Eleições 2018: um relato sobre ódios e empatias

Cris F Santana
Lado M
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3 min readOct 9, 2018

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Eu, como mulher e lésbica, me senti na obrigação de tomar posição neste pleito eleitoral. Primeiro porque acredito que a omissão favorece o opressor, e também porque como pessoa que nasceu na democracia que me garantiu alguma (não toda, mas alguma) liberdade para ser mulher e lésbica, achei que por bem deveria lutar por ela.

Não foi fácil.

No meio do caminho, me afastei de muitos conhecidos, discuti com pessoas que não imaginava que discutiria (sempre tentando usar o máximo da calma e do respeito porque eu acredito que o bom argumento e a atenção, e não as armas e a violência, é que vão levar a gente para uma sociedade melhor). Talvez eu tenha perdido amigos, ou talvez a decepção que senti ao saber os reais pensamentos de alguns não vai me permitir mais ter por eles o mesmo sentimento de antes. Cheguei ao dia 7 de outubro com muito mais tristezas no peito do que gostaria.

Nesses meses, descobri que é complicado abrir os olhos das pessoas. É complicado porque a maioria das pessoas que intencionam votar naquele senhor, vão fazer por puro ódio. E também porque a maioria nem sequer leu a proposta de governo dele (eu li as 81 páginas), não viu as 7 páginas que ele dedica pra tentar provar que armar as pessoas é uma boa ideia (quando todos os países considerados de 1º mundo pensam o contrário), não leu o monte de frases feitas sobre economia onde ele cita um plano recessivo ainda maior do que o que Michel Temer vem aplicando (e que provavelmente vai diminuir muito o dinheiro no nosso bolso) e não leu, principalmente, o que ele pretende fazer com as leis trabalhistas. A tal carteira de trabalho verde e amarela que vai possibilitar “ao trabalhador” escolher se quer ser CLT (com férias, 13º salário e coisa e tal) ou se quer ser só contratado — e vamos combinar que nesse país o patrão não vai querer pagar benéfico se tiver outra opção, não é mesmo?!

PDF de 81 páginas que devia ser o Plano de Governo para um Estado Laico

E além disso, quem vota com ódio dificilmente vai sentir empatia por quem mais sofre com as ideias que o coiso propaga. Perdi as contas dos relatos de amigos que nas últimas semanas já ouviram mais de uma vez frases como “espera o Bolsonaro ganhar e eu puder andar armado” simplesmente por estar andando na rua. Sem falar no horrível episódio do grupo no metrô de São Paulo cantando para a “bicharada tomar cuidado que o Bolsonaro vai matar viado”.

Porque assim, por mais que ele não fosse o machista, racista e homofóbico que a gente sabe que ele é, só o fato dele dar voz para quem é já está fazendo com que um monte de gente preconceituosa coloque para fora seus pensamentos mais cruéis. O fascismo conseguiu sair do armário

E eu sei bem o que é sentir medo de sair na rua e alguém cismar com minha “cara de sapatão”. Boa parte de quem vota naquele senhor não sabe o que é isso.

Enfim, é difícil convencer quem vota pelo ódio a ler com carinho e atenção todas as notícias e propostas dos candidatos (eu também li as 24 páginas da Marina, as 61 do Haddad, as 62 do Ciro, as 23 do João Amoedo, as 228 do Boulos, e até as 17 do Cabo Daciolo, antes de decidir meu voto) e quem sabe transformar voto por ódio em voto por empatia. Aí fica difícil mesmo.

Mas é aquilo, né!? A gente segue lutando…

#EleNão #FascismoNão

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