Dumbo, a animação Disney que traz desconforto do começo ao fim

Rafaela Arradi
Lado M
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4 min readMar 26, 2019

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No dia 29 de março estreia Dumbo, a versão live action do filme animado de 1941. Como mais um da série de lives action dos últimos anos, o filme dessa vez é dirigido por Tim Burton e conta com um elenco com Eva Green (300) e Colin Farrell (Animais Fantásticos e Onde Habitam).

A história, mais do que um remake, é também uma continuação do filme original, uma vez que apresenta uma narrativa mais extensa. Ainda assim, muitos aspectos lembram cenas marcantes como o abraço entre a mãe e Dumbo e a cena psicodélica dos elefantes.

Cena remake da imaginação dos elefantes

Pequena menina, grande sonho

Como ponto forte, temos uma personagem feminina ainda jovem que traz um leve toque de empoderamento feminino à história. Milly, interpretada por Nico Parker, é irmã mais velha de Joe e filha de Holt Ferrier, que representa uma das principais estrelas do circo que acaba de voltar de seu serviço na guerra após sua esposa e mãe das crianças ter falecido.

Milly, por mais que tenha toda a sua vida envolvida com o circo, não quer fazer parte do espetáculo e ‘‘se exibir’’, como a própria fala. A menina é apaixonada por ciência e experimentos e sonha em ser uma grande cientista no futuro. Dessa forma, ela aplica seus conhecimentos e faz testes com Dumbo até que consiga fazer ele voar com disciplina.

A pequena cientista se inspira em grandes mulheres da área e traz uma cena na qual visita uma área do circo voltada para a ciência com grandes retratos de cientistas importantes, na qual Milly se depara com um retrato de uma de suas principais inspirações e fica admirando-a.

A relação maternal

Desde o início do filme, fica evidente a importância da relação maternal tanto de Dumbo com a sua mãe quanto das crianças que perdem sua mãe para uma doença.

Dessa forma, o pai, que tinha acabado de chegar da guerra, mostra como tem dificuldade para lidar, interagir e conversar com seus filhos, quando esses já tinham uma relação próxima de sua mãe que estava sempre presente até então. A história mostra a imagem da mãe como alguém que levava jeito em tudo que fazia e tratava seus filhos com muito amor sabendo sempre como educá-los.

Já no caso de Dumbo, desde que nasceu, essa relação maternal tem muita importância para ambos mãe e filho. Dumbo que foi ridicularizado desde que nasceu, faz com que sua mãe fique ainda mais próxima e protetora de seu filhote, motivo pelo qual é presa após defendê-lo em um espetáculo no qual estavam abusando dele.

Sendo assim, toda a narrativa é construída ao redor dessa relação e da busca pelo reencontro dos dois, o que desde o primeiro filme da animação, traz cenas emocionantes e levam o público a ficar com o coração apertado.

Dumbo e sua mãe

De Jumbo a Dumbo

O elefante que no começo da história é chamado de Jumbo, passa a ser chamado de Dumbo, o que significa algo como estúpido ou burro, uma vez que o público do circo descobre que ele nasceu com orelhas muito maiores do que um elefante comum. Dessa forma, todos passam a ridicularizar o animal, fazendo piadas maldosas e até atirando objetos nele.

Por conta dessa característica, Dumbo é colocado sempre para baixo, até que descobre que consegue voar justamente por causa de suas orelhas e isso se torna o seu principal atrativo depois de tanto ser incentivado pelas crianças que o estava treinando.

Dessa forma, o filme passa uma sutil mensagem de aceitar quem somos e quem os outros são, valorizando as diferenças e até enaltecendo-as, mostrando como cada um é especial e tem um toque que o torna único.

Os maus-tratos aos animais

Do início ao fim do filme é mostrado um circo que usa os animais para promoção de entretenimento ao público. Isso faz com que eles sejam constantemente maltratados, desde agressões físicas para ‘‘discipliná-los’’ até confinamento de espaço e terem que ficar em jaulas fora de seu habitat natural.

Por mais que em parte o filme trabalhe um pouco com essa temática, visando por exemplo libertar a mãe de Dumbo, ainda deixa muito a desejar, uma vez que seria o filme ideal para debater o assunto em pleno 2019, em contraposição com 1941, quando ainda o tema sequer era debatido.

Dumbo deixa aquele desconforto e esperança de que seja feito algo a respeito. Porém, acaba deixando a frustração de não ter dado conta do recado e ter abordado a temática de maneira extremamente rasa, tratando do problema como exclusivo de Dumbo, enquanto todos os outros animais da história passavam pela mesma situação.

Em 2019, fica o questionamento se vale a pena trazer narrativas românticas sobre problemas reais só pelo entretenimento, sem se responsabilizar das demais mensagens que uma narrativa dessas possa passar.

Assista ao trailer de Dumbo

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Rafaela Arradi
Lado M
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Amante de uma boa leitura e em rumo a uma nova jornada profissional na escrita