Educação não Violenta: como estimular autoestima, autonomia, autodisciplina e resiliência em você e nas crianças

Mariana Miranda
Lado M
5 min readJan 4, 2020

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Em 2014, o Brasil debateu um assunto que há tempos estava presente na nossa educação: a palmada. Com a a Lei Menino Bernardo — ou Lei da Palmada, com foi apelidada — alguns achavam que o Estado estava indo longe demais ao interferir na educação familiar, já outros achavam que era necessário colocar limites.

Para muitos adultos, principalmente de gerações mais velhas, não existe educação sem punição. Foi assim que foram educados, e foi assim que educaram seus filhos.

É na contramão dessa cultura autoritária que Elisama Santos, educadora parental e consultora em comunicação consciente, traz o livro Educação não Violenta. A obra, publicada pela editora Paz & Terra, ensina a estimular a autoestima, autonomia, autodisciplina e resiliência nas crianças e também nos adultos.

Através de exemplos reais, a autora trata temas desafiadores para os pais, como sentimentos negativos, choro sem motivo, desobediência, estresse e vingança. Elisama Santos divide um resumo de tudo o que trabalhou em cada tema no final dos capítulos. Destes, separamos alguns pontos importantes para que você possa começar a praticar a Educação não Violenta ainda hoje:

Um novo olhar sobre a educação

  1. O mundo mudou: não bastam os conhecimentos externos, o autoconhecimento se mostra cada vez mais importante e necessário
  2. O foco da educação não violenta não é a obediência, mas o desenvolvimento da responsabilidade
  3. O autoritarismo é emocionalmente insustentável, induz à mentira e à desconexão
  4. A permissividade produz crianças pouco resilientes e incapazes de lidar com as frustrações que inevitavelmente acontecerão ao longo da vida
  5. A educação precisa ser pensada a longo prazo. As habilidades que desejamos ver em nossos filhos no futuro devem ser ensinadas e treinadas no presente
  6. Educação sem palmadas não é modismo. O país mais feliz do mundo há quarenta anos, a Dinamarca, baseia a educação das crianças em métodos não violentos

Os sentimentos do seu filho

  1. Os sentimentos das crianças interferem diretamente no comportamento a na saúde física e mental delas
  2. A inteligência emocional é a capacidade de reconhecer e lidar com os próprios sentimentos e emoções, utilizando-os ao seu favor, bem como compreender e lidar com os sentimentos e emoções dos outros
  3. Somos responsáveis pela alfabetização emocional dos filhos. Nomear os sentimentos ajuda a aumentar o próprio repertório emocional, espelhar o que os filhos sentem valida o sentimento deles e escutá-los fortalece a conexão entre vocês
  4. Não existe choro sem motivo, e birra é um rótulo que usamos para desconsiderar os sentimentos das crianças
  5. Menosprezar, ignorar, dar conselhos, atender e explicar demais atrapalham a empatia e não apresentam formas saudáveis de lidar com os sentimentos
  6. A imaginação é uma grande aliada na educação e na resolução de problemas cotidianos
  7. As crianças necessitam de auxílio para lidar com sentimentos desafiadores, e os pais precisam desenvolver habilidade para lidarem com os próprios sentimentos
  8. Assumir a responsabilidade pelo o que sentimos nos torna mais capazes de transformar as nossas ações e modelar o comportamento que desejamos ver nos filhos

Nutrindo a autenticidade

  1. A educação não deve ser um esforço para aniquilar as características que reprovamos em nossos filhos, mas sim para ajudá-los a lidar com todas as suas facetas, desde as que admiramos até as que repugnamos
  2. Rótulos são profecias autorrealizáveis
  3. Fato é o que nos acontece, opinião é o que julgamos sobre o que acontece. A confusão entre ambos traz muitos prejuízos para as relações, sobretudo com nossos filhos
  4. O que ganha atenção ganha força. Quanto mais foco colocamos em rótulos, mais aprisionamos os nossos filhos em características que repelimos
  5. Comunicar-se com os rótulos tira a presença necessária para lidar com a realidade e encontrar soluções para os problemas disciplinares
  6. Rótulos positivos são tão nocivos quanto os negativos, e ambos devem ser evitados
  7. Utilize elogios descritivos, dando à criança uma noção das próprias realizações
  8. Erros fazem parte do aprendizado e são excelentes oportunidades de crescimento
  9. Substitua a crítica por perguntas que estimulem a reflexão

Preparando para a vida

  1. Os filhos não são nossos, mas deles mesmos. Nós somos os cuidadores até terem capacidade de cuidarem de si sozinhos
  2. Desenvolver a autonomia, a capacidade de tomar decisões e a responsabilidade pelo cuidado de si pode transformar positivamente o futuro das crianças
  3. O papel dos pais é serem treinadores que se colocam ao lado, que auxiliam nas intempéries, que estimulam a criatividade, que ofertam a mão sempre que necessário e que apresentam a vida sem filtros. Não é fazer pelos filhos, nem controlar
  4. Devemos treinar nossos filhos para as tarefas diárias em vez de apenas cobrar que as tarefas sejam executadas
  5. Permita escolhas, dentro dos limites preestabelecidos
  6. Crie um quadro de rotinas, escute as dúvidas e anseios e explique sobre consequências
  7. O óbvio não existe e o fácil é um conceito relativo
  8. Ensine, não faça pela criança. Valorize o esforço dela
  9. Estimule o cuidado com a higiene, com a casa, com a saúde, com os sentimentos e com o outro

Muito além da obediência

  1. A cooperação desenvolve responsabilidades, além de tornar os dias mais fluidos e leves
  2. Persistência e consistência são imprescindíveis para que as crianças compreendam e sigam as regras
  3. É normal que as coisas piorem antes de melhorar. Mantenha-se gentilmente firme
  4. Observações verdadeiras são descrições da realidade isenta de julgamento. Quanto mais contaminamos os fatos com nossas opiniões, maior a resistência de quem nos ouve
  5. Faça pedidos positivos, concertos, curtos, possíveis e conscientes
  6. Humor e criatividade tornam os dias mais leves e fluidos. Use e abuse deles
  7. Inclua as reuniões de família na rotina. Elas são excelentes oportunidades de saber o ponto de vista de todos e equalizar seus interesses, além de desenvolverem a responsabilidade e fortalecerem a autoestima

Abandonando as punições

  1. Punições não educam a longo prazo, induzem à mentira e ferem a relação da criança com os pais e consigo mesma. Falar positivamente, oferecer escolhas e deixar que a criança as consequências de suas atitudes são alternativas às punições
  2. Muito do que julgamos sem um mau comportamento faz parte do desenvolvimento do ser humano, e entender suas fases nos torna mais hábeis a lidar com elas
  3. Crianças precisam do sentimento de aceitação e de amor, e o mau comportamento reflete formas equivocadas de consegui-los
  4. Atenção indevida, disputa de poder, vingança e inadequação assumida são quatro raízes do mau comportamento, segundo Rudolf Dreikurs
  5. Observar as necessidades e os sentimentos que estão por trás do comportamento nos faz desenvolver formas construtivas de agir
  6. As crianças se comportam mais com regras que ajudaram a construir. Crianças a partir de 4 anos são perfeitamente capazes de participar
  7. Menos exposição a telas e mais brincadeiras reduzem o estresse e refletem na saúde física e emocional da criança

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Mariana Miranda
Lado M
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Formada em Jornalismo pela ECA-USP e cofundadora do Lado M