Faça você mesma das minas: aprenda a fazer reparos, obras e reformas!

Vanessa Panerari
Lado M
5 min readJun 16, 2017

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Empoderamento foi a palavra mais procurada no dicionário Aurélio em 2016. Há algum tempo a autonomia da mulher em relação ao seu próprio corpo, emprego, dinheiro, emocional e psicológico se tornou tema frequente de discussões na esfera pública online e offline. A frase “Lugar de mulher é onde ela quiser” nunca foi tão repetida. Nesse sentido, lugar de mulher pode ser se tornar independente fazendo obras, reformas e reparos também, não é? Pensando nisso, essa matéria vai te apresentar dois projetos extremamente empoderadores de mulheres que ensinam outras mulheres a terem autonomia sobre suas obras e casas, ao melhor estilo faça você mesma. São eles: o Canal Paloma Cipriano e o Se vira, Mulher.

Canal Paloma Cipriano

Paloma Cipriano é uma jovem de 23 anos que cursa Publicidade. Hoje tem um canal no Youtube com mais de 140 mil inscritos, onde ensina como realizar tarefas que tenham a ver com obras, desde furar uma parede até rebocar com gesso. Nascida em uma família só de mulheres e depois com um irmão mais novo, Paloma sempre teve que se virar com a casa que estava constantemente em obras. No início do canal ela já fazia alguns vídeos de “faça você mesmo” (DIY) mas depois de alguns cursos, mais segurança e o incentivo da mãe, Paloma gravou o primeiro dos vídeos relacionados à construção, onde ensinava a colocar piso em um quarto. Foi então que Paloma começou a receber mensagens de mulheres que aprenderam com ela a colocar piso em suas casas, o que a estimulou a continuar produzindo esse tipo de conteúdo. Confira a entrevista:

Lado M: Por que você decidiu começar o canal? O que você queria comunicar?

Paloma Cipriano: No início eu não queria comunicar nada, nem queria postar vídeos nesse estilo, minha mãe que insistiu e disse que seria legal. Depois que postei o primeiro vídeo, percebi como as mulheres precisam saber que elas também conseguem fazer as coisas. Porque eu recebo comentários do tipo “Paloma, nunca imaginei que eu conseguiria fazer isso, depois que vi seu vídeo tentei fazer e consegui” e eu acho que ter alguém mostrando que dá pra fazer, é uma representação importante entre as mulheres.

LM: Seus vídeos tem um público feminino grande? Como é a resposta desse público?

PC: No início era cerca de 20% feminino, com tempo isso foi aumentando. Hoje chega a ser 36% feminino. Então eu acredito muito que devagar ainda vai mudar muita coisa.

LM: Você já sentiu, em algum momento, preconceito por ser uma mulher que lida com obras, construções e reformas?

PC: Não imaginava que existia tanto preconceito, mas depois que criei o canal eu vi a dimensão e quão retrógrado ainda é a cabeça dos brasileiros. É só dar uma olhada em qualquer vídeo meu que você acha muitos comentários machistas. Alguns menos agressivos, outros mais. Sempre tem. Mas felizmente a maioria dos comentários são positivos.

LM: Para você, qual a importância do seu conteúdo em relação a empoderar outras mulheres?

PC: Como eu disse no comentário acima eu acho que ter alguém mostrando que dá para fazer tudo que a gente quiser fazer, é uma forma de estar ali para incentivar e ser de alguma forma um exemplo pra muitas mulheres que acham que ser mulher se resume em ser mãe, em ser linda e impecável, em ser vaidosa e sexy, sendo que, além dessas coisas, podemos ser muito mais.

Se Vira, Mulher

Se você prefere aprender colocando a mão na massa e com instrução mais personalizada, o Se Vira, Mulher, pode ser uma opção incrível. Criado esse ano, o projeto organiza minicursos, feito por e para mulheres, que ensinam a fazer pequenos reparos e instalações em casa. Além disso, para as alunas que já fizeram o curso, o Se Vira, Mulher oferece assistência caso você tenha dúvidas. Nos cursos, você pode aprender:

– Conceitos de Eletricidade

– Segurança e Proteção

– Quadros de Energia e Disjuntores

– Condutores e Eletrodutos

– Tomadas, Interruptores e Chuveiros

– Circuitos de Iluminação

– Noções de Hidráulica (torneira, privada, caixa d’água, etc)

Thaís Nobre, uma das organizadoras do projeto, nos deu uma entrevista:

Lado M: Como e por que nasceu o projeto e a ideia de empoderar mulheres ensinando-as a fazer reparos em suas próprias casas?

Thaís Nobre: A ideia surgiu quando percebemos que muitas mulheres procuravam outras mulheres para prestar esses serviços (o que é ótimo), porém muitas vezes eram reparos e instalações muito simples, que poderiam ser de conhecimento geral, se isso nos fosse incentivado desde meninas. Então decidimos ensiná-las, para que tenham mais independência e autonomia, e também para, dessa forma, tentar mudar aos poucos a mentalidade de que estes são “serviços para homens”.

LM: Quem são as organizadoras e quando nasceu o projeto?

TN: Quem organiza somos eu e a Sarah Leite, mas temos também a minha mãe, Edna Braga, que nos ajuda na parte contábil e jurídica, e a Bianca, a Bárbara e a Jeanne que são educadoras junto comigo. O projeto nasceu dia 6 de fevereiro desse ano, quando tivemos a ideia, fizemos o logo e fizemos um post num grupo do Facebook contando mais ou menos como seria. Esse post teve mais de 2000 interações em menos de 24h e foi nossa grande alavanca.

LM: Os minicursos costumam ter bastante procura? Quem são as mulheres que procuram as aulas?

TN: Os minicursos ainda têm bastante procura sim. Já fizemos 5 turmas de 30 pessoas e ainda temos demanda, não só em São Paulo, mas no Brasil todo.
Nosso público é muito diverso. Só exigimos que seja mulher e tenha no mínimo 16 anos, e já tivemos meninas nesta idade e senhoras de 60 e poucos. Mas com certeza nosso grupo massivo é de jovens adultas, que pretendem ou moram sem os pais a pouco tempo, e, claro, feministas.

LM: Vocês pretendem expandir os cursos?

TN: Nós já estamos num processo de expansão. Faremos em junho nossa primeira turma fora de São Paulo e pretendemos levar o projeto a todos os lugares possíveis, para alcançar o máximo de mulheres que pudermos. Estamos também perto de abrir um novo módulo do curso, que ensinará mecânica automotiva básica, e existe até a ideia de franquear a empresa, pois já existem interessadas, mas isso é papo mais de longo prazo.

Originally published at www.siteladom.com.br on June 16, 2017.

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