Conheça a luta e resistência de Candy Mel, vocalista da Banda Uó

Vanessa Panerari
Lado M
Published in
3 min readMar 11, 2018

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Aos 26 anos, Candy Mel é apresentadora do programa Estação Plural, da TV Brasil, integrante da pop e brega Banda Uó e ativista pelos direitos LGBTQ. Conhecida pelo alto astral, alegria e diversão que transmite com sua música, Mel Gonçalves é também símbolo de resistência e luta.

Nascida em uma família pobre do interior de Goiás e criada pela tia e pela avó, a cantora já enfrentou (e ainda enfrenta) muitos obstáculos para alcançar o lugar de destaque que ocupa hoje no cenário artístico brasileiro. Pobre, negra e mulher trans, Mel já lidava com preconceito dentro de casa, quando, com 16 anos, resolveu assumir sua identidade.

Em entrevista à Revista Quem, Mel disse que no começo as relações familiares não foram fáceis, mas que agora melhoraram muito. “Elas me deixaram num lugar de silêncio, de rejeição”. “A minha avó é a pessoa mais amorosa do mundo, eu a amo de paixão, mas eu ouvia coisas horrorosas. Ela dizia que tinha medo de me ver presa, roubando… como se esse fosse o único futuro possível”, declarou.

Ainda assim, Candy Mel, como é artisticamente conhecida, costuma dizer que se sente privilegiada por não ter sido abandonada pela família ou marginalizada, como, infelizmente, acontece com boa parte das mulheres trans.

Anos depois, em 2011, Mel chegou a São Paulo com Mateus Carrilho e Davi Sabbag, seus colegas de Banda Uó. Com o tempo, o grupo alcançou visibilidade nacional, levou militância e descontração ao público e conquistou um espaço singular, provando que é possível mesclar ritmos, cantar brega e ter bom humor dentro da música popular brasileira.

Já em 2015, a cantora ganhou destaque ao ser escolhida pela Avon como protagonista da peça publicitária da marca para a campanha do Outubro Rosa. Essa foi a primeira vez que uma mulher transsexual protagonizou este tipo de campanha. Ação significativa, considerando que materiais informativos sobre a importância da identificação precoce da doença são de extrema necessidade também para as mulheres trans, por conta da quantidade de hormônios a que estão sujeitas.

Em março de 2016, Mel Gonçalves passou a integrar o time de apresentadores do programa de debates Estação Plural, junto da também cantora Ellen Oléria e do jornalista Fernando Oliveira. O programa é o primeiro voltado para o público LGBT na TV Pública e costuma pautar discussões muito atuais.

Apesar de todas as conquistas, Candy Mel demonstra ter plena consciência de que sua existência, enquanto mulher negra e trans, é completamente política e demanda constante posicionamento de sua parte.

Num recente (e infeliz) episódio de transfobia, Mel ficou detida por horas no aeroporto do Galeão, no Rio. Ela usou seu Instagram para relatar que, depois do show de despedida da Banda Uó na cidade, dois seguranças, homens, deram a entender que seus documentos não condiziam com sua aparência e a levaram para uma sala isolada.

Mel acreditava que passaria por uma revista comum, mas os seguranças queriam que ela tirasse suas roupas. A cantora ainda contou que estava se sentindo ameaçada, coagida e que pretende tomar as devidas providências. Mesmo não sendo fácil, ela achou importante falar sobre o episódio de violência que lhe aconteceu e expor como pessoas trans são agredidas por sua identidade de gênero.

O fato aconteceu poucos dias após o Supremo Tribunal Federal garantir o direito das pessoas trans retificarem seus documentos com maiores facilidades, o que comprova que a lei avança devagar, mas o comportamento preconceituoso da população avança ainda mais lentamente.

Mel Gonçalves, apesar da pouca idade, é um dos fortes nomes femininos da história de luta recente do Brasil. Sua postura é muito significativa, assim como a interação e troca que mantém com seu público. Sua existência é política, necessária e empoderadora.

Originally published at www.siteladom.com.br on March 11, 2018.

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