Beauty Bike: bicicletas, maquiagem e empoderamento!

Cris Chaim
Lado M
5 min readDec 19, 2015

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Bicicleta e feminismo talvez tenham sido alguns dos assuntos mais comentados no 2015 paulistano: inauguração de ciclovias, fechamento da Av. Paulista e do Minhocão, novas ciclofaixas, redação do ENEM, #primeiroassedio, #amigosecreto e tantos outros que dariam textos ótimos. Para encerrar meu ano no Lado M, entrevistei o Alexandre, um dos idealizadores da Beauty Bike, projeto que une bicicleta e maquiagem em prol do ciclismo urbano e do empoderamento feminino.

A ideia da Beauty Bike é levar uma bicicleta rosa vintage (super fofa) para eventos, projetos, associações e onde mais as mulheres precisarem. O projeto é fruto da parceria dele com a esposa e nesse primeiro ano já fez várias ações, além de ter uma página super legal no Facebook com posts quase diários.

Vamos à entrevista!

– Quem está por trás da Beauty Bike? O que vocês faziam antes? O que vocês fazem além dela?

A Beauty Bike é uma inciativa que nasceu dentro de casa. Eu a Van (Vanessa Manisck, minha esposa) estávamos conversando sobre o que poderíamos fazer. Eu acabara de ser dispensado da empresa onde trabalhava com conteúdo para uma marca de beleza e ela estava vendendo cosméticos por venda direta. Juntamos isso com meu amor por bicicletas (fui um dos criadores da CicloFaixa de Lazer de São Paulo) e a idéia pareceu legal. Mandei pintar a bicicleta e no meio do caminho as idéias foram surgindo Ela ainda está tomando forma, cada coisa nova que fazemos abre outras possibilidades. Mas continuo sendo publicitário e fazendo trabalhos e ela segue com a venda de cosméticos. Mas a Beauty Bike que era um plano B ganhou importância nas nossas vidas. Ainda não cresceu para vivermos disso mas é nossa esperança e desejo.

– Como vocês veem o papel da maquiagem no empoderamento feminino?

Vemos a maquiagem como uma aliada da mulher. Acreditamos que a mulher deve se maquiar primeiro como exercício de auto-conhecimento, numa rotina que permita ela entender seu rosto, como ele vai mudando e envelhecendo, e aprendendo a se gostar e se admirar. Através desse conhecimento ela passa a se gostar mais, do auto-conhecimento vem a auto-estima. Em segundo como ferramenta de expressão; ela pode escolher como se apresentar, com ou sem maquiagem, com só um batom ou uma super make. A maquiagem é a roupa dos rosto e complementa a expressão de como ela apresenta socialmente. Enfim, a mulher que se conhece, se gosta, sabe se expressar e cuida de si mesma está mais forte para enfrentar a sua rotina e conquistar o mundo.

– Algumas frentes do feminismo acreditam que a maquiagem é uma imposição da sociedade pela “beleza ideal”, outras a veem como ferramenta de empoderamento. Como vocês lidam com as correntes de feminismo anti-maquiagem e como a mulher pode lidar?

Então, essa é uma questão delicada. Sim, criar um padrão de “beleza ideal” é perigoso e não ajuda em nada nenhuma vertente do feminismo. E por um lado é burro pois se uma indústria como a da beleza quer atingir mulheres diferentes e diversas deveria respeitar isso e não querer criar um padrão (saio falando só de mundo ocidental porque se calmos de mundo isso fica ainda mais bizarro). Acho que as marcas de beleza deviam apresentar possibilidades, para mulheres e, porque não, para homens. Acho que a indústria cosmética vai crescer ainda mais quando começar a falar de gênero, porque isso cria públicos mais diversos. Mas não acho que a maquiagem é anti-mulher, pelo contrário, é super pró-mulher. Antigamente era mal visto as mulheres se maquiarem, a maquiagem ajudou na auto-afirmação da identidade e emancipação femininas. Veja por exemplo, pensei outro dia, uma música linda de Dorival Caymmi que fala: Marina você se pintou, não estrague esse rosto que eu gosto (algo assim) O homem não queria a mulher maquiada. Elas conquistaram isso. E aí o mundo machista tenta ditar: então já que vcs vão se maquiar então façam assim. Acho que a maquiagem deve ser amiga da mulher e o padrão, o ideal, a censura, devem ser o inimigo.

– A bike foi um dos grandes temas do ano na cidade de São Paulo. O que vocês enxergam como tendência de comportamento feminino na mobilidade urbana para os próximos anos?

Venho trabalhando com bicicleta desde que ajudei a criar a CicloFaixa de Lazer em São Paulo. Conheci muita gente bacana que luta por esse modal e algumas das mais interessantes são mulheres incríveis que nos ensinam muita coisa sobre bicicleta e sobre ser mulher no trânsito de São Paulo. Acho que a mulher é mais consciente de sua segurança e se preserva mais que o homem. Elas vão para a rua quando se sentem seguras. E quando vejo mais mulheres pedalando nas ruas é que sinto que a cidade realmente vai mudar. Acho que a cidade precisa disso, mais mulheres e mais bicicleta, a cidade é muito agressiva, muito violenta, o trânsito é um reflexo disso. Lembre-se que é “o” carro e “a” bicicleta.

– Para terminar, quais foram as ações mais empolgantes que vocês fizeram em 2015? Tem alguma história marcante?

Temos pouco tempo de vida e ainda não são muitas histórias, apesar de já termos feitos muito eventos interessantes. Mas a primeira vez que sai pedalando e parei na Paulista me deu a certeza de que tinha algo certo nessa idéia, o interesse, a surpresa das pessoas. Outro divisor de água para mim foram a clínica de bicicleta para terceira idade onde maquiamos as senhoras que me mostrou um público que ama ficar linda e é ignorado pelas marcas e pelos conteúdos de beleza. E para mim, o dia que fiz o post comigo maquiado em vez da Vanessa. Foi um conteúdo muito curtido e comentado. O que tem a ver com o que falei sobre gêneros, o quanto isso ainda choca. Não acho que os homens vão sair se maquiando mas o impacto dessa idéia me fez pensar sobre os tais padrões que você mencionou.

– Fiquem à vontade para escrever uma mensagem para as leitoras do Lado M.

Fico muito orgulhoso de falar sobre a Beauty Bike aqui para o Lado M. Primeiro porque sou um homem falando sobre temas tão femininos. A Vanessa, minha sócia e esposa divide comigo tudo que fazemos e falamos mas eu gosto de falar sobre esses temas porque acho que quando homens levantam bandeiras feministas eles mandam um recado para outros homens de “não, eu não sou como você e não vou aceitar o que vocês fazem com a mulheres, elas não estão sozinhas nessa luta” . E finalmente porque a Beauty Bike tem, além do negócio, essa vontade social de realmente reconhecer e empoderar todas as mulheres, sem distinção, tentar ser uma voz nesse mundo de beleza que fala: sim você é linda e pode contar comigo para se divertir, se maquiar, se conhecer e se auto-afirmar.

Originally published at www.siteladom.com.br on December 19, 2015.

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Cris Chaim
Lado M
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Empoderamento feminino, aceitação corporal, drinks e livros