Hilda Hilst, a mulher que revolucionou a literatura brasileira

Carolina Carettin
Lado M
3 min readJul 25, 2018

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Autora homenageada da 16ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty — Flip, Hilda Hilst revolucionou a literatura brasileira ao abordar temas como o amor, o sexo, a morte, Deus, a finitude e a transcendência.

Natural de Jaú, interior do estado de São Paulo, Hilda (1930–2004) era filha de Bedecilda Vaz Cardoso e Apolônio de Almeida Prado Hilst, cafeicultor filho de imigrantes. Aos cinco anos, viu o pai ser internado em um sanatório por conta de sua esquizofrenia. Desde pequena se interessava pelos livros, tendo lido Samuel Beckett, Friedrich Hölderlin, Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke, René Char, Saint-John Perse e Drummond.

Aos 20 anos, estreou no cenário literário com um livro de poesia. Dois anos depois, formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), onde conheceu a também escritora Lygia Fagundes Telles, com quem manteve amizade durante toda a vida.

Hilda e Lygia

Imersão

Hilda contava que depois de ler Carta a El Greco, de Nikos Kazantzákis, quis abandonar tudo para se dedicar ao ofício de escritora. Assim, em 1965, ela se muda para Campinas, também no interior de São Paulo, e inicia a construção da Casa do Sol. É lá que Hilda dedicava-se ao seu trabalho literário. Em 1967, estreou na dramaturgia e, em 1970, na ficção, com Fluxo floema. Casou-se com o escultor Dante Casarini e não teve filhos. Distante dos grandes centros recebia para temporadas artistas e escritores como Mora Fuentes e Caio Fernando Abreu.

A autora produziu mais de quarenta títulos, entre poesia, teatro e ficção, escrevendo por quase 50 anos. Destacam-se as obras A obscena senhora D (ficção, 1982), Cantares de perda e predileção (poesia, 1983) e Rútilo nada (ficção, 1993). Em 1996, passou a residir na Casa do Sol, cercada de árvores e bichos.

Após a morte de Hilda, a Casa do Sol transformou-se no Instituto Hilda Hilst, onde são realizadas residências artísticas e encenações de peças de teatro. O acervo pessoal deixado por ela divide-se entre a Sala de Memória Casa do Sol e o Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio da Universidade Estadual de Campinas (Cedae-Unicamp).

Reconhecimento

A obra de Hilst recebeu prêmios importantes da literatura brasileira como o Jabuti, o APCA, o Pen Clube São Paulo e o Cassiano Ricardo. Seus livros foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol, basco, alemão, italiano, norueguês e japonês.

Atualmente, duas editoras detém os direitos de sua obra: a Globo Livros, com Pornô Chic e Fico Besta Quando me Entendem, uma compilação de entrevistas; e a Companhia das Letras, que vem lançando toda a sua obra desde 2017.

A editora tem uma série de publicações sobre a autora previstas ainda para este ano, como a adaptação para quadrinhos de A obscena senhora D., por Laura Lannes, e a edição de Amavisse para a Poesia de Bolso. Em 2019, a Companhia lançará uma trilogia erótica e, em 2020, a biografia da autora. Daniel Fuentes, o detentor dos direitos autorais, vem negociando com outras editoras para publicar o que falta de Hilda Hilst, como cartas e inéditos.

Originally published at www.siteladom.com.br on July 25, 2018.

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Carolina Carettin
Lado M
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Jornalista, caipira de Araras, interior de São Paulo. É bailarina desde criança, ama ler e é fã da Rita Lee.