Reprodução: Netflix

Bom dia, Verônica mostra com maestria como uma relação abusiva escala

Ane Cristina
Lado M
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3 min readNov 26, 2020

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Bom dia, Verônica foi lançada em outubro de 2020 e já teve a segunda temporada confirmada pela Netflix. A produção é baseada no livro homônimo de Raphael Montes e Illana Casoy e ficou por semanas no Top 10 da plataforma de Streaming.

Em oito episódios, conhecemos a história da escrivã Verônica Torres (Tainá Müller), que fica obstinada a desvendar quem é o homem que aborda mulheres através de um site de relacionamentos e as droga, após uma das vítimas do criminoso cometer suicídio na sua frente.

Mas a história fica ainda mais complicada quando Verônica conhece Janete (Camila Morgado), que parece, no mínimo, viver um relacionamento abusivo com o marido, o Tenente Brandão (Eduardo Moscovis).

E é justamente nesse aspecto que a série mais acerta. Logo de início, o comportamento de Brandão em relação à esposa causa incômodo. Graças à maravilhosa atuação de Camila Morgado, fica nítida, mesmo sem violência física, a atmosfera de medo que permeia a casa do casal. Conforme a trama avança, a relação abusiva vai escalando, como acontece na vida real.

Um outro aspecto de relacionamentos abusivos bem retratado na produção é o isolamento da vítima. Janete não tem amigos, não tem contato com a família e, para além do cumprimento de tarefas domésticas como ir ao mercado ou colocar o lixo, só sai com o marido.

Também é interessante que Brandão seja justamente um policial. Em teoria, alguém que ocupa essa posição deveria proteger a população. E falando em polícia, a série também acerta em mostrar o tratamento que mulheres vítimas de violência podem receber quando buscam por justiça. Segundo uma pesquisa do Datafolha realizada a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública no ano de 2019, 52% das mulheres que sofreram algum tipo de agressão em 2018 optaram por ficar caladas.

Reprodução: Netflix

Verônica

Outro ponto alto da produção é a protagonista. Verônica é uma mulher forte, que já enfrentou vários desafios, incluindo emocionais. Ela também é mãe e algo que acontece em menor escala na série, mas não deixa de ser interessante, são os diálogos que ela tem com a filha, que questionam o padrão de beleza e mostram como esse assunto já afeta as meninas desde a infância.

Reprodução: Netflix

Mas a série também têm defeitos

Algumas situações são mal explicadas e outras são furos escrachados. Além disso, espectadores reclamaram do excesso de violência à mulher em algumas cenas. De fato, algumas passagens são extremamente fortes. É importante retratar a violência à mulher, mas, em excesso, se torna uma tortura assistir. Especialmente quando se é mulher.

Uma opção seria que o tempo dedicado a essas cenas tivesse sido utilizado para explicar melhor uma parte do enredo que ficou confusa. É algo que eu gostaria de ver na segunda temporada.

Raphael Montes e Illana Casoy já confirmaram que o livro no qual a série é baseado ganhará uma sequência intitulada Boa tarde, Verônica. Por enquanto, não há informações se a segunda temporada da série será baseada nesse livro que ainda não tem lançamento previsto. Mas a torcida é para que a história da série não se afaste muito da original.

Bom dia, Verônica é uma ótima indicação para quem gosta de suspense, thrillers criminais e dramas. Foi uma das melhores séries que eu vi esse ano e, aproveitando para puxar a sardinha das produções nacionais, afirmo: não fica atrás de nenhuma série gringa.

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Ane Cristina
Lado M
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baiana-paulista, quase-jornalista, sei um pouco de tudo