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Crise de idade: afinal, a idade importa?

Cris Chaim
Lado M
Published in
4 min readApr 10, 2019

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Esse texto foi escrito em 2015. As atualizações estão entre parenteses.

“E o namorado?!”
“Mas, como assim você não quer ter filhos agora? ”
“E vai largar a faculdade para começar outra com essa idade? ”
“Nessa idade e ainda mora na casa dos pais…”
Da tia velha no almoço de família.

Quando eu tinha 12 anos, entrei em desespero, pois já era pré-adolescente, mas não tinha nem um paquera e ainda gostava de brincar de boneca, diferente de minhas colegas da escola que já tinham aposentado as brincadeiras e estavam com namoradinhos.

Aos 17, veio a ansiedade em saber responder aos outros o que eu queria fazer na faculdade e pelo resto da vida. Quando me formei, aos 22, vieram as cobranças de carreira, e, agora aos 25 (2015), quando estava solteira, diziam que se não começasse a namorar logo ia ficar para “tia”.

Diz a lenda que quando eu chegar aos 30 as perguntas vão piorar se ainda não tiver casado e continuar morando na casa dos meus pais (e hoje, 2019, aos 29, solteira e morando com minha mãe, os questionamentos pioraram e chegam até como deboche, mas para acabar com o assunto aprendi a responder no mesmo nível e dizer que meu plano de vida é ficar para tia mesmo e pedir paro o meu irmão construir um quarto para mim na casa dele).

Para começar a escrever esse texto, digitei no Google “crise de idade”. Os primeiros resultados foram “5 sinais que você está na crise dos 25 anos”, “Veja aqui os sinais da crise dos 40” e “Como evitar a crise de idade da sua filha adolescente”. Seguindo essa pesquisa e o meu histórico, a gente deveria estar em crise em todos os momentos da nossa vida, e lendo as listas, percebi que eu tenho sintomas das crises de 30, 40 e 15 anos.

A mais famosa das crises é a da meia-idade, que dizem acontecer por volta dos 40 anos. Segundo a Wikipédia, grande sábia, o termo “Crise da meia-idade” foi criado em 1965 por Elliott Jaques (quem?!) para descrever a insegurança sofrida por alguns indivíduos que estão passando pela “meia-idade”, no qual percebem que o período de sua juventude está acabando e a idade avançada se aproxima. Já segundo alguns sites de psicologia, a crise de meia-idade, ou de qualquer outra, descrevem um quadro em que o indivíduo se sente pressionado socialmente e, por consequência, internamente a se comportar de certa maneira, já ter atingido algum tipo de posição social ou conquista pessoal ou profissional.

Sempre achei que a crise fosse exclusiva das meninas, porém conversando com alguns amigos homens, descobri que eles também sofrem pressões similares. Um deles relatou evitar ir na casa de alguns parentes que questionam sua sexualidade, por ele nunca ter namorado sério aos 27 anos.

(O que acontece é que entre as mulheres as cobranças sociais são maiores. Muitas de nossas jornadas já foram escritas quando nascemos — criadas para estudar, casar, e quando tiver filhos, largar a carreira e nos dedicarmos à casa. Somando a isso, tem o tal do relógio biológico.)

Pensando melhor, essa história de coisa de crise de idade é, em grande parte, da culpa da “cagação de regra” dos outros para nossa vida. Cheguei a essa conclusão após conversar com diversos colegas juristas e alguns advogados e eles jurarem que não tem nenhuma lei, pelo menos no Ocidente, que diz que aos 30 anos preciso estar casada e com filhos ou que dá o direito de outra pessoa decidir o que eu posso fazer ou deixar de fazer porque tenho 40 anos.

Se blindar dessas perguntas é quase impossível; sempre vai ter a tia velha perguntando cadê o namorado. O que a gente pode fazer é (tentar) estar seguro de onde estamos e para onde queremos ir, mas isso não significa ter um cronograma detalhado dos nossos próximos anos e sim saber que não tem problema nenhum em não seguir o caminho “que todo mundo segue”.

Recentemente na empresa em que trabalho, entrou uma moça de 37 anos que mora sozinha, é solteira, não pretende casar e muito menos ter filhos: seu sonho é continuar rodando o mundo de bicicleta. Conversando com ela sobre a vida, pensei em quantas vezes ela deve ter sido questionada das escolhas de vida dela, e mesmo chegando perto da temida crise de meia-idade, ela parece não vacilar das suas escolhas. Por outro lado, tenho uma amiga que vai se casar aos 22 anos, quer ter 3 filhos até os 30 e está mega segura de sua decisão, apesar de sua família dizer que ela é muito nova para tal e ainda precisa aproveitar a vida. (E nos últimos 4 anos conheci tantas mulheres tão incríveis e maravilhosas que de nenhuma maneira correspondem às expectativas de comportamento pela idade, se reinventam a cada ano e estão muito felizes).

Para terminar, todo mundo adora palpitar na vida alheia, afinal é bem mais fácil julgar o outro do que olhar para o próprio umbigo. Proponho um exercício para você, que me lê agora: na próxima vez que for questionar qualquer um sobre suas escolhas de vida baseado na idade, para e pensa se você vai mesmo fazer um questionamento válido. Nessa hora é sempre legal lembrar a regra de ouro: nunca faça para os outros o que não quer que façam com você. Afinal, você gostaria de ser perguntado sobre sua vida só porque tem sei lá quantos anos?

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Cris Chaim
Lado M
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Empoderamento feminino, aceitação corporal, drinks e livros