Gaga: Five Foot Two mostra intimidade, medos e força de Lady Gaga

Vanessa Panerari
Lado M
Published in
4 min readSep 25, 2017

Quando Lady Gaga cancelou sua participação no Rock in Rio 2017, seus fãs ficaram desolados. Seu show faria a abertura do evento e teve que ser substituído pela banda Maroon 5. Pelo twitter, ela se desculpou e explicou que não poderia vir por motivos de saúde.

Uma semana depois, a Netflix lança o documentário Gaga: Five Foot Two. A produção acompanha a cantora durante o lançamento de seu quinto álbum, Joanne, e dos preparativos para sua apresentação no intervalo do Super Bowl. É a partir desse filme que podemos ter contato com uma Lady Gaga por Lady Gaga. A mulher que é muito mais do que a personagem exótica que construiu no passado. A mulher que luta contra uma dor que a acompanha diariamente e que, com alguma frequência, a faz cancelar compromissos.

A força que Gaga demonstra está em suas motivações, em suas dores, seus conflitos e medos.

Gaga: Five Foot Two

No começo do documentário, Gaga já afirma que não tem mais paciência com “bobagens de macho”. “Não dou a mínima. Não sei se é porque tenho 30 anos e nunca me senti tão bem. Todas as minhas inseguranças sumiram. Não me sinto insegura como mulher”, declara.

A cantora também é questionada sobre uma polêmica apresentação no VMA. Ela conta: “a metodologia por trás do que eu fiz é que, quando queriam que eu fosse sexy, ou que fosse cantora pop, eu fazia uma reviravolta absurda que me dava a sensação de estar no controle. Se eu vou aparecer sexy nos VMAs e cantar sobre paparazzi, farei isso sangrando até morrer, lembrando vocês do que a fama fez com Marilyn Monroe”.

Ainda sobre ser uma artista mulher, Gaga revela que, na esmagadora maioria das vezes, os produtores homens acham que são a razão de existir da carreira de uma artista. Segundo ela, houve tantos homens em sua vida, nos negócios e em relacionamentos, que ela chegava a pensar que sozinha não era boa o suficiente.

Joanne

Além de precisar se afirmar como mulher num universo dominado por homens, a cantora também sentiu necessidade de se conectar mais consigo mesma. O resultado foi o álbum Joanne, que leva não só o seu nome do meio, mas também o da tia falecida com 19 anos. É uma homenagem a sua própria luta, ao seu pai e a sua avó, protagonista de um dos momentos mais emocionantes do filme.

Essa decisão lhe exigiu muita coragem. Ela precisou encarar o conflito entre ser quem é e quem os fãs e a mídia gostariam que ela fosse. Foi necessário desconstruir a imagem da mulher que usava figurinos extravagantes e causava polêmicas para se reapresentar perante o público.

Joanne, quinto álbum de Lady Gaga

Dores

Ao mesmo tempo que encara a mudança, Gaga luta contra dores terríveis. Elas começaram com uma fratura no quadril, em 2012, durante a turnê Born This Way. No documentário podemos ver as crises de dor que, de acordo com a cantora, costumam acontecer quando ela está deprimida.

Gaga descreve as dores que sente, como é ter que conviver com medicamentos todos os dias e trabalhar com as limitações de seu corpo durante as apresentações e gravações de clipes.

A cantora também demonstra se sentir frustrada por acreditar que não consegue administrar todos os aspectos de sua vida de maneira satisfatória. Ela convive com o medo de ficar sozinha e de que os homens não saibam lidar com seu sucesso.

Lady Gaga em tratamento para as dores

Por trás da fama há uma pessoa

As ações de Gaga revelam uma pessoa muito preocupada com a carreira. Mas não apenas isso: ela é extremamente afetuosa e engajada com o que acredita. Perceber sua relação com a família, com a equipe e consigo mesma é muito bonito.

Ao mesmo tempo em que o documentário é íntimo, ele nos mostra uma artista para além da glamourização da fama. Ele nos traz Lady Gaga do jeito mais humano e cru possível. A todo momento, o público vê a cantora tendo a liberdade de olhar para a câmera e nos contar sua história. Nada invasivo ou distante. Essa escolha transmite um recorte honesto sobre o que estamos assistindo.

Assim, Gaga: Five Foot Two nos presenteia com uma narrativa completa sobre a grande artista que é Lady Gaga. Desde seu cotidiano em casa, trabalhando como cantora ou como atriz, até sofrendo, se emocionando, sorrindo e vivendo a fama. Gaga pode ser considerada uma artista completa porque é também um ser humano completo, e é necessário que a vejamos assim.

Trailer

Originally published at www.siteladom.com.br on September 25, 2017.

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