Dumbo, a animação Disney que traz desconforto do começo ao fim
No dia 29 de março estreia Dumbo, a versão live action do filme animado de 1941. Como mais um da série de lives action dos últimos anos, o filme dessa vez é dirigido por Tim Burton e conta com um elenco com Eva Green (300) e Colin Farrell (Animais Fantásticos e Onde Habitam).
A história, mais do que um remake, é também uma continuação do filme original, uma vez que apresenta uma narrativa mais extensa. Ainda assim, muitos aspectos lembram cenas marcantes como o abraço entre a mãe e Dumbo e a cena psicodélica dos elefantes.
Pequena menina, grande sonho
Como ponto forte, temos uma personagem feminina ainda jovem que traz um leve toque de empoderamento feminino à história. Milly, interpretada por Nico Parker, é irmã mais velha de Joe e filha de Holt Ferrier, que representa uma das principais estrelas do circo que acaba de voltar de seu serviço na guerra após sua esposa e mãe das crianças ter falecido.
Milly, por mais que tenha toda a sua vida envolvida com o circo, não quer fazer parte do espetáculo e ‘‘se exibir’’, como a própria fala. A menina é apaixonada por ciência e experimentos e sonha em ser uma grande cientista no futuro. Dessa forma, ela aplica seus conhecimentos e faz testes com Dumbo até que consiga fazer ele voar com disciplina.
A pequena cientista se inspira em grandes mulheres da área e traz uma cena na qual visita uma área do circo voltada para a ciência com grandes retratos de cientistas importantes, na qual Milly se depara com um retrato de uma de suas principais inspirações e fica admirando-a.
A relação maternal
Desde o início do filme, fica evidente a importância da relação maternal tanto de Dumbo com a sua mãe quanto das crianças que perdem sua mãe para uma doença.
Dessa forma, o pai, que tinha acabado de chegar da guerra, mostra como tem dificuldade para lidar, interagir e conversar com seus filhos, quando esses já tinham uma relação próxima de sua mãe que estava sempre presente até então. A história mostra a imagem da mãe como alguém que levava jeito em tudo que fazia e tratava seus filhos com muito amor sabendo sempre como educá-los.
Já no caso de Dumbo, desde que nasceu, essa relação maternal tem muita importância para ambos mãe e filho. Dumbo que foi ridicularizado desde que nasceu, faz com que sua mãe fique ainda mais próxima e protetora de seu filhote, motivo pelo qual é presa após defendê-lo em um espetáculo no qual estavam abusando dele.
Sendo assim, toda a narrativa é construída ao redor dessa relação e da busca pelo reencontro dos dois, o que desde o primeiro filme da animação, traz cenas emocionantes e levam o público a ficar com o coração apertado.
De Jumbo a Dumbo
O elefante que no começo da história é chamado de Jumbo, passa a ser chamado de Dumbo, o que significa algo como estúpido ou burro, uma vez que o público do circo descobre que ele nasceu com orelhas muito maiores do que um elefante comum. Dessa forma, todos passam a ridicularizar o animal, fazendo piadas maldosas e até atirando objetos nele.
Por conta dessa característica, Dumbo é colocado sempre para baixo, até que descobre que consegue voar justamente por causa de suas orelhas e isso se torna o seu principal atrativo depois de tanto ser incentivado pelas crianças que o estava treinando.
Dessa forma, o filme passa uma sutil mensagem de aceitar quem somos e quem os outros são, valorizando as diferenças e até enaltecendo-as, mostrando como cada um é especial e tem um toque que o torna único.
Os maus-tratos aos animais
Do início ao fim do filme é mostrado um circo que usa os animais para promoção de entretenimento ao público. Isso faz com que eles sejam constantemente maltratados, desde agressões físicas para ‘‘discipliná-los’’ até confinamento de espaço e terem que ficar em jaulas fora de seu habitat natural.
Por mais que em parte o filme trabalhe um pouco com essa temática, visando por exemplo libertar a mãe de Dumbo, ainda deixa muito a desejar, uma vez que seria o filme ideal para debater o assunto em pleno 2019, em contraposição com 1941, quando ainda o tema sequer era debatido.
Dumbo deixa aquele desconforto e esperança de que seja feito algo a respeito. Porém, acaba deixando a frustração de não ter dado conta do recado e ter abordado a temática de maneira extremamente rasa, tratando do problema como exclusivo de Dumbo, enquanto todos os outros animais da história passavam pela mesma situação.
Em 2019, fica o questionamento se vale a pena trazer narrativas românticas sobre problemas reais só pelo entretenimento, sem se responsabilizar das demais mensagens que uma narrativa dessas possa passar.