Ela Disse: os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo

Mariana Miranda
Lado M
3 min readJan 12, 2020

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Em outubro de 2017, as jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey publicaram uma reportagem acusando Harvey Weinstein, famoso produtor de Hollywood, de comprar o silêncio de dezenas de vítimas de assédio sexual através de contratos de confidencialidade. A matéria, publicada no The New York Times, trazia relatos de atrizes, funcionárias e executivos que trabalhavam para Weinstein ao longo das últimas décadas.

Além de desmascararem um homem poderoso como Weinstein, Jodi Kantor e Megan Twohey conseguiram fazer algo ainda mais incrível: dar o pontapé inicial em um verdadeiro levante de mulheres, antes silenciadas e acuadas, que começaram a falar sobre situações de assédio sofridas em diversos cantos nos Estados Unidos.

Todos esses relatos invadiram as caixas de e-mail das jornalistas e pararam a internet com a campanha #MeToo, que alcançou escala global e mudou significantemente a maneira como lidamos com situações de assédio. Segundo um levantamento feito também pelo The New York Times, o movimento tirou pelo menos 200 homens do poder, depois de serem acusados publicamente de assédio sexual.

“O #MeToo foi um tsunami que liberou ondas e águas represadas há dois milênios. O movimento fala por mim, por você, por todas as mulheres que eram tão sufocadas que nem percebiam que assédio era assédio.”
— Heloisa Buarque de Hollanda

O desafio do jornalismo investigativo

No final de 2019, a Companhia das Letras trouxe para o Brasil o livro Ela Disse: os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo. Em cada página, acompanhamos Jodi e Magan procurando as vítimas, ouvindo seus relatos e tentando estruturar uma reportagem em meio a diversas investidas de Weinstein e sua equipe.

O livro é tão eletrizante que é difícil acreditar que tudo aconteceu de verdade: espiões contratados para atrapalhar a apuração, estratégias digitais para tentar manter a autoridade do produtor, vigílias noturnas e até visitas inesperadas do acusado à redação, colocando em risco a vida das jornalistas.

Ela Disse é um prato cheio para quem gosta de jornalismo investigativo e deveria ser leitura obrigatória nas faculdades de comunicação em todo o mundo. Nas 330 páginas desta edição, aprendemos uma verdadeira lição de como fazer jornalismo de verdade e do papel de relações públicas para ajudar ou atrapalhar o trabalho de apuração dos colegas.

O livro aquece o coração de todos aqueles que se encantam pela profissão de jornalista e ainda acreditam que através de boas reportagens é possível mudar o mundo.

“Não imaginava que uma história tão recente — e da qual eu pensava que já sabia tanto — era na verdade um thriller de tirar o fôlego. Meu reconhecimento a Jodi e Megan pela coragem, mas também às mulheres que se arriscaram para proteger as outras e mudas essa cultura.”
— Natalie Portman

Sobre as autoras de Ela Disse

Jodi Kantor e Megan Twohey são jornalistas investigativas do The New York Times. Autora do livro The Obamas (2012), Jodi especializou-se em longas reportagens e cobriu temas como política, gênero, tecnologia e cultura. Antes de apurar o caso de Harvey Weinstein, Megan publicou reportagens sobre as denúncias de assédio envolvendo Donald Trump. Em 2018, a dupla ganhou o prêmio Pulitzer de jornalismo na categoria serviço público.

“Esse livro vai fazer você gritar: ‘É isso aí! Nós conseguimos. O mundo mudou’.” — Ashley Judd

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Mariana Miranda
Lado M
Editor for

Formada em Jornalismo pela ECA-USP e cofundadora do Lado M