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Complicações com Piercing: gastei mais de R$2 mil e passei pela pior dor da minha vida

Carolina Pulice
Lado M
Published in
6 min readJul 7, 2021

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Tudo por conta de um furo na orelha mal cuidado

Este “causo” começa pelo clímax: a drenagem da minha orelha esquerda.

Foi numa quarta-feira à tarde, começo da noite. O médico me esperava na porta do consultório. Eu estava relaxada. Afinal, sabia que a anestesia ia aliviar minha dor.

Mas não aliviou. E o que era para ser um procedimento simples virou um dos episódios mais dolorosos que tive em minha vida.

Mas vamos começar pelo começo.

Em janeiro de 2020, eu e minha melhor amiga decidimos fazer piercings na orelha. Na hora do almoço, na rua Augusta, eu e ela furamos a cartilagem de nossas orelhas esquerdas.

Em maio de 2021, decidi trocar de piercing: de bolinha para argolinha.

O misto de felicidade e dor foram suficientes para eu me orgulhar do novo feito. Com 26 anos, realizava um plano de desde muito antes. O furo inicial precisava ser com um brinco de bolinha, e tive que esperar mais de um ano para trocar para a tão desejada argolinha.

Claro, a pandemia impediu os planos, mas finalmente em maio de 2021 consegui trocar o tão famigerado piercing. Tudo ocorreu perfeitamente. O local que escolhi para fazer o piercing era seguro, fui orientada a lavar com soro fisiológico e tomar cuidado caso ocorresse alguma coisa.

Não tomei.

Numa madrugada de junho, puxei o cabelo que enroscara no piercing. O ato foi suficiente para inflamar o furo. Os dias se passaram. Eu, por conta própria, comecei a tomar anti-inflamatório e passar antisséptico no local.

A dor aumentava.

Faltava uma semana para eu tirar férias, e aquilo não seria um problema para mim durante meus tão merecidos 15 dias de descanso. Ledo engano.

Um dia antes das férias marquei uma teleconsulta. A dermatologista achou feio, mas recomendou um antibiótico tópico — que é passado no local — de 6 em 6 horas, por uma semana.

Fui viajar com minhas amigas. A orelha estava feia. O pus já saia livremente, motivo de gozação entre minhas amigas e vergonha para mim. Mas eu lavava a orelha, passava maquiagem, vestia meus vestidos recém comprados e seguia em frente.

E a dor aumentava. Passei a tomar muita dipirona. A cada 4 ou 5 horas mais ou menos.

Na base da dipirona consegui concluir com sucesso a viagem com as amigas, e fui para a casa dos meus pais, em Ubatuba.

Como boa filha mimada, fui correndo para o colo da minha mãe, que percebeu o tamanho do problema e começou a limpar da sua maneira. Mas a dor já me consumia, e eu conclui que seria necessário remover o piercing para suportar a dor e a infecção. O fim de um sonho.

Inchaço na parte de trás da orelha. A vermelhidão indica infecção.

Na segunda-feira, fui a um dermatologista na cidade. A consulta era particular, e o médico muito atencioso. Ele me disse que de fato precisaria remover o piercing e iniciar um tratamento com antibiótico via oral.

Fui ao seu consultório por volta das 19h. Ele me deu umas dez injeções de anestesia. Que delícia não sentir mais dor. Ao remover o piercing, o clínico fez uma pequena limpeza do local, e me mandou continuar a limpar com água e uma pomada dermatológica.

Os dias se passaram, a dor continuava. A orelha inchava. O pus saia.

Logo então chegou o fim de semana e fui viajar com meu namorado. A viagem estava planejada há meses, e nada de errado poderia acontecer. Estávamos sozinhos na pousada, sem risco de contaminação por conta do covid-19, comemos, bebemos e passeamos pela natureza. À base de dipirona, tudo corria bem.

Entre um passeio e outro, meu namorado me ajudava com a limpeza do local, que teimava em apresentar enormes quantidades de pus.

Pus, para quem nunca viu, é um líquido grosso amarelado. Não senti seu cheiro, mas sua aparência enoja rapidamente.

Num dia de observação de pássaros — em meio à mata atlântica — o pus decidiu sair em quantidade absurda. Digo absurdo porque não parecia verdade. Escorria pela orelha. Desculpem o excesso de detalhes. Mas em termos médicos, a presença de pus significa infecção. Logo, muito pus, muita infecção.

