Documentário “Eu, Oxum” mostra sagrado feminino no Candomblé
Na religião africana do candomblé, Oxum é a deusa do amor, da riqueza e da maternidade. Ela é a mãe mais bela e formosa dos deuses africanos, que amamenta e ama.
Por representar a maternidade, Oxum é vista como representante da família, que tem grande importância nas religiões africanas praticadas no Brasil. Em um terreiro do Vale do Cotinguiba, no interior do Sergipe, mulheres comandam os rituais do candomblé, retratados pela cantora e diretora do documentário Eu, Oxum: Hèloa e sua mãe Martha Sales.
Terreiro
Acender as velas, trançar os cabelos, queimar as marcas no chão; colher as ervas, lavá-las e defumá-las: tudo faz parte de um ritual religioso secular, prática que muitas vezes é passada de geração para geração. Vestidas de branco, com saias rodadas, as mulheres do terreiro contam sobre o primeiro contato que tiveram com a deusa Oxum, e quantos foram os preconceitos e medos superados para entrarem de vez na religião.
Em uma cena do documentário, uma mulher está de joelhos, chorando copiosamente. As mãos trêmulas indicam um tipo de transe, em que ela tudo ignora, até mesmo as danças e os cantos que a cercam. No filme, cenas do ritual se misturam com cenas de rios e outros elementos da água. O jogo de cena condiz com o significado de Oxum, mesmo nome dado a um rio na Nigéria, país africano.
Sagrado feminino
A deusa é símbolo do sagrado feminino, que guia as mulheres no amor e em suas famílias. Segundo as filhas de Oxum, estar em contato com a deusa as fizeram ter uma relação melhor com seus próprios filhos, e que aprenderam a “cultivar seus filhos com mais amor e carinho”.
Além da relação maternal, as filhas de Oxum afirmam que o amor e a confiança também são praticados em todas as esferas da religião. “Amar é confiar”, e elas confiam em seus orixás (deuses africanos que representam as forças da natureza) para guia-las em suas vidas. Desta forma, a religião se apresenta como uma conexão entre as forças da natureza e os sentimentos humanos que guiam aqueles que a praticam.
Eu, Oxum
Para quem nunca teve contato com o candomblé, o documentário de vinte e dois minutos apresenta, com belas cenas e efeitos sonoros, o que é a religião, seus significados e como os preconceitos podem ser superados pelo simples contato com o desconhecido.
Afinal, desconhecer não é um verbo que condiz muito com a realidade sincrética do Brasil. Vem a calhar um documentário como Eu, Oxum no fim do ano. O Natal, por exemplo, celebra o nascimento de Jesus Cristo, e se tornou um feriado respeitado mesmo por aqueles que não são cristãos. Isso porque vivemos em um país é sincrético, isto é, que acredita e pratica tudo ou muitos rituais e religiões.
Não é à toa que pulamos sete ondas e escolhemos a cor da roupa do fim do ano, ou que acendemos velas e entregamos rosas ao mar. Porque as superstições fazem parte das nossas vidas. E quantas dessas não vieram de rituais e religiões africanas? Para 2018, vale repensar em como tratamos as religiões que desconhecemos, e como conhecer o desconhecido, o estranho, pode ser mais uma forma de tolerância e de amor.
Assista ao documentário
Originally published at www.siteladom.com.br on December 26, 2017.