Conheça Heidi Levine: uma fotojornalista no Oriente Médio

Carolina Carettin
Lado M
4 min readApr 26, 2017

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Conversamos com Heidi Levine, fotojornalista norte americana baseada em Jerusalém que cobre, há 30 anos, os conflitos do Oriente Médio, incluindo as revoluções no Egito e na Líbia, a crise na Síria, a guerra de Israel com o Líbano e inúmeros conflitos na Faixa de Gaza.

Desde cedo, Heidi se envolveu com causas sociais, tendo trabalhado como voluntária com crianças com deficiências mentais, em um hospital e com idosos. “Eu realmente acredito que meu desejo de tentar ajudar as pessoas foi o que me motivou e ajudou a me tornar fotojornalista”, afirma. Em suas fotografias é possível perceber a importância que Heidi dá à vida do outro. “É muito importante para mim ser respeitável com as vítimas da guerra e eu não quero que meu público vire as costas. Quero que tentem entender que essas vítimas são seres humanos”, diz.

Heidi levou histórias da linha de frente e de pessoas praticamente invisíveis para os maiores escritórios de imprensa do mundo. Suas fotografias apareceram, muitas vezes como matéria de capa, em inúmeras publicações internacionais como a Time, Stern, Focus, Paris Match, L’Express, Newsweek, The New York Times Magazine, The Sunday Times Magazine, Amnesty Internacional, Forbes Magazine, entre outras.

Mesmo com tanto reconhecimento por seu trabalho, ela reconhece que não é fácil ser mulher nesse ambiente. “Por muito tempo, a presença de mulheres nas linhas de frente não era facilmente aceitável e o número de mulheres cobrindo zonas de guerra era muito pequeno. Hoje há um número muito maior de mulheres cobrindo guerras e conflitos, mas, é claro, nós ainda enfrentamos situações onde mesmo os nossos colegas não acreditam que nós mulheres pertencemos àquele lugar”, afirma.

Heidi em Jerusalém.

Em entrevista para o blog Lens, do The New York Times, Heidi afirma que sempre manteve contato com seus filhos, mesmo enquanto trabalhava sob situações perigosas. Ela conta que certa vez, enquanto a polícia palestina entrava em conflito com soldados israelenses, ela recebeu um telefonema de seus filhos perguntando como se fazia espaguete. Desde o início de sua carreira, Heidi ouviu de superiores que não conseguiria ser mãe e fotojornalista de guerra ao mesmo tempo. “Eu acredito que provei o contrário. Na Líbia, um jornalista veterano gritou para mim ‘Você é mãe, o que está fazendo aqui?’. Eu vi um dos meus colegas homens cobrindo o conflito em Mosul, no Iraque, e ele tinha um bebê recém-nascido em casa. Eu duvido muito que alguém tenha criticado sua decisão de estar longe de casa e cobrindo uma guerra”, conta.

Outro momento em que Heidi se viu em desvantagem por conta de seu gênero foi na visita que o Papa João Paulo II fez a Israel. O pontífice visitou o Muro das Lamentações e Heidi foi impedida de cobrir o evento pois o Muro separa homens e mulheres. “Como eu cubro ‘culturas’, como o judaísmo e o islamismo, em que a crença religiosa comumente separa homens e mulheres, fui impedida de cobrir eventos em que homens fotojornalistas teriam acesso facilmente”.

Além de situações como essa, Heidi conta sobre momentos em que se viu entre a vida e a morte. “Eu quase fui sequestrada em Bagdá em 2003. Eu estava atravessando a rua para jantar com um amigo quando um carro parou e um dos três homens saiu do carro, colocou uma arma na minha cabeça e tentou me colocar para dentro do veículo. Felizmente, me deixaram ir. Essa foi uma das situações mais assustadoras, inclusive para o meu amigo, porque não havia como ele intervir para me ajudar. Eu acredito que tenha sido um sentimento horrível ver alguém prestes a ser sequestrada e não poder fazer nada”, diz.

Heidi ganhou vários prêmios por suas fotografias, entre eles o Anja Niedringhaus Courage in Photojournalism Award, criado depois da morte da fotógrafa ganhadora do Prêmio Pulitzer, Anja Niedringhaus; e uma indicação ao Emmy em 2012.

Originally published at www.siteladom.com.br on April 26, 2017.

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Carolina Carettin
Lado M
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Jornalista, caipira de Araras, interior de São Paulo. É bailarina desde criança, ama ler e é fã da Rita Lee.