weston), está à procura de uma misteriosa boneca que foi parar por acaso no apartamento do casal. Os três homens inventam, então, uma história para convencer Suzy a ajudá-los a achar a boneca que, na verdade, traz um carregamento de heroína em pó.

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Originally published at www.siteladom.com.br on June 22, 2015.

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