Como os vídeos pornôs influenciaram a minha vida sexual

Lado M
Lado M

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Apesar do jeito comportado e do título de santinha atribuído a mim por muita gente, eu sempre fui muito sexual. Lembro que, desde os 12, 13 anos, eu assistia aos vídeos pornôs, me tocava com frequência e ficava bem excitada. Aos 17, eu tive o meu primeiro orgasmo tocando uma na madrugada. Lembro de ter ficado por uns bons 5 minutos tentando entender o que havia sido aquela corrente elétrica maravilhosa que havia passado pelo meu corpo. Nunca entendi por que tanto tabu em torno de algo tão interessante.

No entanto, mesmo sendo tão sexual, aos 20 anos a virgindade ainda era um problema pra mim. Eu queria viver o meu próprio pornô, mas não rolava. E por que eu demorei tanto para perder a virgindade? Porque eu cresci em um ambiente de cultura sexual bem conservadora.

O Sexo, o Pornô e o Pecado

Se eu compartilhasse com alguém que eu gostava de me masturbar vendo um pornozinho, eu seria julgada como pervertida. Se eu dissesse que queria dar de quatro, eu seria muito xingada. Assim, eu cresci com uma certa vergonha de gostar de sexo, de querer sexo, e sentia uma culpa imensa toda vez em que eu abria uma aba no computador para ver algum pornô que me proporcionaria bons momentos de prazer.

No entanto, quando eu vim para São Paulo, a vida mudou. Longe dos julgamentos de antes, pouco a pouco eu fui me permitindo viver a minha vida sexual. Os meus momentos íntimos de pornografia já não eram acompanhados pela culpa e eu me permitia passar horas tocando várias. Deixar que a minha sexualidade fosse se tornando mais livre, sem dúvidas, foi ajudando na minha auto-estima e eu, sem a sombra da repressão e dos puritanismos, passei a me sentir muito mais desejável, mais atraente e mais feliz.

Mas eu continuava virgem e isso me incomodava profundamente. Eu sentia que estava “ficando velha”, que nenhum cara iria querer transar comigo e repetir todas as acrobacias de um filme pornô se eu ainda fosse virgem por muito mais tempo. Porém, havia o medo da dor, do sangue quando o hímen rompesse e, principalmente, do constrangimento de o cara achar que eu não era tão performática quanto as garotas dos filmes que ele provavelmente também assistia.

A hora da virada

No dia 14 de junho de 2013, uma sexta-feira, eu fui de última hora a uma festa com uma amiga. Cheguei na balada quase às duas da manhã, e logo na entrada eu me deparei com o cara que, até hoje, é um dos homens mais bonitos que eu já vi na vida. Passei a festa inteira olhando para ele, tentando chamar atenção, mas o tempo foi passando e nada acontecia.

Quando já era umas quatro horas, a festa começou a esfriar e a minha amiga queria ir embora. Eu pensei: “Eu preciso chegar naquele cara. É agora ou nunca. Eu nunca mais vou ver um cara tão bonito quanto ele na minha frente”. E aí eu tomei coragem, ajeitei o sutiã e fui. Ficamos. Ele pediu o meu telefone, mas eu jurava que ele não iria me procurar. No entanto, naquele mesmo sábado, ele me procurou. Queria me ver de novo e me chamou pra um barzinho na semana seguinte. E aí, eu pensei: “É você! É com você que eu vou perder a virgindade e resolver os meus problemas”.

Uma semana de estudos

Na minha cabeça, eu tinha exatamente uma semana para aprender como ser a melhor transa da vida de alguém. Eu sempre fui muito estudiosa, disciplinada, e sabia que isso um dia ia me servir para alguma coisa: montei um cronograma de estudos para aprender tudo sobre sexo. Li todos os textos do Casal Sem Vergonha e do Papo de Homem. Apelei para os guias da Claudia, com 30 maneiras de enlouquecer um homem na cama. E, claro, assisti a todos os pornôs imagináveis. Ia anotando tudo o que eu via nos vídeos, ia decorando roteirinhos e pensava em planos B e C para cada situação que poderia se apresentar na minha primeira noite.

