Documentário da Netflix traz trajetória esquecida da autora Joan Didion

Vanessa Panerari
Lado M
Published in
2 min readDec 19, 2017

Gay Talese, Truman Capote e Hunter S. Thompson. Esses são alguns dos nomes mais comuns que ouvimos quando o assunto é Novo Jornalismo (New Journalism), ou Jornalismo Literário, como se diz. Capote e sua obra, como o clássico A Sangue Frio, são assuntos carimbados nas faculdades de comunicação.

Esse movimento de imprensa surgiu nos EUA, na década de 60, e sua principal característica é misturar apuração e narrativa jornalística com a literária. Daí surgiram os termos reportagem-ensaio ou jornalismo de autor. Uma modalidade que prevê que a história não seja contada com a objetividade dos noticiários. Mas, apesar de ter sido considerado muito inovador, o Jornalismo Literário não perpetuou suas autoras mulheres de forma semelhante aos homens que são lembrados e lidos até hoje.

Joan Didion

Você já ouviu falar de Joan Didion? Muita gente não. Jornalista, ela participou da forte onda do jornalismo literário junto dos autores já mencionados. Mas, apenas agora, em 2017, temos acesso a um material sobre sua trajetória. Trata-se do documentário “Joan Didion: The Center Will Not Hold”, disponível na Netflix desde o final de outubro e dirigido pelo sobrinho da autora, Griffin Dunne, que levantou dinheiro para a produção através de uma campanha de crowdfunding.

O filme, que conta com a própria Didion dando alguns depoimentos, trata da trajetória da autora desde quando ela saiu da faculdade e começou a escrever textos intimistas em meio ao conteúdo sobre maquiagens e moda da revista Vogue, até a atualidade, em que ela já tem seus 80 anos.

Muitos de seus textos tinham relação com sua própria vida, mas a jornalista também se utilizou das técnicas do novo jornalismo para produzir conteúdo sobre a contracultura das décadas de 60 e 70, o movimento dos direitos civis, e a guerra civil em El Salvador. Uma de suas coberturas mais famosas é a do assassinato da atriz Sharon Tate, grávida de 8 meses quando foi morta pela seita de Charles Manson — que morreu recentemente aos 83 anos e voltou a virar notícia.

Infelizmente, o documentário não foca tanto na vida profissional de Didion, o que é compreensível, considerando que foi feito por seu sobrinho. Mas é impossível não sentir falta de um registro que contemplasse todo seu trabalho com maiores detalhes. Ainda assim, é um filme que vale a pena por documentar a vida pessoal de uma mulher tão inspiradora, que passou por difíceis lutos com a perda do marido e da filha, mas que seguiu produzindo obras de qualidade.

Originally published at www.siteladom.com.br on December 19, 2017.

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