Depois a Louca Sou Eu: o livro de Tati Bernardi, meu e seu

Julia Biagini
Lado M
3 min readFeb 26, 2021

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A primeira vez que eu ouvi sobre Depois a Louca Sou Eu foi em um programa no GNT lá em 2016. Falavam sobre ansiedade, medos, e de como Tati Bernardi tinha escrito um livro que todo mundo iria se identificar de alguma forma. Fiquei ansiosa pra ler meus pensamentos escritos por outra pessoa. Bom, dito e feito — só que um pouquinho mais hiperbólico.

Já no prefácio a autora narra o que a motivou escrever um livro-carta-aberta sobre suas vulnerabilidades. Numa viagem conturbada de avião (um de seus maiores pavores), ela promete: “se eu sobreviver, vou escrever um livro sobre medo”. Em 22 crônicas sobre pânico, ansiedade, família e amor, ela narra de forma leve situações em que suas crises não a ajudaram. As histórias engraçadas ficam por conta da busca por tratamentos alternativos como terapias em grupo e constelação familiar.

Foto: Karine Basílio (Vogue)

De momentos hilários ao choro de términos, o livro perpassa pelos mais diversos sentimentos humanos e te leva junto. Na crônica A louca do jardim ela se pergunta “para onde vai o amor?” no meio da correria do dia a dia.

“Você dormindo com seus cachinhos virados pro meu nariz, você fazendo a piada dos ombrinhos mais altos e mais baixos para tirar sarro dos homens artistas e burocráticos, você por um mês e tanto amor. E agora nada e você nada e tudo nada. O amor no planeta das canetas Bic que somem. O amor mais um como se pudesse ser mais um.”

Ou do pânico que sente de festas:

“Já quando se tratava de festas, sempre me debati: preciso mesmo passar pela tortura infinita de ficar ansiosa e fóbica e com manias e enjoada e com diarreia e chorar e achar que vou morrer e começar a arrumar gavetas e regar plantas e fazer listas e mais listas e mais listas com tudo o que eu deveria realizar nos próximos cinco anos da minha vida, apenas para um bate-volta numa festinha?”

Quem nunca?

Ela também expõe sua relação com o Clonazepam, Paroxetina, Venlafaxina, Dramin, Dorflex, Efexor e, finalmente, o famoso Rivotril — que aliás seria no nome do livro, antes batizado de ‘Quem ri por último, Rivotril’. Tati Bernardi poderia ser farmacêutica se uma força maior não a tivesse dado o dom da escrita.

A mente brilhante criativa-roteirista por trás do programa Amor&Sexo, de filmes como Meu Passado Me Condena e Qualquer Gato Vira-Lata, além de estar semanalmente na Folha com sua coluna. Uma mulher que aprendeu a viver com suas fobias.

Todo mundo tem medo. Aquela ansiedade que deixa nossos pés frios, as mãos suando e o estômago revirado. O livro é um acalanto no sentido de que mais alguém no mundo tem as mesmas crises que você. Talvez você se identifique com alguma das histórias dela ou talvez você só se divirta nessa leitura agradável e gostosa.

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Julia Biagini
Lado M
Writer for

a relações públicas que só consegue acalmar a mente quando escreve