Como o feminismo poderia mudar e melhorar o mundo

Thaís Matos Pinheiro
Lado M
Published in
3 min readNov 11, 2015

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Dona Jovelina mal entrou na adolescência e parou a escola para trabalhar em “casa de família”. Foi doméstica em algumas poucas casas até conhecer seu primeiro marido, com apenas 14 anos. Casou, largou a arrumação da casa dos outros para cuidar da sua própria. Ficou viúva aos 16 e voltou pra limpa-janela-aria-panela-lava-privada em outras residências. Largou de novo a labuta do trabalho externo pra cuidar de uma casa, seis filhos e um marido. E não que fosse por escolha própria largar tudo assim pra ser dona de casa, mas era o único curso do rio para as mulheres que, como ela, tinham nascido na longínqua década de 30 — e pra tantas outras antes e depois. Nunca foi registrada, nunca trabalhou formalmente, nunca foi independente.

Uma virada de século e tantas dezenas de anos depois, as mulheres ainda são maioria em empregos informais, segundo pesquisa do IBGE. No mercado formal, a presença feminina é de 43%, 14% a menos em relação aos homens. Mesmo quando conseguem chegar ao mercado formal, as mulheres ainda têm outro desafio: fazer que sua presença valha o mesmo que a presença masculina. Ainda segundo dados do IBGE, as mulheres ganham, em média, 30% a menos que os homens em suas mesmas posições de trabalho.

Em 2011, a Pesquisa Mensal de Emprego mostrava em números uma realidade já conhecida: todos os espaços de trabalho são dominados por homens, exceto o doméstico. A participação feminina nas áreas de Indústria, Construção, Comércio, Serviços Prestados a Empresas e os chamados outros serviços, ainda é pequena. A taxa de ocupação de ocupação das mulheres também é baixa. Mesmo representando metade da população em idade ativa, em 2011 apenas 45,4% eram ocupadas e economicamente ativas.

Até agora os dados nos mostram que as mulheres estão em menos ocupações; quando ocupadas, estão em trabalhos informais; quando em trabalhos formais, ganham menos. Os danos que esse cenário traz para a sociedade são inúmeros e de várias esferas.

Como o feminismo mudaria o mundo

Na social, nós temos mais mulheres dependentes economicamente de seus maridos, e por consequência, mais vulneráveis, uma vez que um dos fatores que leva à violência doméstica é a relação de dependência. Temos a exploração e subvalorização do trabalho feminino, além da discriminação em seu sentido puro.

Além dos problemas sociais, também existem prejuízos econômicos nessa disparidade de oportunidades de trabalho e salário. No último mês, uma pesquisa do Instituo McKinsey revelou que apenas a igualdade de gênero aumentaria o PIB mundial em 12 trilhões de dólares. Se mantida até 2025, o ganho seria de 28 trilhões de dólares, que representa um salto de 26% em relação ao PIB atual.

Em setembro, um grande passo para mulheres e para a humanidade foi dado através do Women-20, grupo de mulheres líderes de cada um dos países do G-20. A intenção do grupo é aumentar em 25% a participação feminina no mercado de trabalho até 2025. A iniciativa adicionaria 100 milhões de novos postos de trabalho.

Esses números exorbitantes mostram como estamos defasadas atualmente. O Instituo McKinsey mapeou 95 países avaliados em 15 indicadores de igualdade de gênero. 40 deles ainda possuem altos níveis de desigualdade. Em alguns países, existem restrições legais para o trabalho feminino, com exigências absurdas como a permissão do marido.

É preocupante que montanhas de grana rolando entre os países seja o motivo que coloque a luta das mulheres por direitos em evidência. Entretanto, a partir dessa análise outros pontos começam a surgir no debate mundial e fazem surgir uma ponta de esperança, mudando setores econômicos públicos e privados de países do mundo todo.

Com seus 80 anos, já curvada e sem força nos braços, Dona Jovelina não vai poder usufruir desse novo cenário de avanços para mulheres. Não vai ganhar sua certeira assinada e nem ser reconhecida como trabalhadora pelas estatísticas. “Estuda, filha, e garante um bom emprego pra você ter o seu dinheirinho e não ter que ficar pedindo, é muito triste”, ela diz com aquela sabedoria de vó. Dona Jovem, fique um pouco mais tranquila, pois suas netas e bisnetas têm uma grande batalha pela frente, mas as perspectivas de vitoria dessa luta estão ficando mais animadoras.

Originally published at www.siteladom.com.br on November 11, 2015.

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