Feminicida, Goleiro Bruno consegue habeas corpus e deixará a prisão
O Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, concedeu, na data de hoje, o habeas corpus a Bruno Fernandes de Souza, o goleiro Bruno, pelo crime de homicídio triplamente qualificado, cárcere privado e sequestro de Eliza Samúdio. Segundo o advogado de Bruno, a soltura deve ocorrer ainda hoje, até o meio dia.
A decisão do ministro cita que “nada, absolutamente nada, justifica tal fato”, referindo-se à prisão de Bruno pela condenação de Eliza. Para o ministro, mesmo a confissão de Bruno, dada em 2013, não justifica sua prisão. Bruno cumpriu menos de um quarto de sua pena, que conferia 22 anos de reclusão em regime fechado.
A condenação foi dada em 2013, apenas dois dias após o goleiro Bruno ter assumido a morte de Eliza, depositando a culpa em Luiz Henrique Romão, o Macarrão, seu amigo e coadjuvante no crime. A confissão garantiu o abatimento de três anos no total da pena, porém o acréscimo de seis anos quando constatou-se que Bruno era o mandante.
Mesmo preso, Bruno assinou contrato com o time Montes Claros Futebol Clube, para disputar o campeonato mineiro, em 2014. O próprio Flamengo, na voz do vice-presidente jurídico Rafael de Piro, já havia manifestado interesse de receber o goleiro Bruno novamente, caso o réu obtivesse habeas corpus do assassinato de Eliza.
Eliza desapareceu em 2010, após divulgar depoimentos em vídeo relatando sofrer ameaças do goleiro Bruno. Ela afirmava que sua vida e a do filho dos dois estava em risco, uma vez que Bruno não queria assumir a paternidade da criança nem lhe conceder as pensões necessárias. O desaparecimento de Eliza recaiu sobre Bruno, que passou a ser investigado e junto com demais participações no crime. Concluiu-se que Eliza foi assassinada, porém seu corpo nunca foi encontrado.
O feminicidio de Eliza Samúdio vai se configurando como um crime que, mesmo público, torna-se impune. Os clubes querem usar a polêmica para projetar seus times. Os advogados e defensores públicos tentam usar a polêmica para garantir seus nomes. Ninguém parece se preocupar, no entanto, com o legado macabro deixado por Bruno, que completamente confesso, ainda não responde adequadamente por seu crime. As arestas do machismo institucionalizado não se constrangem, nem mesmo quando expostas na mídia. Bruno é culpado, sim. É réu confesso, sim. É um assassino, sim. Mas, mesmo assim, o Supremo Tribunal Federal, “nada, absolutamente nada”, justifica sua prisão.
Originally published at www.siteladom.com.br on February 24, 2017.