Chantagem emocional: como o medo da solidão aumenta a nossa carência
Sabe aqueles dias em que dá um aperto no coração só de pensar na possibilidade de ficar sozinha? Não ter ninguém para fazer companhia, nenhuma alma viva para mandar uma mensagem, ninguém além de você mesma para aproveitar o dia.
E estes momentos são meio cruéis. Vai ver é a vida querendo nos ensinar que devemos saber lidar com nossa existência de modo integral, enfrentar a solidão sem ter medo dela.
Mas estes momentos continuam sendo cruéis. Qualquer estratégia para escapar deste sentimento de vazio, tédio ou contemplação do próprio ser é válida. Seja tentando marcar de sair com mil pessoas (incrivelmente, nenhuma delas está disponível no momento em que surge o maior desespero); almoçando com aquele colega chato só para não comer sozinho; postando fotos e frases nas redes sociais para ter likes, comentários, retweets, etc., e ter a sensação de companhia com um telefone vibrando cheio de notificações…
… ou apelando pra chantagem emocional. Esta sim é jogo baixo, e é certo que todo mundo ou já foi alvo de uma dessas chantagens ou se utilizou dela para ganhar atenção de alguém.
Normalmente, ela vem atrelada a uma prerrogativa do relacionamento e/ou sentimentos de culpa daquele que é alvo da chantagem emocional. O chantagista pode se valer da posição de amiga/o, pai/mãe, namorado/a ou fã, por exemplo, como se este local privilegiado lhe conferisse direitos a mais sobre a atenção do chantageado.
“Aham, Cláudia, senta lá”: ser mais especial e importante na vida de alguém não nos dá o direito de exigir ou obrigar que uma pessoa esteja conosco o tempo todo ou sempre que quisermos. Esse é um sentimento tão mesquinho e egoísta que chega a ser feio. Exigir essa atenção exclusiva do outro em caráter de obrigatoriedade é praticamente externalizar que não existe nada além no mundo que não seja a carência do chantagista. E não, nem o mundo e muito menos o chantageado giram em torno do seu umbigo.
Dói. Mesmo. Mas a chantagem emocional é uma tática tão suja que não vale a pena usar. Ela nada mais mostra que o chantagista sabe que a pessoa não quer estar ao lado dela naquele momento, e ao invés de lidar com isso e seguir a vida ou fazer outras coisas e conhecer novas pessoas, não: ele quer ao lado dele aquele que gostaria de estar do outro lado do hemisfério.
Isso mais parece falta de amor próprio, fazendo com que a erva daninha da carência possa afetar qualquer relacionamento, desde o dos pais corujas até os namorados grudentos e os amigos ciumentos.
Muitos textos do Lado M falam sobre a libertação do sentimento de posse e agora não seria diferente: o medo de perder alguém só existe por conta do sentimento de posse. Ninguém é seu, assim como você não é de ninguém. A nossa existência começou apenas em um corpo e vai acabar apenas com ele, sem ninguém junto. Apenas lide com isso, por favor.
Ninguém deve carregar o peso dos seus próprios medos além de você mesma.
Originally published at www.siteladom.com.br on June 17, 2015.
