Como virar ARMY me fez perceber que ser fã não tem prazo de validade

Thais Lombardi
Lado M

--

Como cria dos anos 90, as boy bands sempre fizeram parte da minha vida. Mas chegou uma hora que eu já não me identificava com o pessoal e nem tanto com os grupos. Não sei se foi uma pressão por amadurecer e abandonar velhos hábitos ou se era falta de identificação com os grupos e bandas.

Porém, assim como muitas mulheres que conheci durante a pandemia, fomos pegas pelo laço pelo hit Dynamite, do grupo sul-coreano BTS. Durante um tempo, fiquei com vergonha de bater no peito e falar que, aos 30 anos, eu estava acompanhando mais um grupo de rapazes talentosos e dançarinos.

O preconceito veio principalmente pela idade e também pelo estilo jovem e animado. Será que eu poderia reviver aquela sensação deliciosa de compartilhar um sentimento com milhares de pessoas? Eu teria esse direito? Será que eu poderia me permitir e não me preocupar se vou casar, ter filhos e etc (coisas que nunca quis, na verdade)?

Além da música, e até mais que toda mensagem positiva que encontrei nas músicas, encontrei o ARMY, o nome do fandom do BTS e que é diferente de tudo que eu já vi. Uma comunidade totalmente heterogênea, engajada com causas sociais e que tem vida para além da música. Encontrei mães, avós, crianças, adolescentes, pessoas religiosas, homens, homossexuais e literalmente um mundo de pessoas que estão ligadas pela música.

Eu sei que muita gente passou pelo mesmo que eu ao entrar em contato com uma cultura que geralmente é voltada para jovens. Como a escritora Jarid Arraes publicou em seu texto “BTS E A VERGONHA DO QUE ME FAZ FELIZ”: “A vergonha de entrar de cabeça em um fandom em uma época que, para a sociedade, deveríamos ter outras preocupações”.

Mas, ao mesmo tempo, o feminismo me ensinou a ser livre e não ligar para esse tipo de coisa, se meu corpo segue minhas regras, por que não ter a liberdade de escolha? Com o tempo, percebi que homens que são fãs de esportes ou jogos, não são julgados por colecionar camisas ou figuras de ação, então por quê eu deveria ser?

O comportamento muitas vezes agressivo dos homens em estádios são valorizados, mas para uma mulher gostar e apoiar uma boy band e estar em um fandom é visto como algo infantil e ridículo. Qual seria a diferença?

Ainda vivemos em uma sociedade na qual mulheres precisam ceder a todo o seu prazer para se dedicar à família, endurecer e esquecer das coisas que nos fazem felizes. Isso tem mudado com o tempo, mas ainda é muito presente até mesmo dentro da comunidade K-Pop que manda as pessoas mais velhas cuidarem de filhos e deixarem de lado algo que deveria ser aproveitado por jovens.

Entrar no ARMY me permitiu vivenciar inúmeras felicidades, incluindo casamentos, nascimentos de filhos, namoros, amizades e etc. Além do fato de engajar em causas sociais sérias, como campanhas para que os jovens tirem o título de eleitor, arrecadação de dinheiro para combate a incêndios, construção de escolas e hospitais.

É isso, um grupo de crianças não faz. São todos movidos por pessoas que, pelo menos, possuem curso superior e instrução, ou seja, com mais de 20 anos. Então eu me pergunto sempre: de onde tiraram a ideia de que mulher tem prazo de validade para fazer o que gosta? Você já se perguntou por que as pessoas exigem que você renuncie ao que ama para cumprir um papel? O que você deixou para trás ao se tornar adulta?

E, para aqueles que ainda têm preconceito, recomendo que o deixem de lado, escutem, leiam as letras e deem uma chance. Você verá o mundo de outra maneira!

Deixo ainda esse vídeo que questiona a relação entre fandoms masculinos e femininos:

--

--

Thais Lombardi
Lado M
Writer for

Cineasta, redatora, revisora, feminista e vegetariana. Gosta de ler, gatos, fazer crochê e destruir o patriarcado.