Foto: Divulgação

Filme Depois a Louca Sou Eu levanta a pauta da ansiedade no dia a dia

Julia Biagini
Lado M

--

São altas as chances de você conhecer alguém que toma antidepressivo, ansiolítico ou benzodiazepínico. No caso de você não conhecer, provavelmente você é essa pessoa. Se antes de 2020 éramos considerados a Geração Rivotril, com a chegada do COVID-19 em nosso cotidiano, os números aumentaram.

Segundo dados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), a venda do medicamento cresceu em 22% comparado a 2019. A motivação para a busca do tarja preta tem embasamento: o crescimento expressivo nos casos de depressão (90%), estresse agudo (40%) e crises de ansiedade (71%) durante a pandemia, segundo estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Todos esses dados considerando apenas o primeiro semestre do ano passado.

É ansiedade gerada por ficar em casa e também é medo de sair de casa. Medo de não dormir, de avião, de vírus, bactéria, barata. Ufa! Antes mesmo da pandemia, Tati Bernardi resolveu escrever um livro, lá em 2016 (Cia. das Letras), sobre como foi sua vida, até aquele momento, convivendo com a ansiedade e com os medicamentos.

Depois a Louca Sou Eu foi adaptado para o cinema em 2019 e tinha data de estreia marcada para abril de 2020. Por conta da pandemia, foi adiado. Com direção da brilhante Julia Rezende (Meu Passado Me Condena e De Pernas Pro Ar), produção de Mariza Leão e roteiro assinado por Gustavo Lipstzein, o sucesso literário homônimo autobiográfico de Tati ganhou vida nas telas. Para aqueles que já leram o livro, é possível reconhecer cenas e falas inteiras. A forma da escrita de Tati é tão corriqueira, leve, que em alguns momentos da narração o roteirista colocou partes e diálogos literais.

Foto: Desirée do Valle

Gustavo ainda utilizou-se do recurso cômico-dramático narrativo da autora e ordenou as crônicas em formato linear pra contar a história de Dani (Débora Falabella), uma publicitária que sonha em ser escritora. O espectador acompanha a jornada da protagonista no processo de se tornar quem quer ser, ao mesmo tempo que a vê tentando controlar seus medos e crises de ansiedade e pânico. Com flashes de sua infância, momento onde teria iniciado todo esse processo de descompasso do ritmo do mundo normal, é possível compreender a importância da relação com sua mãe (Yara de Novaes) e o papel dela em um lugar reconfortante.

Durante a coletiva de imprensa, Mariza Leão contou um pouco sobre o que tirou seu sono durante a rodagem do longa: o universo das memórias de Dani. “É um filme bordado nos seus detalhes”, disse a produtora. Foram mais de 70 locações para conseguir criar as diversas micro cenas. Isso vem do fato de que a pessoa ansiosa, antes de agir, pensa nas inúmeras possibilidades das coisas darem certo ou não, somando-se à exploração do passado, em forma de flashes, tornou o filme dinâmico e rico em detalhes.

O tom pop da obra fica por conta da diretora, característica essa que é sua assinatura. Mas diferente de outros trabalhos, ela pontuou sobre a história de Dani: “Não poderia ser uma comédia romântica. Não é a história de um casal” — referindo-se ao relacionamento condutor, que é a de Dani com a família (em especial com mãe), apesar da existência de um par romântico, o personagem Gilberto (Gustavo Vaz). Outro ponto que Rezende relatou ter sido seu maior desafio nesse projeto era achar a medida certa para tratar do tema com humor, mas sem desrespeitar um assunto tão doloroso para alguns. “A gente não tira sarro do problema. A Dani enxerga graça porque é ela quem conta a história, e o humor gera identificação.”, afirma Débora Falabella.

Foto: Stella Carvalho

“Tudo no filme é levado muito a sério, mas ele conta a história de uma mulher que olha com humor para essa situação”, a atriz continua. Apesar das dificuldades que paralisam, Dani tenta seguir em frente. Alguns momentos são lições, outros são reconhecimentos de seus limites, mas o espectador a acompanha ir atrás de seus sonhos. Uma das frases mais marcantes da personagem é: “Eu não posso deixar quem eu sou, atrapalhar quem eu quero ser”. Por ser uma história com narração da protagonista e baseada na biografia de alguém que viveu toda sua vida acompanhada da ansiedade e do pânico, há um precedente factual, autêntico e verídico. “As pessoas que passaram por isso e riem, talvez comecem a entender que isso é normal, pode acontecer com todo mundo”.

O que podemos tirar de tudo isso é que “ninguém está bem”, como escreveu Tati na última crônica do livro (“Parar com a porra toda”). Você não está sozinho! É bem possível que você se identifique com alguma (ou todas) as ansiedades de Dani. Essas fragilidades e vulnerabilidades estão presentes no dia a dia e é necessário quebrar o tabu dessa conversa.

Foto: Divulgação

Se não estivéssemos em cenário de pandemia, esse filme com certeza quebraria os recordes de bilheteria que Julia Rezende já alcançou. Com elenco, roteiro, produção e direção excepcionais, a história de Dani traz ao público os diferentes sentimentos que é viver: passa do humor ao drama em segundos. Porém, nesse mesmo cenário pandêmico, ao chegar às pessoas, o filme irá gerar ainda mais aproximação com seus espectadores.

A comédia dramática chega aos cinemas hoje, dia 25 de fevereiro.

Trailer

--

--

Julia Biagini
Lado M

a relações públicas que só consegue acalmar a mente quando escreve