O fim de semana acabou, e retornei a Ubatuba. Como tinha um retorno com o médico, a orelha continuava inchada e a dor ainda estava lá, decidi marcar uma nova consulta.

Na quarta-feira, o médico se assustou: “Não era para estar deste jeito”.

Um dia antes da drenagem, o inchaço era visível e se parecia com um calo.

Marquei então uma drenagem. A drenagem da minha orelha foi basicamente o processo de abrir, apertar para sair o pus e limpar o local.

O episódio, contado logo no começo do texto, não ilustra o que passei. Nem quero que ilustre. Este espaço não é para pedir atenção nem relembrar meu sofrimento. Nem quero que ninguém tenha dó de mim. Mas quero dizer que senti muita dor. A dor chegou a um nível tão alto que senti vontade de vomitar durante todo o processo. A anestesia não era suficiente, e não sentia seu efeito.

O sangue que jorrava pela minha orelha indicava que os vasos sanguíneos estavam tão inchados que mais um pouco eles iam explodir. Eu literalmente corria o risco de danificar minha orelha.

Passado o procedimento, o médico receitou mais uma rodada de antibiótico, desta vez um mais forte, cinco dias de anti-inflamatório e mais uma semana de pomada dermatológica. Ele deixou uma receita de Tramadol também caso eu sentisse dor. Tramadol é um dos remédios mais fortes para dor que podem ser receitados. Acho que ele se assustou com minha ameaça de vômito durante o procedimento.

Terminada a viagem — e as férias, infelizmente — , voltei para São Paulo onde marquei uma consulta com meu otorrinolaringologista de confiança.

Seu parecer foi claro: tive sorte. Eu podia ter perdido parte da cartilagem da orelha.

Mais uma rodada de antibiótico, e desta vez medicamentos para proteger meu estômago, fortemente afetado pelo excesso de antibióticos.

Enquanto escrevo, me preparo para mais um comprimido de antibiótico. Ainda temo que a infecção não tenha ido embora, embora a orelha tenha desinchado e não sinta mais dor. Mas o próprio médico me disse para observar qualquer sinal de dor. Talvez tenha que fazer mais uma dolorosa drenagem.

O episódio me rendeu uma despesa de quase 2 mil reais. Entre furos, troca de piercings, procedimentos, consulta particular, três antibióticos, duas pomadas dermatológicas, dois anti-inflamatórios e muita, muita dipirona, lá se foi uma parte considerável das minhas férias.

O privilégio mora nas entrelinhas, e este episódio de minha vida não seria nada legal de ser contado caso eu não tivesse sequer recurso para comprar os medicamentos que necessitava.

A moral da história é que não existe moral. Este não é um texto conservador que tenta pregar contra o uso de piercings ou qualquer procedimento estético no nosso corpo. Eu, pelo contrário, quero comprar vários piercings falsos depois que me recuperar financeiramente e fisicamente. Falsos, porque a aventura de furos acabou para mim.

Direi que me arrependi? Jamais. Ter furado a orelha era um plano que tinha há anos. Furei o segundo furo na orelha escondida da minha mãe, o que me rendeu um castigo de meses. Furei o primeiro furo da orelha com 4 anos, por vontade própria. Eu sei bem que furos fizeram parte da minha vida.

Mas o alerta é que nem todo corpo reage bem a tais procedimentos. O meu não reagiu a uma inflamação mal cuidada. Fui negligente com o furo, fui negligente com minha saúde e por isso ainda estou pagando o pato.

Talvez esta história tenha um final óbvio, mas necessário. Que é o discutir os procedimentos estéticos e de saúde em nossas vidas.

A ideia de um procedimento é fazer com que a gente se sinta bem, feliz com nosso corpo. Nosso corpo pode sim ser uma expressão artística, um manifesto e um meio de comunicação. Como comunicadora, defendo que a gente se comunique sempre.

Mas a ideia de passar por processos sem os devidos cuidados pode ter se relativizado dentro do meu universo e depois do meu episódio. Portanto, a mensagem que deixo é: cuide do seu corpo, vá ao médico quando sentir dor, não deixe para depois um tratamento que precisa começar o quanto antes e pense sempre na sua saúde.

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Carolina Pulice
Lado M
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Jornalista que adora discutir sobre tudo com todo mundo, e de escrever sobre todas essas coisas que se tem pra se discutir