Cabelos mais naturais: entenda o que são no poo e low poo

Victória Ferreira
Lado M

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– “Lavou bem o cabelo da moça? ”

– “ Lavei, mãe! ”

– “Mesmo? ”

– “Sim. A senhora não viu o tanto de espuma que fez? Tá até fazendo barulho, ó! ”

Estava eu sentada em um dos sofás de um salão de beleza que frequentava, aguardado receber meu corte “só nas pontinhas”, quando ouvi esse diálogo entre cabelereira e assistente, mãe e filha. O tal barulho a que a mulher mais nova se referia — e que demostrava ao esfregar o cabelo da cliente com a ponta dos dedos — era um som muito semelhante ao de uma borracha sendo esfregada; barulho esse que, segundo elas, representava a limpeza profunda dos fios. A espuma fofa, em abundância, também era apontada como um desses indicativos. E para mim também sempre foi assim, a equação “espuma + cabelo = limpeza” sempre foi uma fórmula do sucesso. Bom, não é bem assim, ao menos foi o que eu e mais milhares de moças e rapazes descobrimos recentemente: a espuma está associada ao sulfato, e ele, junto de outros, pode vir a ser a “falsiane” do grupo.

O que acontece é que o sulfato é o principal ingrediente na maioria dos shampoos, encontrado na forma de Sodium Laureth Sulfate. Usado como agente limpador, ele promove uma limpeza profunda nos fios e, por ser um detergente, remove as gorduras presentes no couro cabeludo. O problema está justamente na profundidade dessa limpeza. Keila Cunha, química pela Universidade Federal de Uberlândia, (UFU), comenta: “Se utilizado em excesso [o sulfato], sua alta eficiência na remoção da oleosidade pode ser maléfica, já que o cabelo, assim como a pele, necessita de certa oleosidade. Como consequência, o cabelo pode ficar ressecado e com aspecto áspero”. Além do sulfato, outros componentes usados nos produtos de cabelo também podem causar efeitos indesejáveis: os derivados de petróleo (parafina, vaselina, óleos minerais, petrolatum e propano), e alguns silicones. “Estes compostos, bem como silicones insolúveis em água, se aderem aos fios do cabelo e formam uma película, proporcionando, muitas vezes, uma boa aparência e protegendo-os de agressões externa e do calor. Porém, tal barreira também pode dificultar a saída e entrada de determinados compostos. ”.

Foi observando isso que Lorraine Massey surgiu com os nomes No Poo e Low Poo. Basicamente, essas duas técnicas têm como principal foco o de banir o sulfato da dieta capilar. Enquanto o Low Poo utiliza somente shampoo livres da substância, o No Poo bane qualquer tipo de shampoo, deixando a limpeza dos fios à cargo de substâncias encontradas em alguns condicionadores. Aline Fraga, blogueira e especialista nessas técnicas, esclarece o No Poo: “Os condicionadores usados para limpar os cabelos, que não pode ser qualquer um, possuem elementos que podem sim promover limpeza nos fios e no couro cabeludo. E é justamente para garantir que o cabelo fique 100% limpo que a técnica de No Poo é tão restritiva, porque qualquer produto que não possa ser removido por condicionadores passa a ser proibido para quem lava os cabelos apenas com co-wash. [Lavagem dos fios somente com o condicionador]”. Uma vez que o sulfato não é mais utilizado, os derivados do petróleo supracitados também são inutilizados, já que só são retirados dos fios pelo sulfato; então o uso deles sem o uso do sulfato provocaria um acúmulo dessas substâncias nos cabelos.

Quando criada por Lorraine, a técnica era pensada especialmente para as moças cacheadas, pois notou que os sulfatos agrediam com maior força os cachos. “Os cabelos cacheados e crespos são naturalmente mais ressecados, portanto, quando removemos a pouca oleosidade que ele tem, promovemos um ressecamento ainda maior. O No Poo e o Low Poo nos ajudam a manter a saúde dos fios crespos e cacheados, mas a técnica não é restrita apenas a quem tem esse tipo de cabelo, na verdade qualquer pessoa pode fazer, mas a maioria dos adeptos da técnica são mesmo pessoas de cabelos crespos e cacheados”, explica Aline. O que não quer dizer que quem possui os fios lisos ou com química não possam utilizar a técnica, muito pelo contrário. Qualquer cabelo, em tese, se beneficia com isso.

Para começar com as práticas de Low e No Poo, é necessário lavar os cabelos uma última vez usando shampoo com sulfato, para que todas as substâncias proibidas sejam removidas, seguindo com o uso de produtos livre de petrolatos e, para os adeptos do No Poo, livres também de silicones insolúveis em água. Além disse, recomenda-se também que todos os pentes e escovas sejam lavados em uma solução de shampoo com sulfato, para que qualquer um dos proibidos que, eventualmente, tenham se acumulado sejam eliminados.

Em minhas andanças pelos grupos sobre o assunto no Facebook, vi muitos depoimentos de meninas que são apaixonadas pelas técnicas e de algumas que não se deram bem. Segundo elas, seus cabelos se tornaram mais ressecados e com frizz. Buscando ajuda nesses grupos, elas receberam como respostas das veteranas no assunto que, na verdade, é assim que os cabelos delas estão por baixo de toda a maquiagem feita pelos derivados do petróleo que impedem os cuidados de atingirem os fios profundamente. Assim, é recomendado que junto com o No e Low Poo, também seja seguido um cronograma capilar, com objetivo de nutrir, reconstruir e hidratar profundamente os fios. Nessa rotina de cuidados, são utilizadas muitas receitinhas caseiras, como a utilização de óleo de coco ou azeite extra virgens para a nutrição dos fios. Mesmo assim, ainda existem aqueles que não se adaptam e abandona a técnica.

Kimberly Gonzaga é adepta da prática há cerca de dois meses, e relatou sua experiência com o No Poo:

“Há cerca de dois meses entrei em um grupo para iniciantes em No e Low Poo, para saber melhor sobres as técnicas antes de usar no cabelo. Entrei em transição para no poo sem querer quando viajei pro Rio de Janeiro no último feriado e esqueci o meu shampoo. Mas havia levado um creme multifuncional que sabia que era liberado para co wash, ou seja, o uso de condicionador para lavar o cabelo. Nos dias após o uso meu cabelo ficou extremamente definido e macio, o que me motivou para continuar com a técnica.

Os produtos no geral não são difíceis de encontrar, essa semana mesmo eu encontrei um creme super recomendado para co wash perto de onde eu moro (região próxima ao Shopping Interlagos) e tive uma ótima definição (foto em anexo) logo após a lavagem, o que não era comum quando usava shampoo com sulfato, além de ser muito mais fácil pentear os fios com os dedos mesmo. Os produtos são ridiculamente mais baratos, considerando que o resultado é tão bom quanto os de linhas importadas, que são idolatradas, porém mais caras. O que acho mais “caro” são os shampoos infantis liberados para Low Poo, que custam cerca de R$10,00 a versão menor”.

A beleza das madeixas é algo que preocupa grande parte das pessoas, e novas formas de cuidar delas sempre aparecem. Enquanto lia sobre o assunto, fiquei com vontade de me juntar ao time do Low Poo e venho praticando a umas semanas, com resultados excelentes. Para quem ainda tem alguma dúvida sobre as substâncias proibidas, a Aline Fraga fez uma ótima relação com todas elas em seu blog.

Originally published at www.siteladom.com.br on October 22, 2015.

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