“Foi só uma brincadeira”: os assédios no ambiente escolar

Isabela Borrelli
Lado M
3 min readDec 3, 2015

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Assédio no ambiente escolar é coisa séria. Apesar disso, parece até uma prática comum levando em consideração o número de denúncias contra professores e funcionários escancarados na página “Eu tinha um professor que”. São diversos os depoimentos que relatam situações em que meninas tiveram seu espaço violado de alguma forma: ou com passadas de mão ou com comentários abusivos.

Na maioria dos casos, é o mesmo desfecho: a vítima se mudou de escola ou saiu da aula de natação, por exemplo. E o abusador? Provavelmente continuou a dar aulas e assediar outras alunas, já que existe uma descrença muito grande em mulheres e meninas que sofreram algum abuso e a tendência é sempre desacreditá-las. Afinal, é a palavra de um contra o outro e o que vale, muitas vezes, é não manchar o nome da instituição.

Elisa Dias* conta que vivenciou isso. Quando estava na oitava série, Elisa tinha um professor de educação física que era adorado pelas alunas por sempre ser muito simpático. Nos dias em que não queria participar da aula, ela ficava conversando com o professor, que a elogiava, falando como era linda, e também comentava sobre o corpo de suas colegas.

Acontece que em outra turma, uma menina comentou que o professor costumava alisá-la em todas as aulas: “ninguém acreditava nela, porque achavam que ela falava isso para chamar atenção”, comenta Dias. Como consequência, Elisa e as amigas se afastaram do professor e tentaram alertar outras colegas que o que ele fazia era pedofilia, mas não tiveram apoio. O desfecho da história aconteceu no ano seguinte, quando ele foi demitido por assediar as alunas.

Esse descrédito que é dado às vítimas de abuso é comum, muitas vezes justificado como uma piadinha. Acaba sendo uma artimanha facilmente desculpável, porque era exatamente isso — uma piada — e você tem que rir junto, senão é taxada de chata sem senso de humor. Pode parecer pouco, mas quando é você que sofre a pressão, é fácil se convencer que pode ter exagerado mesmo, era só uma piada, né?

Essa situação não é estranha a Larissa, que no colégio era próxima de um grupo de meninos que faziam várias “brincadeiras” com as colegas. Uma delas, cita Larissa, era assobiar para as meninas quando elas saiam ou entravam na sala durante a aula, e, consequentemente, elas tinham vergonha de levantar para não passar por isso.

Outras atitudes similares também eram frequentes: “Chamar a menina de puta ou vagabunda na cara dela como se fosse brincadeira… E todo mundo ria, inclusive a menina. Era uma situação bem desconfortável”, afirma Larissa. Brincadeiras essas que de engraçado não têm nada, mas que se você não ri junto, é excluída e considerada a chata, são extremamente comuns entre os alunos. Quem nunca viu ou passou por algo parecido?

Talvez, o pior dessa situação são aquelas clássicas desculpas “é brincadeira de menino” ou “meninos são imaturos”. Isso não é questão de imaturidade ou de humor, é falta de respeito e assédio. Isso mesmo, assédio.

Mas ninguém gosta de usar essa palavra, não é mesmo?

É mais fácil falar que o seu professor só estava sendo atencioso, que seu colega estava brincando, que você entendeu errado, que você não tem provas disso, que você está querendo chamar atenção. É muito mais fácil isso a admitir: sim, você foi assediada, vamos fazer alguma coisa a respeito.

*Nome falso, a entrevistada preferiu não se identificar.

Originally published at www.siteladom.com.br on December 3, 2015.

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