“Tá, então o lance é mais ou menos esse: a gente vai se beijar bastante, ele vai tirar a minha roupa, vai chupar os meus peitos, aí vai chupar um pouco a minha boceta, aí depois eu vou passar um tempão chupando, vai rolar penetração e aí ele vai gozar

“Ah, então, no oral, primeiro eu começo pelas bolas e depois eu começo a chupar o pau do cara, mas não posso começar a chupar logo de cara, tem que ter umas lambidas antes”.

“Tá, tem que chupar, tocar uma punheta e olhar nos olhos ao mesmo tempo. Putz, acho que eu não tenho coordenação motora pra fazer tudo ao mesmo tempo. Putz, ela fica de joelho. Putz, minha perna vai doer”.

“Rebola, minha filha, rebola porque no vídeo a moça rebola bastante. Não pode parar de rebolar. Não pode ficar morta senão o cara vai achar que você é cheia de pudores e inexperiente”.

Descobertas

Quando eu estava com o boy, eu fiquei tão preocupada em seguir os roteiros dos pornôs que eu havia assistido para agradar o cara, que, na hora, eu fiquei seca. Seca, seca, seca. Não ficava molhada de jeito nenhum. A sorte era que a camisinha era muito lubrificada, porque senão não teria entrado nem pelos poderes de Grayskull. Foi uma primeira vez maravilhosa, no sentido de ter sido com uma pessoa que foi muito carinhosa e atenciosa comigo. Agora, no sentido de ter sentido prazer, não foi nada legal. Porque eu não estava ligada no meu prazer.

Eu fiquei tão preocupada em ter uma atuação pornográfica, cheia de caras e bocas e performances para agradar o homem que estava comigo, que eu negligenciei o meu próprio prazer. Eu interrompia momentos que estavam sendo gostosos para mim porque eu entendia que, por exemplo, como no filme o cara não ficava tanto tempo chupando a garota, o boy que estava comigo não iria querer me chupar por tanto tempo também. E fiquei com dor no braço de tanto tocar punheta e com dor no maxilar de tanto chupar porque eu entendia que, se eu parasse, eu não seria boa o suficiente.

A gente aprende, né?

De lá para cá, depois de ter tido outras experiências e lido mais sobre empoderamento feminino e o feminismo, eu passei a entender o sexo de uma outra maneira. Primeiro: sexo só tem que rolar quando a gente se sente à vontade, e não para cumprir uma meta na vida. Se você se sentir à vontade para perder a virgindade aos 16, ótimo. Se você só se sentir à vontade para perder aos 26, ótimo também. O importante é você respeitar o seu tempo e os seus desejos.

Segundo: sexo não tem que ter roteiro. Quando uma transa é foda, daquelas que você vai querer lembrar pra sempre, tudo é muito espontâneo. Nem sempre tem que ter oral, nem sempre tem que ter masturbação, nem sempre tem que ter penetração. Nem sempre tem que dar de quatro. Nem sempre a gente tem que fazer 69. Nem sempre a gente tem que deixar as pernas nos ombros ou ficar mudando de posição a cada minuto. Às vezes, uma transa inteira só com uma posição pode ser positivamente inesquecível.

Terceiro: o prazer no sexo não tem que ser algo unilateral, mas sim uma via de mão dupla. Só é legal quando é prazeroso para os dois e isso inclui você respeitar os seus próprios limites. Se a pessoa com quem você estiver não for um babaca, ele super vai entender quando você parar de chupar porque a sua boca começou a doer. Ele não vai te forçar a receber um tapa quando você não quiser, não vai te submeter a nada que possa ser constrangedor para você. E, principalmente, vai entender que “Não” é “Não” e que o sexo da vida real não é o pornô que a gente vê nos filmes.

A vida real é melhor

Na vida real, a calça jeans engata na perna. Na vida real, a gente brocha, sente câimbra, bate os dentes sem querer. Na vida real, a gente abraça e não fica só encostando o quadril. A gente não é obrigada a gostar de britadeira e nem a fingir que tá tudo bem quando, na verdade, tá super desconfortável. Na vida real, as coisas são diferentes. Na vida real, na verdade, as coisas são bem melhores.

Originally published at www.siteladom.com.br on October 16, 2015.

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