Ministra de Direitos Humanos, Damares Alves

Cara ministra Damares, o que a senhora planeja para as mulheres?

Carolina Pulice
Lado M
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3 min readFeb 15, 2019

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Acho que pela primeira vez desde que soube de sua existência poderia concordar com sua opinião: o Brasil não é um país que cria bem suas meninas.

Uma pesquisa da Organização Save the Children mostrou que, entre 144 países avaliados, o Brasil ocupava a 102ª posição do Índice de Oportunidades para Garotas.

Além disso, dados do instituto Patrícia Galvão (um renomado e reconhecido instituto que trata da violência contra a mulher) mostram que o Brasil é um dos países que mais mata mulheres no mundo. Entre os anos de 1980 e 2013, 106.093 brasileiras foram vítimas de assassinato. Somente em 2013, foram 4.762 assassinatos de mulheres registrados no Brasil — ou seja, aproximadamente 13 homicídios femininos diários. Os resultados, embora tristes e urgentes, não são novidade.

Novidade é a ministra de Direitos Humanos se pronunciar de forma tão radical. Sair do país, criar sua filha em um ambiente diferente do seu, só para fugir desses resultados não é a melhor opção para o país, nem para os pais, nem para a menina. Esse foi seu comentário, durante uma entrevista, nesta semana. A menina, que poderia, por exemplo, se tornar uma ministra, uma presidente, deixa seu país por conta do medo. Quem ganha nessa história?

Foi lendo o comentário que passei a me questionar sobre seu posicionamento. O que a ministra planeja para as mulheres? Claro, a assessoria pode justificar que a fala está fora do contexto, que a ministra “queria mostrar a gravidade da situação”, etc etc. Mas ela sabe a gravidade da sua posição?

Devo confessar que concordei com o restante de sua fala, de que precisamos proteger as mulheres, que vivem muitos casos de violência e assédio. Mas quando disse que precisamos de uma “revolução cultural”, fiquei um tanto quanto preocupada. Que tipo de revolução precisamos viver? O que é uma revolução cultural? Está intrínseco a esse comentário a revolução dos bens e costumes, da moral e da religião? Porque esse tipo de revolução não vai mudar a violência contra as mulheres. Esse tipo de revolução diz respeito a uma linha doutrinária, uma ideologia de moral e costumes que não se encaixa na nossa sociedade, tão diversificada e tão aberta para as diferenças.

A questão, senhora ministra, é que a senhora não mede suas palavras, ou suas palavras carregam um tanto de entrelinhas. E nesse caso, temo pelo que a senhora quer realmente dizer com tudo isso. Afinal, a senhora carrega mais de 100 milhões de mulheres em seus posicionamentos.

Eu pensei em relembrar os outros polêmicos comentários que a senhora já deu (como a questão de que menina usa rosa e menino usa azul, ou então de que feminista é feia) mas prefiro não me ater a isso. Prefiro, nesta carta ou qualquer recado que seja, te alertar para a gravidade das escolhas dos comentários, da escolha das palavras.

Este não é o país do ame-o ou deixe-o. A mentalidade da senhora me parece um tanto retrógrada, antiquada e perigosa. Queremos ações que garantam o futuro dessas meninas.

Pode parecer preciosismo, mas esse alerta na verdade é um pedido de ajuda. Eu não quero ter que reconhecer que existe uma falta de representatividade imensa das mulheres em nosso país. Não quero ter que explicar a ninguém que o governo atual não se preocupa devidamente com as meninas que aqui estão sendo criadas. Quero poder dizer que existe uma ministra que pensa nas mulheres e meninas brasileiras, e que está pensando em medidas efetivas e políticas públicas para evitar o feminicídio, para evitar o machismo, para proteger os nossos direitos.

Ministra, por favor, meça suas palavras antes de tratar do futuro das nossas meninas, de nós, mulheres.

Atenciosamente,

Carolina Pulice

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Carolina Pulice
Lado M

Jornalista que adora discutir sobre tudo com todo mundo, e de escrever sobre todas essas coisas que se tem pra se discutir