Brasil: Uma Biografia, de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling
Há alguns anos, tive o privilégio de fazer um curso de biografias com o jornalista e escritor Ruy Castro. Logo nos primeiros minutos, Ruy ressaltou o cuidado que se deve ter ao escolher o personagem que será biografado em um livro.
Primeiramente, deve ser um personagem que desperte um interesse estratosférico no biógrafo, uma vez que, para se realizar uma boa biografia, o biógrafo deverá dedicar cerca de dois anos de sua vida a estudar a fundo a existência do biografado — sem contar com o tempo dedicado propriamente a escrever a biografia.
Em segundo lugar, caso a biografia não seja para um objetivo meramente pessoal, o biografado deve ser um personagem que tenha potencial para ser de interesse do público geral.
E, em terceiro lugar, deve-se escolher um personagem que tenha uma história marcada por altos e baixos, não apenas porque a existência de conflitos tende a ser interessante para o desenrolar de uma narrativa, mas, principalmente, para que haja empatia entre a figura do biografado e aqueles que estarão lendo a sua biografia.
O biografado escolhido por Lilia Schwarcz e Heloisa Starling para o recente livro lançado pela Companhia das Letras atende a todos os requisitos sugeridos por Ruy Castro.
Primeiro, porque Lilia já estudava diversas facetas deste personagem há muito tempo. Segundo, porque este personagem faz parte, direta ou indiretamente, da vida de todas as pessoas do globo terrestre. Terceiro, porque, se uma coisa que não há na história desse personagem, é harmonia: como diria Valesca Popozuda, a vida deste personagem foi muito marcada por “tiro, porrada e bomba” — e uns carnavais. E estamos falando de quem? Do Brasil!
Em Brasil: Uma Biografia, Lilia transforma o nosso país em um personagem para lá de interessante. Não espere encontrar neste livro uma narrativa acadêmica, enfadonha ou rebuscada: ao ler Brasil: Uma Biografia, você tem a impressão de estar lendo um romance mesmo. Logo, este não é um livro direcionado apenas para historiadores ou antropólogos, mas sim para qualquer pessoa que tenha o interesse de conhecer mais sobre o seu próprio país.
Ao longo da sua leitura, se você perceber algumas contradições, atenção: não são contradições das autoras, mas sim do próprio país. O Brasil tem uma trajetória recheada de ambiguidades e elas saltam aos olhos dos leitores quase toda hora. Outro ponto importante de se ressaltar é o fato de que, embora muitas passagens do livro façam menção a fatos do passado, elas soam surpreendentemente atuais, principalmente no que diz respeito às desigualdades sociais e a um certo coronelismo.
O que você está esperando para se aventurar nessa biografia?
Originally published at www.siteladom.com.br on January 18, 2016.
