Duas Rainhas, de rivalidade feminina a sororidade

Rafaela Arradi
Lado M
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3 min readApr 3, 2019

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O filme Duas Rainhas (‘‘Mary Queen of Scots’’, título original), com estreia no dia 4 de abril, conta a história da relação de Mary, rainha da Escócia e sua prima Elizabeth I, rainha da Inglaterra, baseado na obra de John Guy,Queen of Scots: The True Life of Mary Stuar e dirigido pela primeira vez por Josie Rourke, grande nome no teatro britânico.

Mary, após a morte de seu marido na França, retorna à Escócia para tomar o seu império. Com direito a sucessão de Elizabeth, Mary ameaça reivindicar seu trono, o que causa um conflito entre os dois impérios governados por mulheres.

As personagens de Duas Rainhas

Estrelada por Saoirse Ronan (indicada ao oscar de melhor atriz por Lady Bird: A Hora de Voar), Mary Stuart se afirma como uma mulher doce e ao mesmo tempo poderosa e destemida. Diante de todos os homens que tentavam tirá-la do poder e ir contra os seus planos, a rainha se mostra firme e decidida.

Já Elizabeth I, interpretada por Margot Robbie (indicada ao Oscar de melhor atriz por seu papel em Eu, Tonya) sente fortemente o peso da pressão de ser uma mulher no poder diante de crenças em que a mulher havia sido criada para ser esposa e mãe. Elizabeth ao longo da história, afirma diversas vezes que estaria se tornando mais homem do que mulher, uma vez que se sentia na obrigação de deixar seu lado feminino para poder ser respeitada pela corte formada por homens.

Um desses pontos fica muito aparente no momento em que a rainha pega varíola e seu rosto fica eternamente marcado pela doença, o que é acompanhado durante toda a trama, quando a personagem aparece cada vez mais caricata usando pós brancos como maquiagem e perucas para aparecer em público.

A maldição

Diante de uma corte tão masculina, é de esperar que os homens não recebessem de bom grado ordens e planos de uma mulher. Nesse quesito, Mary é constantemente contrariada e deslegitimada por um grupo de homens que além de questionar seu poder por ser uma mulher, também a criticavam por ser católica, enquanto a religião prevalecente era a protestante.

Temos uma maldição em nossa terra. Uma mulher com uma coroa.

Dessa forma, Mary não só era acusada de representar o fim da nação, mas também da religião. Por conta disso, inúmeras são as tentativas de tirá-la do poder, enquanto a rainha persiste com seus planos e sua governança até que não seja mais possível.

Muitas vezes me disse que eu não conseguiria fazer o que fiz

Ainda, o filme Duas Rainhas retrata a difícil realidade daquela época e a pressão em relação a casamento, muitas vezes seguido de estupro, e a gravidez e maternidade, sempre colocada como função exclusiva à mulher.

De inimigas a irmãs

Visto que ambas as rainhas passavam por dificuldades e pressões que só elas poderiam entender, elas passam a ver uma a outra como as únicas possíveis aliadas. Sendo assim, Mary precisa realizar um encontro escondido com Elizabeth para pedir a sua proteção de seu próprio povo que a queria mal e coloca em palavras a urgência de precisarem juntar suas forças e se unirem.

Elizabeth, nesse momento, relata que sentia que Mary havia a superado em todos os requisitos de uma rainha, desde sua beleza até o casamento e maternidade. E, dessa forma, se mostra a competição social que havia entre duas figuras femininas, mas que, acima de tudo, sofriam dos mesmos males e precisavam se juntar. Mary e Elizabeth naquele momento eram mais do que rainhas ou rivais, eram irmãs.

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Rafaela Arradi
Lado M

Amante de uma boa leitura e em rumo a uma nova jornada profissional na escrita