DIU de cobre (Reproductive Health Supplies Coalition/Unsplash)

DIU de cobre: um relato sobre o abandono da pílula e a inserção do dispositivo

Carolina Carettin
Lado M
Published in
4 min readApr 12, 2022

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O relato a seguir é a minha experiência com o DIU (dispositivo intrauterino de cobre e prata). Sempre converse com um profissional de confiança sobre a melhor opção pra você. E senta que lá vem história.

Eu comecei a tomar anticoncepcional com 14, 15 anos. Não me lembro exatamente, mas foi nessa época nada gentil da adolescência. Minha pele é oleosa, os primeiros cravos e espinhas apareceram quando eu tinha 9 anos e as crianças não eram nada legais a respeito disso.

Vendo fotos dessa época, hoje percebo que não era nada demais, mas na época eu me sentia muito mal com isso. Fui ao dermatologista e ele receitou a pílula para controlar a oleosidade da pele e do cabelo. E foi aí que eu passei a relacionar a “qualidade” da minha pele à pílula anticoncepcional.

Foram mais de 10 anos pulando de uma marca para outra, de uma pílula que tinha intervalos de pausa para pílula contínua. Elani, Qlaira, Stezza, Tâmisa…

Por volta de 2016, procurei minha ginecologista e demonstrei meu interesse em saber mais sobre outros métodos. Passei a procurar sobre o DIU e a participar de grupos no Facebook. Não tenho planos de ter filhos e um método contraceptivo a longo prazo seria melhor. Também tinha a questão dos diversos casos que foram aparecendo de mulheres que tiveram trombose por conta da pílula.

A médica 1 (vou chamar assim pra diferenciar uma da outra) me disse que não deveria acreditar em todos os relatos e me indicou uma mudança da pílula ou o DIU Mirena. Ignorando completamente minha vontade de abandonar os hormônios. Além disso, ouvi que, mais tarde, eu poderia mudar de ideia e querer ter filhos.

Mudei de médica. A médica 2 me explicou sobre outros métodos, mas indicou um anticoncepcional de uso contínuo pela minha baixa taxa de ferro. Aceitei, mas não estava feliz.

Métodos contraceptivos (Reproductive Health Supplies Coalition/Unsplash)

Uma médica no fim do túnel

Em 2021 eu estava de saco cheio. Estava tendo cólicas fortes a cada ciclo menstrual, dores de cabeça muito fortes — sempre tive enxaqueca e nunca soube que não poderia tomar pílula por conta disso — e decidi: ia procurar outra médica para colocar o DIU de cobre.

Em outubro procurei a médica 3 já preparada para falar sobre querer ou não ter filhos, sobre quantos anos fazia que eu namorava e abrir minha vida inteira para ela. Para minha surpresa, foi completamente o oposto do que eu esperava. Sem questionar, a médica 3 me explicou como funcionava o DIU de cobre, que eu poderia ter cólicas mais fortes e que as espinhas poderiam aumentar. Mas que, se eu estivesse disposta, poderíamos marcar os exames e colocar. Ela ainda me alertou sobre o risco do meu corpo não aceitar o DIU e ele sair do lugar.

Saí radiante de lá. Meu convênio não cobre a inserção do DIU porque não é bem um convênio, eu pago um valor mínimo no mês e tenho descontos em consultas e exames. Por isso, fui entender como funcionava o procedimento pelo SUS.

Apesar de ser obrigatória a colocação do DIU pelo SUS, eu precisaria participar de encontros de planejamento familiar para “conhecer todos os métodos anticoncepcionais disponíveis e entender se o perfil condiz com o DIU”. Eu não queria passar por isso e decidi que pagaria pelo procedimento. Tenho total noção que não é barato, então se você quer colocar e não tem como pagar, faça pelo SUS porque é direito seu.

A inserção

Com todos os exames em dia, coloquei o DIU de cobre no começo de novembro, sem anestesia (porque teria que pagar mais). Doeu, não vou mentir. Mas a dor que veio depois foi maior ainda. Doía as costas, a barriga, tudo.

A primeira menstruação veio depois de dois, três dias da inserção. Aí eu senti a cólica do DIU, a pior que eu já tive. Fiquei o dia todo na cama.

Porém, o bom de tudo isso é que passa! Minhas cólicas nos outros ciclos foram bem mais tranquilas. Duram 1, 2 dias e são normais, nada fora do que já tinha antes de colocar o DIU. Às vezes eu nem tenho.

Controlei a oleosidade da pele e do cabelo com produtos específicos para isso. E, outra parte que senti MUITA diferença: minha disposição. Eu comecei a correr, me sinto mais animada e conheço mais meu corpo.

A menstruação é parte da vida de mulheres e homens trans. Tomar pílula de uso contínuo fez com que eu perdesse esse contato com meu próprio corpo.

Cuidados pós-inserção

Apesar de não ser consenso, a médica 3 recomenda fazer exames periódicos para ver se o DIU está no lugar, além do acompanhamento que você já deve fazer com sua ginecologista.

No pós, é comum ter infecções, então fique atenta aos sinais que seu corpo dá.

Resumindo: colocar o DIU de cobre e abandonar os hormônios foi uma experiência positiva pra mim. O conselho que eu deixo é encontre um profissional que te entenda e te explique tudo o que envolve essa escolha. Até porque, ela deve ser sua e não de outras pessoas.

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Carolina Carettin
Lado M
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Jornalista, caipira de Araras, interior de São Paulo. É bailarina desde criança, ama ler e é fã da Rita Lee.